Mágico instinto felino...Matateu.

Foi o primeiro grande fenómeno nacional que o futebol deu ao País: Sebastião Lucas da Fonseca, eternizado sob o nome de Matateu, um dos mais extraordinários jogadores portugueses de todos os tempos. E o fenómeno atinge eloquência máxima se considerarmos que passou a fase dourada da sua vida ao serviço do Belenenses, clube do qual continua a ser a mais emblemática figura de sempre.
A forma como saiu do Restelo, em conflito aberto com alguns responsáveis, condicionou definitivamente uma relação que devia ser saudável, por estar destinada a ser eterna.
A derrota azul no Campeonato de 1954/55 teve carga emocional indiscutível. Foi também origem do declínio belenense, início de bola de neve que cresceu durante quase 30 anos e culminou com a descida de divisão (1981/82) entretanto anunciada.
Mas esse desaire tem, igualmente, um significado individual determinante: privou Matateu de um título nacional mais que merecido pelo que fez ao longo de uma carreira única — o jogador mais popular e que mais longe chegou fora do circuito Benfica, F. C. Porto, Sporting, apenas conseguiu vencer uma Taça de Portugal (59/60).
Quando Matateu desembarcou em Lisboa, vindo de Lourenço Marques, a 4 de Setembro de 1951, ninguém podia prever que estava a chegar o furacão que abalaria o futebol português durante uma década. No dia 24 de Setembro estreou-se oficialmente, na primeira jornada do Nacional.
O Belenenses bateu o Sporting por 4-3, com dois golos da sua autoria. Era apenas o início de uma caminhada que chegou ao fim com números impressionantes: 218 golos na I Divisão (nove com a camisola do Atlético), 13 ao serviço da Selecção Nacional (em 27 presenças) e três na Taça das Cidades com Feira.
Matateu era um jogador fabuloso. Se os avançados vivem permanentemente na dependência dos companheiros, o mínimo que dele se pode dizer é que decidiu muitos jogos sozinho. À custa de um instinto felino, de uma rapidez de execução surpreendente, de drible normalmente curto e sobretudo à potência e certeza do remate com ambos os pés. Era um mágico que transformava coisa nenhuma em momentos inesquecíveis.
Dele se diz que nasceu adiantado no tempo. Dele se diz que o azar foi ter vindo para o Belenenses. Dele se diz muita coisa que não tem cabimento nesta altura. Porque o que dele se dirá para sempre é que entre os grandes foi dos maiores de todos. (...)

Fonte: O Século XX do Desporto, Ed."A BOLA"

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