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Diploma de Sócio de Mérito

Atribuído ao União Futebol Comércio e Industria de Tomar conforme resolução da Assembleia Geral de 30 de Janeiro de 1948 pelos altos serviços prestados ao Club de Foot-Ball Os Belenenses

União de Tomar, Centenário !

União Futebol Comércio e Industria de Tomar
Fundado a 4 de Maio de 1914 


De todos os Clubes filiais e delegações do Belenenses, o União de Tomar, delegação nº 2, foi aquele que alcançou maior projecção em termos de futebol profissional com 6 presenças no campeonato nacional da 1º divisão, divididos por três biénio: 1968/69 e 1969/70, 1971/72 e 1972/73, 1974/75 e 1975/76, classificado-se respectivamente nos seguintes lugares; 10º / 14º / 12º / 16º / 12º / 14º.
O União conta no seu palmarés com os títulos de Campeão Nacional de Futebol da 2ª divisão (1973/74) e da 3ª divisão (1964/65).

A foto com que pretendemos homenagear o Clube centenário, refere-se à época de 1972/73 e, dos onze, cinco são ex-Belenenses: Cardoso, Nascimento, Camolas, Manuel José e Pedro.
De pé: João Carlos, Fernandes, Cardoso, Kiki, Faustino e Nascimento. Agachados: Pavão, Camolas, Raul Águas, Manuel José e Pedro.

Apresentamos os resultados, marcadores dos golos e títulos do jornal "A Bola" referentes aos 12 jogos para o campeonato, entre o Belenenses e o União, nas seis épocas em que os tomarenses militaram na 1ª divisão:
- “JOGOU «SOBRE BRASAS» A EQUIPA DE BELÉM” (15/09/1968) -  2ª jornada 68/69: Belenenses, 2 (Laurindo 14', Luciano 44') - União de Tomar, 2 (Leitão 15', Alberto, na 2ª parte) 

- “MUITO BRIO «AZUL» NA PRIMEIRA VITÓRIA «FORA»” (05/01/1969) - 15ª jornada (68/69): União de Tomar, 0 - Belenenses, 1 (Laurindo 43')

- "POR QUE TARDOU TANTO A «MOSTRAR-SE» O BELENENSES ?” (21/12/1969) - 12ª jornada (69/70): Belenenses, 2 (Ernesto 18', Estevão 76') - União de Tomar, 1(Tito 28')

- “OS «AZUIS» DERAM À FILIAL O PRÉMIO DE CONSOLAÇÃO” (12/04/1970) - 25ª jornada (69/70):  União de Tomar, 2 (Tito 19', Manuel José 89') - Belenenses, 1 (Ernesto 6')

- “QUE PENA NÃO HAVER DERROTA PARA DOIS…” (07/11/1971) - 8ª jornada (71/72): União de Tomar, 0 - Belenenses, 0

- “QUANDO A CHUVA «PROTESTOU» ENTÃO OS GOLOS APARECERAM…” (19/03/1972) - 23ª jornada (71/72): Belenenses, 2 (Luís Carlos 78', Godinho 87') - União de Tomar, 0 

- “IR AO RESTELO E NÃO VER O «PAPA-GONZALEZ»” (30/09/1972) - 4ª jornada (72/73): Belenenses, 2 (Luís Carlos 52' e 85')- União de Tomar, 0 

- “MELODIAS DE ROUXINOL GARRAS DE ABUTRE   
    FUTEBOL É UM JOGO MAS NÃO DE PALAVRAS”
(21/01/1973) - 19ª jornada (72/73): União de Tomar, 0 - Belenenses, 6 (Gonzalez 26' e 35', Laurindo 39' e 51' e Luís Carlos 67' e 80')

- “DO CALOR DOS APLAUSOS AO GELO DOS ASSOBIOS” (27/10/1974) - 8ª jornada 1974/75: Belenenses, 1 - União de Tomar, 0 (Ramalho 19')

- DEU-SE O (MEIO) CAMPO A QUEM O TRABALHOU” (23/02/1975) - 23ª jornada (74/75): União de Tomar, 0 - Belenenses, 1 (Pincho 27')

- “COM GONZALEZ NA ESQUERDA NÃO «APETECE» A DIREITA” (28/09/1975) - 28ª jornada (75/76): Belenenses, 2 - União de Tomar, 0 

- “UM «SENHOR CAMOLAS» É MEIA-EXPLICAÇÃO” (01/02/1976) - 23ª jornada (75/76): União de Tomar, 3 (Kiki 36', Camolas 63' e Caetano 90') - Belenenses, 1 (Vasques 59')


O 'onze' belenense que iniciou o jogo em Tomar no dia 21 de Janeiro de 1973 e venceu o União por 6-0
  • O "Belenenses Ilustrado" agradece ao Blog União de Tomar, onde recolhemos e confirmámos informação

A visita de «Os Belenenses» a Tomar

Abril de 1957
Constituiu um êxito desportivo a organização do União de Tomar. O «onze» local deu sempre boa réplica a despeito do score verificado (14-2) a favor da categorizada squadra azul.

