Mistério e romance. A abordagem do velório de Pepe por Belo Redondo, um dos maiores repórteres portugueses deste século. Aliás, o título da peça era como algodão, não enganava: O Mistério da Dama de Luto. «Chamava-se Celeste, figura simpática da cidade noctívaga, uma personagem da cidade maldita. Tinha a paixão pelo Benfica e de vermelho aparecia muitas vezes, de madrugada, na Leitaria Martins, na Rua da Escola Politécnica. Mas mais forte fora a paixão pelo Pepe, que vira pela primeira vez no Portugal-França. E por ele se encantou, pelo Belenenses se apaixonou. Na câmara-ardente, sentou-se à esquerda da mãe de Pepe, à direita estava Rosa do Carmo, a noiva do jogador, que residia na Calçada do Galvão. Existia entre as duas mulheres um abismo e um mistério.» Homero Serpa recontou em A BOLA magazine o que Belo Redondo desvendara então, a propósito da cena de ciúmes que uma coroa de flores, com mensagem de amargura e paixão e transportada até junto da urna por Augusto Silva, provocou em Rosa do Carmo: «Só ela tinha o direito de ser ali a noiva enlutada» — e por isso quis expulsar da sala a dama de luto, mulher que sofrera o amor impossível e ali estava apenas para chorar o seu ídolo. Soube-se depois que a coroa fora enviada por uma senhora portuense chamada Maria das Dores.
In "O Século XX do Desporto" Ed. "A BOLA"
Sem comentários:
Enviar um comentário