"Um jornal que ambiciona ter uma função federadora em relação à população dever cuidar de não alienar os diversos grupos sociais"

(...) Quanto às apreciações de João Bonifácio sobre o clube do Restelo e o seu público, os protestos foram mais violentos. “Os Belenenses não merecem estas palavras vindas de ninguém, muito menos de um jornal como o PÚBLICO”, escreve João Carlos Silva, que, feito sócio do clube há 28 anos, quando era um garoto, rejeita o epíteto “velhinho”.
E diz José Manuel Anacleto, após anunciar ter deixado de ler o PÚBLICO por causa desta crítica: “A maneira como (...) se permitiram achincalhar um dos maiores clubes portugueses (...) e as suas largas de dezenas... de milhares de sócios e adeptos – nos quais me incluo –, não me permite olhar para o vosso jornal sem um sentimento de profunda repulsa”.
Outro anónimo é ainda mais duro: “Nem mesmo com pedido de desculpas do PÚBLICO voltarei a comprar esse ‘jornal’, que permite ter jornalistas como João Bonifácio”.
O sócio Tiago Pinho proclama: “Não pactuamos com desconstrutores da moral e exigimos que João Bonifácio se renda à clara e expressiva grandeza social e histórica da instituição que, infelizmente, ofendeu”.
Finalmente, entre outros, um sócio antigo, Álvaro Lopes da Cruz: “Tenho 74 anos e devo ser um dos ‘velhinhos’ a quem de forma tão mal educada esse senhor se dirige. Seria boa ideia que respeitasse os mais idosos e conhecesse a história do grande Belenenses, clube com 90 anos e por onde têm passado milhares e milhares de crianças e jovens”.
Alguns destes protestos, incluindo um da própria direcção do clube, foram também enviados à direcção do jornal, e no editorial já referido Nuno Pacheco admitia que “o Belenenses, pela sua história, actividade e prestígio, merece um público e sincero pedido de desculpas”, reassalvando porém que “a independência da crítica, desde que assinalada como tal, continuará a ser respeitada no PÚBLICO”.
O assunto poderia ser aqui encerrado, mas entretanto João Bonifácio, na resposta à solicitação do provedor para se pronunciar sobre os protestos, reivindica para si toda a razão.
Só essa resposta, bastante minuciosa, não caberia nesta página, e por isso a sua integralidade é remetida para o blogue do provedor, salientando-se aqui apenas os tópicos fundamentais: “Comparei o festival com o futebol do Belenenses pela razão óbvia: (...) os resultados do Belenenses nos últimos dois campeonatos foram fracos, e o festival que ali decorreu idem (na minha opinião). (...) Querer impedir que se façam comparações inesperadas num exercício crítico é querer impedir o humano de ser humano. (...) O Belenenses (...) é dos clubes com o estádio mais vazio. E é apenas a esse facto a que a frase ‘há duas dezenas de velhinhos nas bancadas’ se refere. (...) Não há nenhum insulto, antes uma brincadeira que eu diria mesmo carinhosa: o Belenenses é o meu segundo clube, desloco-me ao Restelo três ou quatro vezes por ano e na bancada central encontro sempre grande predominância de adeptos mais idosos.
Se eu usasse a expressão coloquial ‘meia-dúzia de adeptos’ já não seria ofensivo? (...) Haverá a mínima possibilidade de me concederem que pessoalmente considero a expressão ‘velhinhos’ carinhosa (...)? Será que a idade é ofensiva? (...) É óbvio que não há apenas duas dezenas de velhinhos no Restelo, mas alguém, por um segundo, não percebe o sentido da frase? (...) Não é por se tratar de cultura massificada que devemos ser condescendentes, apesar de ser essa a prática corrente. (...) Qualificar de ofensa o meu texto é pelo menos abusar da interpretação. (...) Lamento que o meu texto tenha ofendido alguns leitores, porém parece-me que não só é preciso aceitar toda uma diversidade de opiniões diferentes como também toda uma diversidade de registos. (...) Ao pedir desculpas a uma instituição que me chamou, numa carta em que se treslê o que escrevi, ‘boi’ e ‘cobarde’, o PÚBLICO está a vincular-se a esses insultos?”

Como o provedor já considerou noutras ocasiões, o PÚBLICO, que ambiciona claramente ter uma função federadora em relação à população portuguesa, deveria cuidar de não alienar os diversos grupos sociais com considerações gratuitas ou de mau gosto, eventualmente ofensivas. A responsabilidade não é de João Bonifácio, mas de um editor que deveria ter feito a leitura prévia do texto e chamar-lhe a atenção para uma passagem mais desprimorosa para os adeptos de um clube. Na esmagadora maioria dos casos, o redactor cai em si, muda o que tiver de ser mudado e o texto cumpre na mesma a sua função.


Pode ler o texto na íntegra clicando AQUI

1 comentário:

Anónimo disse...

Diz o texto :
é dos clubes com o estádio mais vazio. E é apenas a esse facto a que a frase ‘há duas dezenas de velhinhos nas bancadas’ se refere. (...) Não há nenhum insulto, antes uma brincadeira que eu diria mesmo carinhosa: o Belenenses é o meu segundo clube, desloco-me ao Restelo três ou quatro vezes por ano e na bancada central encontro sempre grande predominância de adeptos mais idosos.
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Pois segundo um estudo recente o Belenenses encontra-se em 7 lugar nas 32 equipas dos campeonatos profissionais, em numero de medio de espectadores.
Sem mais comentarios.
Paulo Castro