Parece que a liga portuguesa, sempre disposta a inovar, decidiu que a próxima época deveria incluir alguma batota como forma de ajudar, coitados, os já de si pouco beneficiados “três grandes”.
Assim, surge a proposta de impedir a realização de derbys nas quatro primeiras jornadas ou clássicos em jornadas consecutivas.
O que basicamente introduz um dado novo ao conceito de sorteio. Supostamente um sorteio seria uma questão de sorte ou azar.
Agora a liga decide alterar isso para instituir que alguns clubes não podem ter um calendário difícil no arranque da época.
Os outros, que provavelmente até gostariam de começar o campeonato pelos jogos mais acessíveis, como forma de cimentar um plantel em construção e dar tempo aos reforços para se ambientarem, podem jogar com os chamados “grandes” logo no arranque que à liga isso pouco importa.
É uma intromissão clara nas regras do jogo e uma alteração muito séria naquilo que deveria ser o princípio base da competição: Condições iguais para todos e no fim que ganhe o melhor.
Mais há mais. Concentremo-nos, por exemplo, no entendimento (vale sempre a pena recordar que foi esta liga que decidiu dar uma interpretação muito própria à expressão goal-average) daquilo que são derbys ou clássicos.
É que a julgar por aquilo a que sempre foram associadas as citadas expressões, então vou chegar à conclusão que o Belenenses não pode defrontar o Sporting e Benfica nas quatro primeiras jornadas e não pode realizar-se, por exemplo, um Belenenses – Académica seguido de um Belenenses – Porto.
Pois no primeiro caso tratam-se de jogos entre clubes da mesma cidade e com uma rivalidade associada (derbys) e no segundo estão em causa clássicos do futebol português. Obviamente que não é isto que a liga tem em mente.
O que é proposto é que os “três grandes” não possam defrontar-se nas quatro jornadas iniciais nem em jornadas consecutivas. Existe ainda outro aspecto particularmente curioso. Há mais uma medida que defende “intercalar de jogos em algumas regiões para evitar congestionamento”. Assim a liga defende que em Lisboa quando o Benfica joga em casa o Sporting tem necessariamente de jogar fora. E vice-versa. Mas não existe mais nenhum clube em Lisboa?
Ou o Belenenses já baixou de divisão apesar de ainda faltarem nove jornadas?
O mais curioso no meio disto tudo é não se terem escutado imediatamente vozes discordantes dos restantes clubes que não os “três”.
Espero que isso chegue na altura da votação em assembléia. A menos que achem piada ao papel de palhaços no circo que é o futebol cá do burgo.
Ontem, num programa de rádio, escutei um expert do futebol aplaudir as iniciativas, adiantando que deveria reduzir-se o número de clubes para – vou citar – “tornar o futebol português mais competitivo”, adiantando como exemplo o campeonato escocês no qual apenas competem doze emblemas na liga principal.
Ora tento em conta que na Escócia ora ganha o Celtic, ora ganha o Rangers, onde é que está a puta da competitividade nesse campeonato, caralho? A sério, eu qualquer dia passo-me.
2 comentários:
Excelente texto (como sempre) a pôr os pontos nos i´s . Isto para alguns devia ser um campeonato só com 6 equipas , também entravam o Benfica B o Porto B e o Sporting B , isto para haver mais derbys e outros quejandos.
Há ninguém descia era só o que faltava. Como dizia o Madaíl há clubes a mais ...eliminem-se esses chatos.
Pensávamos escrever acerca desta escandaleira. Já não é necessário. Este texto diz tudo, e di-lo muito bem. Amanhã vamos remeter para ele no FA Olivais.
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