Na estreia de H.H. (il "Mago") um "bico" de Matateu impôs ao Benfica a primeira derrota oficial no Estádio da Luz

Helenio Herrena (il "Mago") estreia-se como treinador do Belenenses
Lisboa, Estádio da Luz, 3 de Novembro de 1957
9ª jornada do campeonato nacional de 1957/58
Benfica, 0 - Belenenses, 1

"(...) Dois motivos fazem realçar o triunfo belenense. Desde 1949/50 que os benfiquistas jogando contra os belenenses, no seu campo, não perdiam, como sucedeu ser esta a primeira derrota dos «encarnados» em jogos oficiais, no seu Estádio da Luz. Sem dúvida que estas duas circunstancias tornaram sensacional a derrota dos benfiquistas. (...)"

O "bico"
"(...) Matateu, como sabem, mais que um jogador, é uma legenda «sui generis» do nosso futebol. E sê-lo-ia em qualquer ambiente, porque ele nasceu para o jogo, para ser um admirável insubordinado dos princípios tácticos de série, precisamente porque alguma coisa lhe segreda que ele por si só já é uma táctica completa e extraordinariamente eficiente. Tem até acontecido que, sempre que alguém procurou metê-lo por caminhos diferentes, afastá-lo da baliza e transformá-lo em peça de engrenagem, retirar-lhe a alforria que lhe permitia agir como «unidade de comando», amordaçar-lhe a voz do instinto para lhe despertar a chama da inteligência disciplinada e colaborante, logo este grande jogador se apaga, transformando-se em peso morto, quer seja para a sua equipa, quer para a Selecção. Pois foi o instinto deste homem que derrotou o Benfica, que lhe impôs a primeira derrota oficial no seu campo, lhe cortou as asas no campeonato e lhe provocou uma série de contrariedades inevitáveis. E que tudo isto contra as leis da lógica (que lógica !).
Recebeu ele a bola de Pires (cremos que foi de Pires quem pôs a bola em jogo) e o mais natural, uma vez que estava com sentinela à vista, era que a devolvesse ao companheiro, para fazer o centro. Mas não. No seu espírito estava a ideia do golo.
Mesmo de costas para a baliza, o seu instinto disse-lhe que era para lá que devia caminhar. Lutou com um adversário (parece que foi Zézinho) e venceu-o; depois lutou com Ângelo e deixou-o também para trás, quase em cima da linha de cabeceira. Nesta altura, novamente o mais indicado seria centrar atrasado. As possibilidades de golo eram mínimas. E era isso que Costa Pereira esperaria, por ser o mais racional. Mas ainda desta vez Matateu se deixou levar pelo instinto - não esqueçamos que tudo isto se passou em breve segundos - e foi o que lhe permitiu marcar o golo. Um "bico" escaldante entrou por uma nesga e foi tocar as malhas do lado oposto. (...) Luís Alves, Jornalista.  

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