9 de Abril de 1934 - 4 de Fevereiro de 2007
Júnior: 1951/52 e 1952/53 - Sénior: 1953/54 até 1960/61 - Treinador: 1967/68 e 1976/77
[...] Carlos Francisco Santos da Silva: nascido em Lisboa no dia 9 de Abril de 1934. Rezam as crónicas de quem o viu jogar, no Belenenses, na CUF ou no Sintrense, que intratável era o adjectivo que melhor encaixava nas suas características. Ele sempre se defendeu da acusação. Que era duro, isso sim, mas nunca violento. E que nunca lesionou gravemente nenhum companheiro de profissão. Não custa acreditá-lo. Apesar do seu feitio brincalhão, Carlos Silva não mente. «Havia, no meu tempo no Belenenses, jogadores massacrados pelos adversários, como era o caso de Matateu. Eu limitava-me a ir em defesa dos companheiros»…
O seu tempo de Belenenses foi de 1951 a 1961. Como jogador das primeiras categorias, claro! Seria caso para dizer que o seu tempo de Belenenses foi a vida toda. O Belenenses já era a paixão de seu pai, e Carlos Silva chegou às Salésias com apenas 17 anos. Há diferenças entre paixão e mister: o futebol podia ser a sua paixão, mas o seu ofício era o andebol. De 11, como se usava então. E Carlos Silva vinha do Benfica, campeão nacional da modalidade. Dois nomes entram aqui: Augusto Silva e Rodolfo Faroleiro. Foram eles que o trouxeram para outro desporto de 11 contra 11. Este com a bola jogada com os pés.
Se lhe perguntam qual foi o momento mais extraordinário que viveu ao longo de toda uma vida dedicada ao futebol, Carlos Silva responde: «Todos os que vivi aqui, na Selecção Nacional, e todos os que vivi no Olhanense. Porquê? Pela amizade, pela fraternidade, pelo ambiente de carinho que me envolveu, por tudo aquilo que aprendi…» Mas lembra-se também de um triunfo mágico: «Na final da Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa, em 1960. Vencemos o Benfica por 5-0 e eu estava encarregado de marcar o Germano que era, à época, uma das grandes figuras do futebol português. Mas as coisas correram-nos tão bem que, a partir do 2-0 já não prestava atenção ao Germano e queria era jogar e atacar como os meus companheiros. Ah! E esse Benfica foi, depois, Campeão Europeu».
Cedo chegou a «capitão» de equipa: algo próprio de uma personalidade que se impõe.
Era jovem, muito jovem, mas capitaneava grandes nomes do futebol português como os manos Matateu e Vicente. Por ambos, Carlos Silva nutre uma amizade imensa. Por ambos, Carlos Silva sente a admiração devida a grandes jogadores. «Matateu? Dentro da grande área foi dos melhores jogadores de todos os tempos. Talvez o maior! Atenção que eu digo ‘dentro da área’… Tinha um instinto goleador extraordinário, era uma verdadeira força da natureza. Como jogador de equipa era péssimo. Precisava de ter todos os companheiros a jogarem para ele. E nós fazíamo-lo com todo o gosto porque, se assim fosse, ele resolvia os jogos. O Matateu foi um marcador de golos como nunca vi igual». Fala alguém com autoridade para o fazer desta forma desassombrada.
Que ninguém se esqueça: Carlos Silva jogou contra muitos dos maiores génios da História do Futebol. Ele mesmo desfia o rol: «Pelé, Kopa, Fontaine, Cocsis, Csibor, Gento, Rial, Di Stéfano, Kubala… e outros de valor idêntico em Portugal, como Travassos, Eusébio, Vasques, Peyroteo, Jesus Correia…» E quem não sabe que fique sabendo: Carlos Silva assistiu, dentro de campo, à estreia de um menino de 16 anos que dava pelo nome de Edson Arantes do Nascimento. Nelson Rodrigues, grande cronista brasileiro, dizia: «Por extenso, Pelé!»
Foi no Brasil, numa digressão de uma equipa formada por jogadores do Belenenses e Vitória de Setúbal que defrontou um combinado de Santos e Vasco da Gama. Os portugueses foram goleados e o menino Pelé pintou a manta. Poucos dias depois estreava-se pelo Brasil num escaldante jogo frente à Argentina. «O Brasil estava a perder, Pelé saltou do banco e foi ele que marcou o golo do empate», conclui Carlos Silva.
Entre vitórias e derrotas. Entre momentos felizes e horas tristes. Carlos Silva não esquece o Campeonato Nacional perdido para o Benfica a quatro minutos do fim. Corria o ano de 1955. E não esquece igualmente um Campeonato Nacional de juniores perdido para o FC Porto dois anos antes. Ele sabe como se ergue um jogador do desânimo da derrota e se lhe incute a vontade de vencer.
