Mostrar mensagens com a etiqueta Luís Carlos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Luís Carlos. Mostrar todas as mensagens

Luís Carlos “Feijão”: «No Belenenses, passei os melhores anos da minha vida !»


Do tempo que envergou a camisola da “Cruz de Cristo”, Luís Carlos recorda: “(...) Foram os melhores anos da minha vida. Era um rei em Lisboa e, na despedida do Gento, do Real Madrid, no estádio Santiago Bernabéu, fui convocado pela FIFA como titular da Seleção da Europa. Joguei muito; fiz um gol; me senti como um Ronaldinho Gaúcho hoje e acertei contrato com o Valência. 
Na volta só tinha que cumprir um último jogo pelo Belenenses, contra o Rio Ave (*). O jogo era só para cumprir tabela pois já tínhamos terminado o Campeonato Português de 1974 em quinto lugar. Aí, numa bola cruzada, subi de cabeça e o goleiro também. Cheguei primeiro e desci. Nisso o goleiro caiu encima da minha perna direita, estendida. O barulho ouço até hoje. Quebrou tudo. Encerrei a carreira e até hoje manco. Minha perna é torta igual à de Garrincha (...)”
Luís Carlos de Freitas “Feijão” (nasceu em São Paulo em 17/08/1946 e faleceu em 20/04/2011), iniciou a carreira no Nacional Atlético Clube (SP) e de seguida (1965) foi contratado pelo Palmeiras. Foi emprestado ao Corinthians sendo posteriormente cedido ao Santos. Em 1971 o Belenenses adquiriu o seu passe ao Santos.
Jogou no Belenenses durante 3 épocas: 1971/72 (18 jogos, 11 golos marcados, sétimo lugar no Campeonato Nacional) 1972/73 (30 jogos, 2 deles incompletos, 11 golos marcados, vice-campeão) e 1973/74 (19 jogos e 5 golos marcados, quinto lugar).

Estádio Chamartin (rebaptizado como Estádio Santiago Bernabéu), 14 de Dezembro de 1972. Festa de despedida de Paco Gento e 25º aniversário do Estádio. Real Madrid, 2 Belenenses, 1. Luís Carlos conduz a bola com elegância sob a vigilância de dois madrilistas. Ao fundo, vê-se Eusébio.
Tomar, 22 de Janeiro de 1973: União de Tomar, 0 - Belenenses, 6
Golos de Laurindo (2), Luís Carlos (2) e Gonzalez (2)
Equipa do Santos de 1969 - De pé: Aguinaldo, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias, Clodoaldo e Turção. Agachados: Edu, Lima, Luís Carlos, Pelé e Abel. Pelé e Luís Carlos em foto datada de 1962.
Luís Carlos em fotos datadas de Novembro de 2007 
(*) Trata-se de um lapso de memória do Luís Carlos ou da transcrição do jornalista. De facto, o último jogo (30ª jornada) do campeonato de 1973/74 foi contra o Montijo, vitória por 3 bolas a zero. O Rio Ave não estava (nem sonhava estar ?) na 1ª divisão.
Luís Carlos, lesionou-se aos 43', no jogo contra o Boavista (1-1) a contar para a 24ª jornada do campeonato e disputado no Estádio do Bessa a 17/03/1974. Foi substituído por Ramalho que, curiosamente, marcou o golo belenense. Este foi o último jogo de Luís Carlos, enquanto profissional. 
➤ post publicado originalmente em 18/10/2008 e actualizado em 11/12/2015 e 12/10/2018.

Ir ao Restelo e não ver o «Papa-Gonzalez» - interessa atacar ou interessa marcar?

Estádio do Restelo, em Lisboa, 30 de Setembro de 1972 - 4ª jornada
Árbitro – Inácio de Almeida, de Setúbal
BELENENSES – Mourinho (2); Murça (2), Calado (2), Freitas (2) e João Cardoso (2); Quaresma, «cap.» (1); Quinito (1) e Godinho (2); Laurindo (1), Luís Carlos (2) e Gonzalez (1)

U. TOMAR – Silva Morais (1); Kiki (1), João Carlos, «capitão» (2), Cardoso (2) e Fernandes (1); Raul (1), Manuel José (2), Pedro (2) e Caetano (0) (40m – Pavão (0)); Bolota (1) (67m – Beto (0)) e Camolas (2)

1-0 – Luís Carlos – 52m
2-0 – Luís Carlos – 85m

«Substituições – Aos 40 minutos do primeiro tempo, Pavão (0) rendeu Caetano e, aos 22 minutos da segunda parte, Beto (0) substituiu Bolota.

