Mostrar mensagens com a etiqueta Pama (Francisco Carlos Pama). Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pama (Francisco Carlos Pama). Mostrar todas as mensagens

O Belenenses na Alemanha do Pós II Guerra Mundial

Dortmund, 1950. Na foto: Palma Soeiro, Pama (massagista), Caetano e Narciso.
" (...) devo dizer-lhe que vi muito pior do que isso". Joaquim Caetano

Um Clube Lisboeta na Alemanha
O PRIMEIRO JOGO DO BELENENSES TEVE
POR TEATRO UMA CIDADE DEVASTADA PELA GUERRA

"(...) o cabeçalho de Jornal referente ao primeiro jogo do Belenenses na Alemanha, frente ao Hamburgo, derrota 6-1 (...)" Documentos históricos enviados pelo Amigo do BI, Joaquim Caetano.

A entrevista de Ricardo Perez à revista "Crónica Desportiva"

📸O maior golpe da sua carreira desportiva: o Belenenses perdeu o campeonato nos últimos minutos da pugna. O massagista Pama e o médico dr. Silva Rocha tentam consolar o argentino que sofre como um belenense de gema.


(...) Estávamos sentados na larga varanda de um dos cafés da Baixa, desdobrando-se a praça do rossio sob os nossos olhos.
Foi assim num ambiente bem lisboeta que Ricardo Perez nos contou a sua história - recordando largos trechos passados na longínqua Argentina.
- Nasci em La Plata, a 30 quilómetros de Buenos Aires - começou por nos dizer, acedendo ao nosso convite para nos fazer uma breve autobiografia. (...)
(...) Como surgiu a ideia de vir para Portugal?
- A história da minha vinda para o Belenenses é simples: Zozaia esteve em Portugal, como sabe, e quando regressou à argentina levava o encargo de arranjar dois jogadores para o Belenenses, segundo pedido do seu amigo Calixto Gomes.
E continuou:
- Zozaia, que era "persona grata" no Estudiantes pediu aos directores do clube para que me dispensassem, tendo também convidado Benitez.
- O Estudiantes acedeu...
- Sim, dispensou-me por duas épocas, mas lá os convenci a ficar completamente livre, isto é, a não fazer um "contra-passe", que me qualificasse de novo, passados os dois anos. Como tinham muitos jogadores, deram-me completa liberdade.
- Como encarou a família o convite para vir para Portugal ?
- Minha mãe não queria. Mas meu irmão concordou comigo em que estava em boa idade para procurar outro rumo na vida e viajar. E assim foi..
- Em que condições ingressou no Belenenses ?
- Contrato por duas épocas, 30 contos em cada, e ordenado mensal de 30 mil escudos.
(Comparem-se estas cifras com as ultimamente citadas e verificar-se-à que o Belenenses fez bom negócio...)
- Lembra-se da sua estreia no Belenenses ?
- Foi contra o Benfica no Estádio Nacional. Ganhámos por 1-0 (golo de Matateu). Joguei contraído, com medo das coisas me correrem mal. Bem vê, nunca tinha saído da argentina e tinha apenas 21 anos...
- Que impressões lhe suscitou então o nosso futebol ?
- Logo me pareceu de bom nível.
- E confirmaram-se os seus receios ?
- A princípio não. Julgo que agradei, mesmo. Mais tarde atravessei um período de má forma. Foi Riera que me restituiu o moral e a boa condição física.
- Desde que se encontra em Portugal já foi assediado muitas vezes para mudar de clube?
- Convites formais, não unicamente, o Académico de Viseu me endereçou uma proposta para jogador-treinador, que não aceitei pois sou muito novo ainda para assumir um cargo desses e também porque o Belenenses tem continuado a interessar-se pelos meus serviços.
- Qual foi o seu melhor golo?
- O mais precioso foi contra o F.C. porto esta época, que nos valeu uma vitória. O mais bonito, em Braga. O Matateu deu-me a bola, de cabeça, parei-a com o peito, e depois apliquei-lhe um "bico" potentíssimo.
- Qual foi o melhor jogo da sua vida?
- Foi na época passada contra o Benfica, que ganhámos por 2-1.
- E a maior alegria?
- Quando "debutei" na I Divisão argentina e vencemos o Boca Juniores.
- A maior tristeza?
- Sem dúvida alguma, quando o Belenenses perdeu o campeonato há anos.
- E qual é o lugar que mais gosta de ocupar?
- Interior. Gosto de marcar golos, e jogando recuado não se pode marcar tantos, mas parece-me que jogo melhor atrás do que à frente.
- Como encara o recrutamento de um estrangeiro para o seu lugar habitual: Suarez ?!
- Julga-me preocupado por isso? estaria bem enganado. Para mim é um estímulo. Além de que, julgo haverá lugar para dois, se não em todos, pelo menos para muitos jogos. Suarez à frente, a avançado-centro e eu...
Interrompeu-se, quando se lembrou que estava a falar à imprensa, e disse:
- Bem, isso não é das minhas atribuições; é com o técnico do clube...
Mas é evidente que, nas íntimas cogitações, Perez está convicto que pode continuar a ser útil ao Belenenses, como interior recuado.
Todavia...será certo que Perez continuará no Belenenses? Renovará o clube de Belém como todos os anos, o contrato com o jovem avançado argentino?
- Ignoro-o ! - replicou-nos.
- E se não renovar, mudará de clube em Portugal ou regressará à Argentina?
- Na altura própria resolverei. Francamente, não tenho uma ideia assente sobre isso. Sabe, eu este ano, vou à Argentina....Vou à Argentina, porque estou já cheio de saudades da família, que não vejo há seis anos já! Aproveito a viagem do Belenenses ao Brasil, e depois dali a Buenos Aires, é um "pulo"...
- Voltará?
- Para o Belenenses, decerto. Se não renovar o contrato, entretanto, não sei, lá verei o rumo a seguir!
E todos nós ficamos na expectativa se voltaremos ou não a ver o simpático e dedicado futebolista belenense, Ricardo Perez.(...)

In "Crónica Desportiva" de 16/06/1957