Como vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol para a área do futebol profissional, Carlos Silva acompanha a Selecção Nacional-Clube Portugal há cerca de seis anos. «É verdade que esta equipa, por exemplo, sofreu um duro revés com a derrota na final do Euro 2004. Mas as derrotas, às vezes, fazem-nos ter ânimo para ir à procura de outras vitórias. Temos aqui jogadores muito experientes, habituados a ganhar e a perder e a ganhar outra vez. E a prova dessa maturidade esteve no apuramento para o Mundial 2006 que foi feito de uma forma tranquila por um conjunto de jogadores que souberam transformar essa derrota contra a Grécia num trampolim para novas conquistas». É bom ouvi-lo. Há nas suas palavras o optimismo dos jovens de espírito.
Por uma vez foi responsável máximo da Selecção Nacional de sub-21. «O técnico era o José Augusto, mas por via de uma ausência dele sentei-me no banco como responsável máximo num Portugal-Itália. Vencemos por 1-0, algo que, contra a Itália, deve ser motivo para orgulho. E nessa equipa jogava o Eusébio. Fui, por isso, seu treinador. Como fui seu mestre no curso de treinadores, muitos anos mais tarde».
Foi secretário-técnico do Belenenses, responsável pelo nascimento do Juventude de Belém, a equipa B do Belenenses, presidente da Assembleia Geral do Sindicato de Treinadores e, através dele, acedeu à Direcção Técnica Nacional. O passo seguinte foi a vice-presidência da Federação Portuguesa de Futebol, tendo a seu cargo a área das Selecções Nacionais.
Quando se lhe pede para falar de treinadores que o marcaram, não hesita: «Fernando Riera! Sem dúvida! Era um treinador extraordinário. Todos nós, jogadores, amávamos aquele homem. Por ter sido um extraordinário jogador, ensinava-nos tecnicamente movimentos dos quais nunca nos tínhamos lembrado. Tinha uma metodologia de treino fantástica o que fazia com que as sessões de treino fossem variadas e divertidas. Além disso era um ser humano de grande sensibilidade, capaz de criar um ambiente de muita proximidade entre todos. Nesse aspecto posso compará-lo ao nosso Seleccionador Nacional, Luiz Felipe Scolari».
Carlos Silva: devíamos ouvi-lo mais vezes. O mundo infinito de episódios que pairam na sua memória, valem por muitas páginas de jornais. Um deles, é preciso recordá-lo aqui: foi Carlos Silva que lançou, em Portugal, há cerca de vinte anos, a ideia peregrina de que os guarda-redes não deviam poder tocar com as mãos a bola que lhe fosse atrasada intencionalmente pelos pés de um companheiro. Provavelmente, houve quem considerasse a proposta estapafúrdia. O tempo deu-lhe razão. E o tempo fez dele um homem feliz: «Claro! Estou aqui, vejo a bola saltar, estou junto dos jogadores e da relva. É disto que eu gosto. Não sou rato de gabinete…»[...] texto e foto de 2006 retirados daqui
Festejando o 26º aniversário de Carlos Silva: Pires, Rosendo, Estevão, Otto Glória, Carlos Silva, Nascimento, Mário Paz, Yaúca, Dimas entre outros não identificados.
O seu tempo de Belenenses foi de 1951 a 1961. Como jogador das primeiras categorias, claro! Seria caso para dizer que o seu tempo de Belenenses foi a vida toda. O Belenenses já era a paixão de seu pai, e Carlos Silva chegou às Salésias com apenas 17 anos. Há diferenças entre paixão e mister: o futebol podia ser a sua paixão, mas o seu ofício era o andebol. De 11, como se usava então. E Carlos Silva vinha do Benfica, campeão nacional da modalidade. Dois nomes entram aqui: Augusto Silva e Rodolfo Faroleiro. Foram eles que o trouxeram para outro desporto de 11 contra 11. Este com a bola jogada com os pés.
Se lhe perguntam qual foi o momento mais extraordinário que viveu ao longo de toda uma vida dedicada ao futebol, Carlos Silva responde: «Todos os que vivi aqui, na Selecção Nacional, e todos os que vivi no Olhanense. Porquê? Pela amizade, pela fraternidade, pelo ambiente de carinho que me envolveu, por tudo aquilo que aprendi…» Mas lembra-se também de um triunfo mágico: «Na final da Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa, em 1960. Vencemos o Benfica por 5-0 e eu estava encarregado de marcar o Germano que era, à época, uma das grandes figuras do futebol português. Mas as coisas correram-nos tão bem que, a partir do 2-0 já não prestava atenção ao Germano e queria era jogar e atacar como os meus companheiros. Ah! E esse Benfica foi, depois, Campeão Europeu».
Cedo chegou a «capitão» de equipa: algo próprio de uma personalidade que se impõe.
Era jovem, muito jovem, mas capitaneava grandes nomes do futebol português como os manos Matateu e Vicente. Por ambos, Carlos Silva nutre uma amizade imensa. Por ambos, Carlos Silva sente a admiração devida a grandes jogadores. «Matateu? Dentro da grande área foi dos melhores jogadores de todos os tempos. Talvez o maior! Atenção que eu digo ‘dentro da área’… Tinha um instinto goleador extraordinário, era uma verdadeira força da natureza. Como jogador de equipa era péssimo. Precisava de ter todos os companheiros a jogarem para ele. E nós fazíamo-lo com todo o gosto porque, se assim fosse, ele resolvia os jogos. O Matateu foi um marcador de golos como nunca vi igual». Fala alguém com autoridade para o fazer desta forma desassombrada.
