Um teste. Sugiro um teste. Mas não daqueles de cruzinhas. Quero uma coisa com perguntas de desenvolvimento.
Para os sucessivos cavalheiros que vão surgindo, ano após ano, nas listas para candidatos à direcção do meu clube.
Peça-se para explicar, em quatro ou cinco linhas, um momento que o tenha emocionado como adepto do Belenenses.
Não é uma questão de história. Não é para ir aos livros, que o teste não é com consulta. É assunto pessoal. Fale de um momento que o tenha emocionado nos seus dias de adepto. Um golo que tenha ficado gravado na memória. Um instante de revolta que não mais esqueceu. Aquela equipa que o apaixonou. E seja sincero. Não minta. Esqueça os slogans e as frases feitas.
Sabem, meus caros, é que eu tenho um problema. Julgo que a única coisa que me liga a este clube é a minha paixão irracional. A mesma que me faz chegar com mais de uma hora de atraso ao trabalho porque o jogo teve trinta penaltis e a minha paixão é incompatível com greves.
Que me faz escutar com atenção o meu pai falar dos tempos em que o meu tio vestiu a camisola azul, a mesma que hoje é usada sem vergonha por mercenários, ou que aquele senhor que ali está é o Vicente.
E dedico um pouco mais de atenção para o ouvir falar do Vicente que até nisso o clube parece ter pudor em mencionar. Infelizmente parece que esta paixão é algo que caminha num sentido apenas. De cá para lá.
Até mesmo quando recuso ser cúmplice com a degradação do clube e disponho-me para o ajudar no limite das minhas competências.
Ele permanece imóvel, estático e em silêncio. Ou quando vejo que aqui e ali ainda há motivos para celebrar.
Como no futsal onde encontro treinadores que se emocionou nas derrotas e atletas que beijam a camisola nas vitórias. Ou no andebol onde a rapaziada recusa adoptar postura de submissão seja com quem for.
Mas até aqui parece que o clube recusa ser feliz. Porque escuto mais vezes do que gostaria aqueles que dizem que é tudo errado.
Que esta malta que nas modalidades verte lágrimas e suor pelo clube deve ser esquecida. Que sugam o dinheiro que podia ser canalizado para o futebol. Como se fosse possível irmos cortando tudo até nada restar.
Pelo contrário. São eles as boas práticas. É para lá que temos de olhar.
São eles a Escandinávia nesta Grécia em que se transformou o meu clube. E vão lá buscar ideias. Colaborem uns com os outros.
Assumam, se assim preferirem, que este ano baixamos de divisão.
Mas que começa-se a trabalhar já hoje num Belenenses melhor.
Num Belenenses maior. Ou então digam: não somos capazes. Tentámos e não resultou. Colocamos aqui o lugar à disposição para quem quiser tentar fazer melhor. Se ninguém surgir, então com espírito de missão mantenham-se firmes e humildes no comando. Porque eu duvido muito, mas muito, que sintam sequer metade daquilo que eu sinto por este clube. Porque se isso fosse verdade, ficaria muito surpreendido por vê-los encarar cada dia como se fosse mais um, enquanto o vosso nome fica para sempre associado ao que de pior há memória em 90 anos de existência. No meu trabalho não gosto de errar. Não é por medo do despedimento. É com medo de desiludir aqueles que confiaram em mim.
"Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro"
(Gabriel O Pensador,” Até Quando?”)
Texto de Gennaro - Titulo do BI
2 comentários:
Genaro, li com muita atenção e "bebi" as suas palavras. Estou de acordo e confesso, não conseguiria escrever melhor as suas verdades!
Gostei. Muito mesmo
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