O Que Diz Gennaro

O Belenenses podia ser actualmente um digno representante da filosofia tibetana.
Com tanto apelo à calma estou em crer que até o Dalai Lama se faria sócio.
Acontece que eu, desculpem lá a maçada, vou divergir do referido espírito até porque sempre tive um bocado de receio de malta que veste fatos cor de laranja. Geralmente é porque tramou alguma e foi dentro. E eu, vá lá saber-se porquê, ando preocupado.
Em Belém, se recuarmos um ano, lembramo-nos do “calma o treinador é novo e precisa de tempo”, do “calma os jogadores chegaram agora e estão a adaptar-se”, do “calma a direcção é nova deixem os homens trabalhar” e mais tarde do “calma que esta comissão de gestão vai levar o clube a bom porto”.
Mais adiante “calma que agora com o Pacheco é que é”, geralmente seguido daquela pérola do “anda Pacheco”, do “calma que os outros também vão perder pontos” e do “calma que vamos ganhar à Luz”.
É impressionante a forma como em Belém recusamo-nos a aprender com os erros cometidos.
O estágio vai bem adiantado e na defesa, sector onde na temporada passada a coisa assumiu contornos de tragédia, pouca coisa nova se vê.
O regresso de um Devic que pessoalmente não me deixou saudades ou a aposta num Rodrigo Arroz que nem sei o que vos diga. Sai o Baiano mas não entra lateral.
De resto, e voltando à filosofia da paz e amor, o Belenenses viu-se envolvido num sorteio cujos contornos há muito eram conhecidos e que em tempos aqui escrevi, para aceitar a coisa sem dizer palavra alguma.
A forma como ficámos na primeira divisão deu azo a todo o tipo de disparate na imprensa, com artigos intitulando o clube de “campeão da secretaria” (lembro-me concretamente de um do Correio da Manhã”) sem que o clube tenha feito ouvir a sua voz, apresentando, por exemplo, a enumeração dos casos onde a tal “secretaria” actuou contra nós.
O que remete para a política de comunicação sobre a qual não vou dizer nada pois seria chover no molhado. Excepto talvez que sei que existe pelo menos um sócio que fez chegar às duas últimas direcções do clube (a CG e esta) uma carta na qual colocava ao serviço do clube a sua formação na área, apresentando um projecto concreto, e acabou a ser ignorado. Das duas vezes. Pelo que sei nem um “continua a mandar postais” nem um “esta ideia não nos agrada”. Simplesmente nenhuma palavra.
E portanto, mais uma vez como no passado, a comunicação vai fazendo-se através dos blogues. Não há aprendizagem com os erros passados nem há, infelizmente, qualquer visão de futuro. Porque não nos vamos enganar.
Existe quem tenha ficado satisfeito com a queda do Estrela pois permitiu ao Belenenses ocupar o seu lugar.
Mas a verdade é que devíamos ficar preocupados.
É que “ontem” foi o Salgueiros e o Farense, “hoje” o Estrela, provavelmente “amanhã” o Setúbal ou o Estoril.
E nós pelo mesmo caminho.
Que os clubes fora do sistema” mediático -comercial” não se juntem e dêem um murro na mesa que não é preciso. Vão continuando a aceitar as regras da liga feitas à medida de sabemos bem quem.
Porque uma coisa é certa: os clubes vão tendo tendência a encerrar portas muito por culpa do futebol negócio, é certo, mas verdade seja dita também não fazem muito pela vida.


  • Gennaro, era o editor do Blogue "Alternativa Belém". Actualmente escreve no "Belenenses Ilustrado" quando lhe apetece.

2 comentários:

Belém disse...

Completamente de acordo! Bom texto! (eu por acaso gosto de tibetanos...)

nogas disse...

Como sempre o Belém continua a dar tiros nos pés !