Ao intervalo: 0-0.
Na segunda parte: 2-0.

Aos 7 minutos, 1-0, por Luís Carlos. O Belenenses carregou para cima da baliza, com mais um cruzamento. Silva Morais saltou e defendeu atabalhoadamente para a sua frente. Godinho recargou com o pé direito. A defesa de Tomar aliviou em aflição e a bola ressaltou nos pés de um belenense voltando para a baliza tomarense, perto da qual, Luís Carlos conseguiu desviá-la, com um ligeiro toque. Sobre o risco, Kiki e um colega da defesa deixaram a bola esgueirar-se para a rede.

Aos 40 minutos, 2-0, por Luís Carlos. Foi a melhor jogada do desafio. Godinho levou a bola até à linha de cabeceira e, daí, centrou atrasado, pelas costas da defesa tomarense. O brasileiro que vinha na corrida, não teve quaisquer dificuldades em, de frente para a bola, lhe dar o toque final.

Resultado final: 2-0.
———
Foi um jogo muito calmo. Muito correcto. A equipa da «casa» a tentar atacar, nem sempre pelo processo mais aconselhável. A equipa visitante a defender-se, as mais das vezes, com acerto, outras já em situação de recurso e sem toda a lucidez necessária. Acabou por ganhar a melhor equipa. A que jogava em «casa». A que atacou mais. Ainda que nem sempre…

Foi este o primeiro desafio do campeonato em que o Belenenses teve efectivamente que atacar, atacar desde o primeiro ao último minuto. Antes, não tinha sido assim. Contra a Cuf, no Barreiro, foi uma «batalha» entre os meios-campos e um jogo decidido pelo melhor contra-ataque. Contra o Vitória, sabe-se que talvez com uma única excepção, nenhuma equipa portuguesa pode jogar deliberadamente ao ataque, só ao ataque. E nas Antas, contra o F. C. Porto, o Belenenses actual também não pôde realizar uma exibição de ataque franco e aberto.

Pois, agora, contra o Tomar, foi este o primeiro jogo, em que o Belenenses teria, em princípio, que abrir e ir aberta, francamente, para o ataque. Este jogo mostrou que a dimensão actual do Belenenses ainda não comporta que a equipa de Belém ataque tão bem como o faz na defesa e no meio-campo. Mas, de qualquer maneira, deu indicações…

Sabe-se que uma grande equipa não se faz num dia. Nem num mês. Nem num ano. Scopelli começou pelo princípio. Neste momento, alguns meses após o seu primeiro dia de trabalho, o Belenenses é uma equipa que defende muito bem. Que joga muito bem no meio-campo. Mas que, quanto tem de abrir-se para o ataque, ainda o faz com algumas deficiências. Vai ser este, aliás, o capítulo mais difícil do trabalho de Scopelli. Aliás, sabe-se que é sempre assim. É muito mais difícil atacar do que defender. Ou contra-atacar. Por isso, até que o Belenenses venha a ter uma grande equipa de ataque, ainda vai levar o seu tempo. Se é que o Belenenses tem jogadores para isso. Se é que o Belenenses está interessado nisso…

O Belenenses-72 é uma equipa que sabe jogar. No sábado, a defesa foi impecável. Mas o meio-campo, não. E o ataque, também não.

Onde falhou, então, o meio-campo de Belém, que tão bem jogara contra o fabuloso «miolo» de Setúbal e contra o F. C. Porto e a Cuf cujos «calcanhares de Aquiles» não são, como se sabe, o meio-campo?…

Quaresma. Tem sido um homem precioso na nova posição que Scopelli lhe reservou na equipa. Ligeiramente adiantado em relação aos defesas, numa linha logo a seguir. Quaresma foi precioso nos três primeiros jogos. Mas, no sábado, foi um «homem a mais». Que fazia Quaresma lá atrás? Que defendia ele?

A resposta foi dada logo nos minutos iniciais. Quaresma ficava, efectivamente, lá atrás porque Murça e Cardoso se adiantavam muito a tentarem flanquear a defesa de Tomar. Então, Quaresma estava atento às «dobras». Quando o meio-campo de Tomar, especialmente Pedro – que tem tanto de bom jogador como de indisciplinado tacticamente – tentava aproveitar o adiantamento dos laterais belenenses «metendo» em profundidade a bola pelas suas costas, aí estava Quaresma a entrar em acção e a mostrar a sua utilidade.

