Intervenção da força armada na expulsão do jogador Cesar de Matos
Ex.mo Sr. Presidente do Comité Executivo do Campeonato de Portugal,
Em nome do Club Foot-Ball Os Belenenses vimos expôr ao justo e imparcial critério de V. Ex.ª os factos anormaes sucedidos durante o encontro realisado no ultimo domingo 13 de Maio de 1928 no Campo das Amoreiras entre o nosso Club e o Victoria Foot-Ball Club, esperando que nos seja feita justiça, a que nos julgamos com direito.
O jogo teve início ás treze horas e sete minutos e, logo na 2ª avançada - talvez 2 minutos - o nosso interior esquerdo José Manoel Soares marca o primeiro goal.
Veio a bola ao centro e o jogo continua normalmente até que ás treze horas e vinte e cinco minutos apoz o início do desafio o nosso jogador Cesar que dentro da grande área disputava a bola a um jogador adversário lançou-a para corner em ultimo recurso.
Os jogadores do Victoria e o publico, este em altos brados, pedem a marcação d'uma grande penalidade. O arbitro faz signal ao Juiz de Linha perguntando a sua opinião, este aponta com a bandeira para corner e o arbitro confirma imediatamente mandando pôr a bola no canto.
Então os jogadores do Victoria, apoiados pelo publico, insistem na marcação do castigo maximo e o arbitro manda colocar a bola na marca da grande penalidade.
Deu-se nesta ocasião um desagradável incidente com o nosso jogador Cesar, que, em presença da injustiça com que o seu Club estava sendo tratado, não soube dominar os nervos e desrespeitou o Juiz de Campo, procedimento este que muito nos contraria e merece a nossa completa reprovação, só admirando e até lastimando que aquele Sr. o não tivesse logo expulsado do campo, pois que talvez se evitassem as desagradaveis scenas seguintes.
Só passado cinco minutos o jogo recomeçou, isto é, ás treze horas e trinta minutos, para ser interrompido ás treze horas e trinta e cinco, devido a ter-se estabelecido um conflito entre o jogador Cesar e o publico, motivado por injurias e ameaças que da bancada dos socios titulares do Sport Lisboa e Benfica foram dirigidas aos nossos jogadores.
Amainado o conflito com intervenção da força armada e expulso o jogador Cesar o jogo recomeçou, para logo ser interrompido ás treze horas e quarenta minutos por haver novo conflito entre os jogadores e nova intervenção da força armada.
O arbitro abandonou o campo declarando não continuar a arbitrar, mas voltou a recomeçar o jogo ás quatorze horas e quinze minutos, e ás quatorze horas e vinte minutos deu por terminada a primeira parte, mandando imediatamente trocar os campos e continuar o jogo, visto que, de acordo com os dois capitães, estava resolvido não haver intervalo regulamentar, para não demorar os jogos seguintes.
A segunda parte decorreu normalmente.
Depois de terminado o jogo fomos informados por pessoas que nos merecem a maior confiança e cujos nomes adiante mencionaremos, d'um facto, que provando se ser verdadeiro merecerá a nossa maior repulsa e certamente a de todos os verdadeiros desportistas, pois ele representa uma deslealdade do nosso adversário para com nosco e para com o arbitro do jogo, visto que foi iludida a boa fé deste Sr. e do nosso jogador Augusto Silva, capitão do nosso team.
continua .../...
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