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Equipa de Honra do C.F."Os Belenenses" da época 1933/34


Os belenenses convocados para o jogo contra a equipa do "First Vienna Football Club 1894" disputado nas Salésias no dia 31 de Dezembro de 1933:
📸Cezar de Matos, Rodrigues Alves, Joaquim de Almeida, Heitor Nogueira, José Reis, José Luíz, Bernardo Soares, Alfredo Ramos, José Miranda, Augusto Silva, Rodolfo Faroleiro, José Simões, João Belo, Beto, José Ramos e João Oliveira.
⛹O «onze» que alinhou: José Reis; Simões e Belo; Rodrigues Alves, Augusto Silva e César de Matos; José Ramos, Heitor, Rodolfo, Bernardo e José Luíz.
⚽Marcador: Bernardo, de «penalty«, aos 18'.
Vitória dos austríacos, por 3-1, devido, fundamentalmente, a uma tarde infeliz de José Reis. "Realmente, o resultado desastroso que Reis, logo de inicio, começou a construir contra o seu próprio clube, consentindo «goals» a todos os títulos defensáveis (...) Reis, o guarda-rêdes do Belenenses, se nem sempre foi baluarte seguro do seu clube, teve, por vezes, jogadas de espectáculo e mérito"

Pouco Augusto Silva para tanto Barreirense, causa da derrota (4-3) do fogoso «team» Campeão de Lisboa

No encontro no Estádio a defesa belenense teve de empregar-se sempre a fundo para conter o ardor dos barreirenses. A nossa capa mostra-nos Miranda blocando mal uma bola alta, ante a atenção de Augusto Silva, Simões e a ameaça de João Pireza

Capa da revista Stadium de 23 de Novembro de 1932

A II jornada do Campionato de Futebol de Lisboa de 1932-33

"13 de Novembro de 1932 - Sporting, 1 - Belenenses, 1: o «goal» do Sporting - Miranda, apesar do grande esforço, não evitou o chute de Valadas. Da esquerda: Belo, Mourão, Miranda, Gralho, Simões e Valadas"

A primeira derrota dos campiões: Barreirense vence o Belenenses por 4 a 3 em jogo a contar para o campionato de Lisboa, III jornada

"Barreirense-Belenenses: No encontro no Estádio a defesa belenense teve de empregar-se a fundo para conter o ardor dos barreirenses. A nossa capa mostra-nos Miranda blocando mal uma bola alta, ante a atenção de Augusto Silva, José Simões e a ameaça de João Pireza"

Capa da revista "Stadium" número 41 de 23 de Novembro de 1932

À hora do treino com o Mestre Artur José Pereira

Artur José Pereira dando indicações 
ao antigo internacional Alfredo Ramos, sôbre o treino

Eram umas seis horas da tarde quando entrámos no Campo de Belém. À nossa frente haviam chegado já muitos jogadores, sendo mais apressados os de categorias inferiores. Equipados e já a bater a bola uns oito. Entre êles, do «team» de honra, só Bernardo e Miranda. E, a orientar, em mangas de camisa, com a cabeça característica bem destacada - o mestre Artur José Pereira.
À volta do campo, fora das grades, uns cinquenta «suporters» assistiam interessados às praxes do treino.
Nós havíamos entrado sem nos fazer anunciar e, desconhecidos, deixámos-nos ficar colhendo impressões.
Os jogadores faziam passagens rápidas e chutavam  ao goal. Miranda procurava o mais possível defender. Os pontapés de Bernardo eram certeiros, sêcos... e eficazes. Junto às balisas havia garotos para apanhar as bolas e, entre os cinquenta adeptos, reinava um emocionante e interessado silêncio.
Apenas uma ou outra indicação de Artur José...e o baque sêco do esférico, sempre jogado, sempre a girar. De minuto a minuto mais jogadores foram entrando: José Luiz, César, Almeida, Ramos e outros das diferentes categorias.
A certa altura, Artur José saiu do campo e nós abordámo-lo, tendo-o já colhido a conversar com Ramos, a oportuna objectiva do nosso César Antelo.
- Amigo Artur José Pereira, os nossos cumprimentos e umas indiscreçõezinhas para a Stadium...
- Ora, que lhe posso eu dizer ? Nada... Agora não há nada... Estamos em principio de época...
- Pois é êsse nada mesmo que nós desejamos. Êsse nada em que o amigo resume os novos projectos...
O simpático treinador dos heróis de Belém, glória antiga do nosso futebol, descruzou os braços alisou a queimada testa rugosa e foi dizendo:

