No dia 19 de Junho de 1966, em Liverpool - Inglaterra...
Vicente, no seu estilo tímido e simples ("pezinhos de lã"), eficiente mas não isento de técnica, correu km “perseguindo” Pelé não deixando que este pusesse “pé em ramo verde”, de tal modo, que os jornalistas brasileiros o apelidaram de o “algoz”.
A imprensa desportiva brasileira, na sua melhor tradição de sobrevalorização das suas cores e deusificação dos seus atletas, deixou claro, para todo o sempre, que Vicente foi o carrasco e Pelé a vitima, “esquecendo”, entretanto, que este estava preso por arames desde da "batalha campal" que tinha sido o jogo do Brasil contra a Bulgária.
Resumos cinematográficos (...de origem brasileira), do jogo Brasil – Portugal, a contar para a fase final do Campeonato do Mundo de 1966, mostram, de uma forma continuada, Vicente a fazer cortes a “rasar”.
Porém, numa análise desprovida de paixão, verificasse que as “entradas” eram dentro da legalidade mas nem por isso, as imagens deixam de criar a ideia (errada) de um massacre às pernas do Mítico Craque.
No entanto, admitimos que se na época existisse a amostragem de cartões, o nosso Vicente não se safaria de um amarelo.
A montagem é de tal modo, que dá inclusive a ideia que o “golpe” fatal foi perpetuado por Vicente quando na verdade o autor foi José Morais.
Ou por não achar importante ou até por lhe ser conveniente - sim, os Génios também gostam da vitimização... -, Pelé (que não era um exemplo de jogar limpo e, que entre outros "golpes", estava sempre pronto para a cotovelada), não só não desmentiu como nunca esclareceu de uma forma clara e inequívoca a “inocência” de Vicente.
Daí, saltamos facilmente para o âmbito da lenda: Vicente “secou” Pelé porque se fartou de dar pancada sob a complacência do árbitro ou Vicente "meteu" Pelé no "bolso"...
A coisa afinal foi bem mais prosaica: Pelé, nos cinco (5) jogos disputados anteriormente entre as selecções da lusofonia, nunca fez grandes exibições devido à competente marcação de Vicente.
No Mundial de 1966, com a eliminação à vista, o técnico brasileiro teve necessidade, por tudo o que ele representava, de alinhar com Pelé apesar deste estar debilitado fisicamente.
Vicente, como era seu timbre, não se amedrontou e disputou cada jogada com astúcia, vigor redobrado e acima de tudo a raça que era apanágio da "escola" Belenense, transmitindo o recado para o resto da equipa: deste trato eu!
Em suma: nem Pelé foi vitima nem Vicente foi carrasco, foram simplesmente, cada um na sua dimensão individual, dois extraordinários intérpretes do jogo mais belo criado, até hoje, pela humanidade: o Futebol.
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