Num dia sujo de Outubro de 1931 a morte ceifou o génio e abriu um mistério que o tempo nunca mais desfez, adensou, transformou em lenda. Em lendas. Pepe estava a caminho dos 23 anos, nascera a 29 de Janeiro de 1908. Comprovado está que morreu ao comer um chouriço. Versões sobre o envenenamento há várias. Uma que foi a namorada que deixara que se infiltrou à sorrelfa pela casa, deitando na cozedura deletério qualquer. Outra que foi a irmã Ana, casada com o também futebolista Rodolfo Faroleiro, que por inveja o quisera matar — no que, em Belém, ninguém acreditou, por ser Pepe quem mais a ajudava em momentos de aflição e penúria. Outra ainda que fora uma osga que caíra do tecto e na fervura espalhara peçonha. No entanto, a partir de trabalho publicado por Homero Serpa, em A BOLA magazine, se desvenda a versão mais credível. Muitos anos depois da tragédia um agente da PJ haveria de contar que fora a potassa que a mãe confundira com sal que matara Pepe, que a versão oficial se guardou em silêncio para não destroçar ainda mais quem tão tragicamente perdera o filho destinado a herói. O veneno segregara-se no chouriço, o pai e a irmã, que apenas comeram o caldo, salvaram-se com simples lavagens de estômago no Hospital de São José. Pepe, quando agonizava no Hospital da Marinha, já só teve força para lançar meia-dúzia de dramáticas últimas palavras: «Cortem-me as pernas mas salvem-me a vida.» Nada se conseguiu. E foi, então, um país inteiro em pesadume, o mito em voo largo para a eternidade — e todos os anos a imagem, que não deixa de comover, das flores que os jogadores do F. C. Porto depositam no monumento que se transferiu das Salésias para o Restelo, o mausoléu construído para perpetuar o ídolo grande, apesar da vida pequena
In "O Século XX do Desporto" Ed. "A BOLA"
- este post foi publicado originalmente em 26/01/2008
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