Que ninguém se esqueça: Carlos Silva jogou contra muitos dos maiores génios da História do Futebol. Ele mesmo desfia o rol: «Pelé, Kopa, Fontaine, Cocsis, Csibor, Gento, Rial, Di Stéfano, Kubala… e outros de valor idêntico em Portugal, como Travassos, Eusébio, Vasques, Peyroteo, Jesus Correia…» E quem não sabe que fique sabendo: Carlos Silva assistiu, dentro de campo, à estreia de um menino de 16 anos que dava pelo nome de Edson Arantes do Nascimento. Nelson Rodrigues, grande cronista brasileiro, dizia: «Por extenso, Pelé!»
Foi no Brasil, numa digressão de uma equipa formada por jogadores do Belenenses e Vitória de Setúbal que defrontou um combinado de Santos e Vasco da Gama. Os portugueses foram goleados e o menino Pelé pintou a manta. Poucos dias depois estreava-se pelo Brasil num escaldante jogo frente à Argentina. «O Brasil estava a perder, Pelé saltou do banco e foi ele que marcou o golo do empate», conclui Carlos Silva.
Entre vitórias e derrotas. Entre momentos felizes e horas tristes. Carlos Silva não esquece o Campeonato Nacional perdido para o Benfica a quatro minutos do fim. Corria o ano de 1955. E não esquece igualmente um Campeonato Nacional de juniores perdido para o FC Porto dois anos antes. Ele sabe como se ergue um jogador do desânimo da derrota e se lhe incute a vontade de vencer.
Como vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol para a área do futebol profissional, Carlos Silva acompanha a Selecção Nacional-Clube Portugal há cerca de seis anos. «É verdade que esta equipa, por exemplo, sofreu um duro revés com a derrota na final do Euro 2004. Mas as derrotas, às vezes, fazem-nos ter ânimo para ir à procura de outras vitórias. Temos aqui jogadores muito experientes, habituados a ganhar e a perder e a ganhar outra vez. E a prova dessa maturidade esteve no apuramento para o Mundial 2006 que foi feito de uma forma tranquila por um conjunto de jogadores que souberam transformar essa derrota contra a Grécia num trampolim para novas conquistas». É bom ouvi-lo. Há nas suas palavras o optimismo dos jovens de espírito.
Por uma vez foi responsável máximo da Selecção Nacional de sub-21. «O técnico era o José Augusto, mas por via de uma ausência dele sentei-me no banco como responsável máximo num Portugal-Itália. Vencemos por 1-0, algo que, contra a Itália, deve ser motivo para orgulho. E nessa equipa jogava o Eusébio. Fui, por isso, seu treinador. Como fui seu mestre no curso de treinadores, muitos anos mais tarde».
Foi secretário-técnico do Belenenses, responsável pelo nascimento do Juventude de Belém, a equipa B do Belenenses, presidente da Assembleia Geral do Sindicato de Treinadores e, através dele, acedeu à Direcção Técnica Nacional. O passo seguinte foi a vice-presidência da Federação Portuguesa de Futebol, tendo a seu cargo a área das Selecções Nacionais.
Quando se lhe pede para falar de treinadores que o marcaram, não hesita: «Fernando Riera! Sem dúvida! Era um treinador extraordinário. Todos nós, jogadores, amávamos aquele homem. Por ter sido um extraordinário jogador, ensinava-nos tecnicamente movimentos dos quais nunca nos tínhamos lembrado. Tinha uma metodologia de treino fantástica o que fazia com que as sessões de treino fossem variadas e divertidas. Além disso era um ser humano de grande sensibilidade, capaz de criar um ambiente de muita proximidade entre todos. Nesse aspecto posso compará-lo ao nosso Seleccionador Nacional, Luiz Felipe Scolari».
Carlos Silva: devíamos ouvi-lo mais vezes. O mundo infinito de episódios que pairam na sua memória, valem por muitas páginas de jornais. Um deles, é preciso recordá-lo aqui: foi Carlos Silva que lançou, em Portugal, há cerca de vinte anos, a ideia peregrina de que os guarda-redes não deviam poder tocar com as mãos a bola que lhe fosse atrasada intencionalmente pelos pés de um companheiro. Provavelmente, houve quem considerasse a proposta estapafúrdia. O tempo deu-lhe razão. E o tempo fez dele um homem feliz: «Claro! Estou aqui, vejo a bola saltar, estou junto dos jogadores e da relva. É disto que eu gosto. Não sou rato de gabinete…»[...] texto e foto de 2006 retirados daqui
Festejando o 26º aniversário de Carlos Silva: Pires, Rosendo, Estevão, Otto Glória, Carlos Silva, Nascimento, Mário Paz, Yaúca, Dimas entre outros não identificados.
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