Matateu em FPF.pt: Paixão do povo, vida de excessos
O benfiquista Artur Santos, o árbitro Hermínio Soares e o belenense Benitez observam a "oitava maravilha" em plena acção.
"Matateu foi, e continua a ser, mesmo após a sua morte, um extraordinário caso de popularidade. E, no entanto, foi já com 24 anos que chegou a Portugal continental, vindo da sua Lourenço Marques natal onde jogara no João Albasini, no 1º de Maio e no Manjacaze, clube da companhia em cujos escritórios trabalhava. O destino foi Lisboa e o Belenenses. Mas havia muitos pretendentes, como o Benfica, o FC Porto ou o União de Coimbra.
Homem simples, simpático, cordial, rapidamente conquistou o coração dos adeptos. De alguma forma pode dizer-se que Matateu foi o «Garrincha de Portugal», tal a afeição popular que lhe foi devotada. A Matateu, como a Garrincha, se atribuíram uma infinidade de episódios caricatos, também Matateu teve a fama de mulherengo, de vida desregrada, amante da cerveja e das noites de Lisboa. O seu estilo de jogador, plástico, fotográfico, foi decisivo para espalhar a sua fama pelos quatro cantos do país. Rápido a executar, felino nos movimentos, resistente ao choque e à violência contrária, rematador por excelência, Matateu terá sido o jogador português mais temível no espaço restrito da grande-área.
Em Setembro de 1951, frente ao Sporting, estreou-se na I Divisão com a camisola azul da Cruz de Cristo. Dois golos na vitória por 4-3 e uma saída aos ombros dos adeptos lançou Matateu para o apaixonado abraço de um país que o tomou como ídolo durante uma década.
De 1951 a 1959, Matateu marcou 195 golos no Campeonato Nacional, foi por duas vezes «Bola de Prata» (1952-53 e 1954-55), e só não foi campeão nacional por quatro minutos, no célebre empate do Belenenses com o Sporting, na última jornada da época de 1954-55 (2-2) que deu o título ao Benfica, jogo no qual viu um golo anulado para tão grande desespero de todos quantos enchiam o Estádio das Salésias.
Figura imensa do futebol português, Matateu não conseguiu na Selecção Nacional a mesma unanimidade que recolhia nas disputas clubísticas. Verdade é que viveu uma das fases mais negativas da equipa das quinas e, nas primeiras onze «internacionalizações» não foi além de dois golos apontados. O seu dia de glória com a camisola dos escudos azuis foi nas Antas, em Maio de 1955, numa retumbante vitória sobre a Inglaterra (3-1), a primeira, na qual marcou um golo e realizou uma exibição soberba. Esteve à beira de seguir para o Luxemburgo e para Londres, na deslocação da Selecção Nacional que marcava a fase decisiva do apuramento para o Mundial de 1962, mas uma lesão deixou-o arreliadoramente fora de combate. E Peyroteo, o Seleccionador Nacional, não cumpriu o sonho de o juntar a Eusébio e a José Águas na frente de ataque de Portugal. Matateu costumava chamar «filho» a Eusébio. Mas nunca jogariam lado a lado.
A vitória na Taça de Portugal, aos 33 anos, era o «canto do cisne» de uma carreira fantástica. Os golos começaram a rarear, as lesões surgiram, partiu uma perna numa digressão do Belenenses a Nova Iorque, foram sendo públicos os conflitos com treinadores e dirigentes do clube. Aos 37 anos muda-se para a Tapadinha e para o grande rival Atlético. Treinado por José Águas, ajuda os alcantarenses a regressarem à I Divisão. Mas os tempos eram outros. Matateu arrasta-se no Gouveia, no Amora e no Chaves, perdido em divisões secundárias até aos 42 anos. Depois jogou no First Portuguese, de Toronto. Encontrou no Canadá o lugar indicado para o sossego propício a um final de vida."
Texto retirado daqui
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