À tarde alguns fiéis às côres de Belém vão para as Salésias ver treinar os seus campiões


«Como sabe, o «team» de Belém costuma viver da prata da casa. Ora isso, se às vezes nos dá satisfação de apresentarmos elementos novos, rendendo à nossa imagem e semelhança o que o «team» precisa, também teu um contra: só nos permite lentamente renovar o grupo.
Raramente podemos ter o concurso de elementos já feitos, vindos de fora. Assim, é o que vê: só gente antiga, de muita alma e amor ao Club... É claro que terei de remoçar êste ano as linhas, especialmente a de médios. Mas os substitutos são ainda incertos. Todos, porém, vindos das categorias inferiores. Agora na Taça Preparação vou fazer alinhar vários elementos, ainda a escolher, obrigando-os a substituírem-se durante o encontro, para experiência. Todavia, espero alcançar o mesmo nível de classe do ano passado.
Os nossos treinos são, geralmente, doseados de forma a preparar os rapazes. Por agora, em principio de época, faremos uns treinos leves, cute, passes, e um pouco de jôgo a dois campos.
Com a época, vou reforçando, não só o ponto atlético geral como os particulares técnicos adaptáveis às condições de cada elemento, um por um. A toada do «team», êste ano, deverá ser o mesma»...
Artur estava a fazer falta no campo; deixámo-lo ir para os seus alunos e, aproveitando ainda a amabilidade extrema de um sócio antigo que estava destinando jogadores para a inspecção médica, ficámos sabendo terem tido os Belenenses, com os resultados da época finda, recebido mais 250 sócios !

Reportagem da revista "Stadium" de 28 de Setembro de 1932

Severo Tiago foi o primeiro futebolista português campeão nacional e internacional em duas modalidades desportivas

Terá sido o Severo Tiago o primeiro futebolista português internacional em duas modalidades? julgamos que sim. 
Houve o Guilherme Espírito Santo, também em futebol e atletismo e o Jesus Correia, em futebol e hóquei em patins. Houve mais, mas o Severo é o mais antigo.

Uma situação difícil de repetir nos tempos que correm. Não estamos a ver o Mozer a jogar à bola e a fazer barreiras, nem tão pouco o Rui Barros a jogar na Juventus e a lançar o peso.

Mas os tempos eram outros…«o futebol parava nos meses de verão e eu gostava de praticar atletismo, sobretudo correr. Como já trabalhava na Shell, todas as manhãs, antes de pegar no trabalho, dava um salto às Salésias para me treinar. Lembro-me que havia uma vizinha que morava em frente do campo e, quando se levantava e abria a janela, dizia 'lá anda o maluco'…mas eu não me importava, gostava de me preparar, de manhã no atletismo e ao fim da tarde, no futebol».

A sua especialidade, como dizíamos, eram as corridas de velocidade, 100 e 200 metros, mas também saltou em comprimento, fez barreiras e chegou a correr nos 400 metros. Mas era sobretudo veloz…"lembra-me uma vez em que se abeiraram de mim uns miúdos que andavam na escola e um voltou-se para mim e disse: o senhor é mais rápido que o comboio rápido».

No seu tempo de jogador, outros futebolistas do Belenenses fizeram atletismo. Só por curiosidade vejamos alguns casos e os tempos registados nas respectivas provas.

Mário Duarte, que foi guarda-redes e diplomata consular após terminar a carreira futebolística, também correu os 100 metros, lançou o peso, saltou em altura e em comprimento, atingiu os 5,61 metros.
Outro, que mais tarde foi também guarda-redes, o José Miranda fez valer os seus méritos com 1,56 metros no salto em altura - e o avançado José Manuel Soares «Pepe», o tal que, hoje, estaria em Itália a marcar muitos golos, fez 20 segundos nos 110 metros barreiras.

Outros: Joaquim Almeida lançou o dardo a 32,80 metros e fez 28 s 7/10 nos 200 metros; Alfredo Ramos correu os 5000 metros (mas não temos o tempo) e João Pedro Belo, no futebol, defesa lateral, foi também, um bom atleta no salta à vara (3,29 metros), saltando em comprimento (5,20 metros) e no triplo (12,17 metros).

O melhor de todos, porém, foi o "internacional" Severo Tiago: 100 metros (11 s 2/5), 200 metros (23 s 3/5) e no salto em comprimento (6,57 metros) - sendo recordista, campeão de Portugal e de Lisboa em todas aquelas provas e na estafeta 4x100 metros.

Henrique Parreirão, in jornal "Record", final da década de oitenta
Caricatura de Severo, de autoria de José António Marques, datada de 1927