(...) Depreende-se que passou os melhores anos da sua carreira dopado.
- Não, isso não era sempre. Não me dopei a vida inteira.
A partir dos "vinte e tal anos", houve três clubes onde teve "grandes épocas": Porto, Boavista e Belenenses. Dopou-se no Porto?
- Não.
E no Boavista ou no Belenenses?
- Não respondo.
Antes destes clubes nunca se tinha dopado?
- Que eu soubesse não. Quando chegava a um clube havia muitos medicamentos e nem sempre era informado do que andava a tomar. Havia clubes que nos davam cápsulas sem qualquer nomenclatura ou a marca do medicamento. Hoje o controlo é mais apertado e os clubes não arriscam tanto.
Quando é que se dopava?
- No próprio dia do jogo.
No livro fala muito num massagista que dava as doses aos jogadores...
- Sim. Ele gabava-se que tinha uma pessoa controlada no Centro Nacional Anti-Doping e sabia sempre com antecedência em que jogos eram feitos os controlos. Dava-nos o doping, dizendo que dava mais força no campo. E era verdade.
Relata o uso de juniores como cobaias para as dosagens. Não o chocava ver miúdos a serem usados assim?
- Para quem está neste meio há muitos anos, há situações que nos passam ao lado. Não íamos fazer nada, nem denunciar a situação ao treinador ou ao presidente. Era impossível. Eu estava ali de passagem, não tinha nada a ver com aquilo. Mas foi uma das situações mais complicadas a que assisti.
O uso de doping era generalizado?
- Falava-se muito disso entre os jogadores. Acontecia mais nos clubes pequenos e intermédios, que não queriam descer de divisão ou lutavam por um lugar na UEFA. Talvez só os grandes estivessem fora deste esquema. (...)
- Fotos e excerto da entrevista publicada pelo jornal "EXPRESSO", na edição do passado sábado.