Em teoria, portanto, estava certíssimo. Mas na prática, como resultou o sistema?

Do outro lado, o Tomar tinha quatro homens no meio-campo. Com uma única excepção (Pedro) destinados quase exclusivamente a apoiar a defesa formando, assim, uma segunda linha de defensores. Com o avanço dos laterais, pretendia-se o único lance que poderia resultar para destroçar aquela defesa de Tomar. A fuga até à linha de cabeceira e, daí, o centro atrasado para diante de um homem que se desmarcava, então, em corrida, e tinha, assim, a vantagem de receber a bola de frente enquanto os defesas a tinham a passar pelas costas.

…Porque, de contrário, era impossível. Com cruzamentos, centros a «pingar» sobre a baliza, sucedia exactamente o contrário. Eram os avançados «azuis» que tinham a bola pelas costas e eram os defesas de Tomar que estavam de frente para a bola. Isto é, com todas as vantagens.

Portanto, certíssimo – na teoria. Mas, na prática?
Murça defendeu muito bem os poucos lances em que teve que intervir. No entanto, nem sempre por culpa sua, dizemos, porque se não lhe prestou o apoio de que necessitava. Quando Murça vinha com a bola, nem Quinito nem Laurindo vieram ter com ele para a «tabela» que podia dar a desmarcação que levasse a bola até ao fundo.

Do outro lado, João Cardoso também não foi bem auxiliado. Quando tentou o serviço à frente, só Godinho o ajudou. Quaresma foi solicitado por vezes, mas não colaborou como deveria. Gonzalez também, mas nunca se decidiu pela «tabela». Recebia a bola de Cardoso e, depois, tentava fazer ele o lance, ou rematando de longe ou tentando «furar» ele pelo impossível centro da defesa de Tomar.

Portanto, voltando a Quaresma, que se passou com o abnegado jogador?

Os laterais de Belém não conseguiram passar com a bola, por isso, passavam a bola. Nem sempre bem, muitas vezes, tentando o lançamento à distância, condenado pela super-concentração do meio-campo e defesa de Tomar. Por isso, os laterais estavam lá atrás. Por isso, Quaresma não era preciso lá atrás.

O próprio Scopelli o terá reconhecido. Por isso, na segunda parte, Quaresma veio «solto» cá para a frente. Podia ter sido o homem do jogo, os outros estavam «marcados». Ele era o «homem que sobrava». Ainda fez dois ou três remates à baliza.

Invariavelmente tortos. Também não se pode exigir a Quaresma que defenda, hoje, e vá amanhã marcar golos lá à frente. Às vezes poderá acontecer, mas por sistema…

Foi esse o falhanço – Quaresma, como homem do meio-campo, virado para o ataque.

… Mas houve mais. Houve, tambéma má noite de Quinito. Quis despachar muitos lances com pressa demasiada. Muitos lançamentos compridos. Outras vezes, longas correrias a tentar «furar» quase sempre pelo meio. Além disso, serviu muito mal Laurindo que precisava da bola à sua frente e não da bola nos pés, que ele tinha que dominar e, quando o fazia, lá tinha Fernandes «em cima». Mesmo assim, por vezes, ainda Laurindo conseguiu esgueirar-se-lhe, porque Fernandes jogou muito precipitado, sempre a tentar a antecipação e às vezes a ser «enganado» por uma rápida simulação de corpo ou um pequeno toque do desconcertante Laurindo, que no entanto, não foi, anteontem, tão desconcertante como é costume.

…E Gonzalez? Muita gente terá ido ao Restelo para ver Gonzalez. As pessoas foram lá – mas Gonzales, não. Não «esteve» lá. – Talvez por isso mesmo, porque é mais difícil atacar… em ataque aberto e franco, do que em contra-ataque. E Gonzalez tinha sempre Kiki «em cima» e, quando tentava esgueirar-se (pelo meio) lá estavam João Carlos e Cardoso, impecáveis desde o princípio até… cinco minutos do fim.

Mas houve um homem que jogou sempre muito bem. De princípio a fim. Foi Godinho. O «rei» do meio-campo. Beneficiou das largas concedidas por Pedro, que não o marcou a ele, nem a ninguém. Mas fez o jogo de que a equipa necessitava. Foi o que mais tentou que Laurindo e Gonzalez fossem à linha de cabeceira. Exemplificou excelentemente «como era», com o golo – uma jogada espectacular, que, no entanto, só pecou por tardia, pois veio apenas a cinco minutos do fim. Também foi o que veio mais vezes atrás para o apoio do que os laterais necessitavam sempre que queriam ir lá à frente, pelos seus flancos.

E o Tomar? Foi sobretudo, uma equipa lutadora. Que aceitou a luta desde o princípio até ao fim, e nunca se desuniu. Trazia a lição bem estudada. Quatro homens lá atrás, a jogarem na antecipação. A marcar «em cima» os «azuis» sempre que eles estavam lá pelas imediações da baliza. E a deixarem que a segunda linha (os homens do meio-campo) o fizesse quando eles recuavam a tentar tirar os tomarenses de lá de trás.

Silva Morais não fez, praticamente, uma única defesa. Só intercepções a cruzamentos, saídos e centros, e captando bolas fáceis.

…Mas tudo isto com um estilo pouco convincente. No lance do primeiro golo, repeliu a bola a soco, para a sua frente, em vez de desviá-la para os lados. Quanto ao resto, um tanto «desajeitadão», mas lá foi defendendo as poucas bolas que lhe atiraram para cima da baliza, umas agarrando à primeira, outras nem por isso.

Depois, uma defesa com dois centrais nas suas «sete quintas». João Carlos e Cardoso. Ambos altos. A jogar de frente para a bola. Saltando sempre mais alto que os belenenses, todos «rodas baixas», passe a comparação «automobilística». Todas as facilidades, e a exibição, por isso, certa. Só no segundo golo, é que já terão tido as suas culpas. É certo que deixaram Luís Carlos sózinho – um homem que não jogou bem, que se «mexeu» muito pouco mas que apareceu quando foi preciso, em dois lances que deram dois golos.

Os laterais acusaram mais dificuldades que os do meio. Apesar de tudo, Laurindo ainda criou problemas a Fernandes e Kiki foi obrigado a muito pontapé para o ar, para se salvar Gonzalez, a ameça que afinal não veio.

No meio-campo, o Tomar teve em Manuel José um elemento precioso. Não só a defender, e «marcou», muito bem, Gonzalez sempre que este recuava e se «metia» pelo meio, como ainda e, depois do 1-0, a tentar que Camolas, lá à frente, conseguisse o empate.

Também Pedro jogou muito bem, mas só a atacar. Não «marcou» ninguém mas teve bons serviços para Bolota e Camolas, este a causar mais perigo do que aquele que, no entanto, foi mesmo assim mais perigoso que Beto.

Raul foi o que sentiu mais dificuldades. Como Pedro não marcou Godinho, ele tentou «dobrá-lo», mas não o conseguiu. Godinho ganhou-lhe muitos lances e foi o melhor do meio-campo.

Quanto a Pavão, que entrou para tentar esgueirar-se pelo flanco esquerdo da defesa belenense a aproveitar-se dos adiantamentos de João Cardoso, nunca conseguiu fazê-lo. Acabou por não atacar nem defender, igualando-se, assim, ao fraco rendimento de Caetano, que tinha sido o mais fraco do «miolo» tomarense no primeiro tempo.

Por todas estas razões, o Belenenses não conseguiu ser, ainda, uma equipa de ataque, na completa acepção do termo. A equipa ainda não está dimensionada para isso – e nos parece, aliás, que tenha jogadores para vir a sê-lo.

Só faltará, agora, perguntar, e se o Belenenses está efectivamente muito interessado em ter uma equipa de ataque. Ou não lhe interessará mais uma equipa que jogue bem e ganhe?

Faltará agora saber, é se esta equipa ganhará os jogos – os jogos em «casa»? Anteontem, venceu sem apelo nem agravo, com golos «limpos», sem favores do árbitro, que foi, aliás, a pessoa que passou mais despercebida na noite – e esse é o seu melhor elogio – sem nunca dar a sensação de a vitória estar em perigo.

Só que Silva Morais não foi chamado a efectuar uma verdadeira defesa a remate dos belenenses. Só intercepções, só cortes…

No entanto, não interessam os remates mas os pontos. E se Belém conseguir, em «casa» apurar, mais, este seu equilíbrio entre equipa que sai de um «contra-ataque mais defensivo» para um ataque que é, muitas vezes, um «contra-ataque mais ofensivo», não haverá muitas «goleadas» mas pode haver muitas vitórias nesta nova fase de uma equipa que não deslumbrou mas, para continuar a ser igual a si própria, jogará tanto melhor quanto mais forte for a réplica que encontrar.»

(“A Bola”, 02.10.1972 – Crónica de Jorge Schnitzer)

Post da autoria do excelente blog UNIÃO de TOMAR , que muito agradecemos