E o mais belo Estádio do país foi inaugurado ! - O Estádio de "Os Belenenses" na "Memória Digital de Thomar"

Excursão a Lisboa
Continua aberta na sede do U.F.C.I.T. (União de Tomar) a inscrição a todos os sócios e simpatizantes do glorioso Club de Foot Bal «Os Belenenses» que queiram assistir à inauguração do Estádio do Restelo no próximo dia 23 do corrente e de cujo programa faz parte uma grandiosa parada atlética em que tomam parte vários clubes do país e um encontro de futebol entre os grupos do Sporting Club de Portugal e de «Os Belenenses»
E o mais belo Estádio do país foi inaugurado !
Palmas, foguetes, vivas, serpentinas o mais belo Estádio do país foi inaugurado !
Clubes de quase todo o país se fizeram representar uns com mais, outros, com menos, a quantidade não interessava, o que interessava era a justa homenagem esses atletas prestavam ao Clube de Futebol «Os Belenenses» que em tão boa hora pensou construir um Estádio para quatro anos depois ver inaugurada a primeira fase. 
Estão de parabéns todos os Belenenses e também o desporto português pois Estádios como este não abundam e tanta falta fazem para o progresso do desporto.
A presidir a esta memorável festa não faltou Sua Excelência o Sr. Presidente da República que desceu ao relvado para condecorar o estandarte do Belenenses. 
A principiar a festa, desfilaram na pista do novo Estádio mais de 3.500 atletas, seguindo-lhes todos os atletas do Belenenses que nos intervalos de cada modalidade traziam um carro todo enfeitado de azul com um dístico a indicar a modalidade a que pertenciam os atletas.
Espectáculo maravilhoso e que ficará na memória de todos quantos tiveram a felicidade de assistir a esta festa. 
Como não podia deixar de ser os Clubes de Tomar, S. C. de Tomar e União F. C. I. de Tomar também se fizeram representar, tendo mesmo o União levado uma representação bastante numerosa, suplantada apenas por alguns clubes de Lisboa.
Parabéns Belenenses !

Encontro de dois Alcochetanos no Restelo, em Março de 1972

Francisco Estevão Bolota
Estevão António do Espírito Santo Massidão

 Estádio do Restelo, 19 de Março de 1972 - Época de 1971/72  (23ª jornada) 
Recorte do jornal "Record" com a devida vénia ao Blog "União de Tomar"

Belenenses, 2 - União de Tomar, 2 - “Jogou «sobre brasas» a equipa de Belém


  • Golo do Belenenses, aos 14 minutos: um lançamento da linha lateral foi captado por Ernesto, que levou a bola até à cabeceira, do lado direito, de onde tirou um bom centro. Dorado saltou com Conhé mas o esférico passou e Laurindo, surgindo rapidamente, atirou de cabeça.
  • Perto do fim da primeira parte, 2-1: os «azuis» atacaram pela direita. Ernesto surgiu de novo a centrar. Conhé não conseguiu chegar ao esférico e Laurindo, na ponta esquerda, rematou. A bola subiu por ter batido num adversário, Conhé saiu a soco, mas apenas pôde desviá-la uns metros. E Luciano, sobre a linha limite da grande área, em posição frontal, atirou em arco

Numa altura em que se diz que em Portugal há poucos extremos dignos desse nome, o Belenenses apresentou nada menos de dois: Laurindo e Fernando. São dois jogadores diferentes no estilo, mas ambos caminham para uma «forma» que os há-de notabilizar. E isso porque possuem «conteúdo» técnico. 
É provável que Laurindo possa ter ainda maior utilidade jogando no meio campo ou na posição de «ponta-de-lança», mas a maneira como executa e sabe procurar a bola, aliada à necessidade que as equipas têm de recuar, por norma, um dos extremos que pode desempenhar papel relevante na manobra do «miolo», não o impede de jogar num dos lados do campo. Com Fernando, as coisas parecem diferentes: o madeirense sente-se muito mais à-vontade junto à linha. Os dois foram, porém, os melhores jogadores do Belenenses. 

Ainda na linha dianteira, a entrada de Walter ainda afastado da «forma» melhorou imenso o sector. De qualquer maneira, Dorado teria de ser substituído. Ernesto, um tudo nada pesado, precisa de mais uns treinos a «sério». Quando ambos estiverem fisicamente bem, o problema da linha avançada do Belenenses pode estar resolvido.  

Luciano teve uma primeira parte inferior à segunda. Mas é um jogador de utilizar. Quanto a Freitas, achamo-lo muito mais útil no quarteto defensivo, onde não há segurança. Quaresma está em má «forma». Assis também não se encontra bem. Cardoso, com altos e baixos. Esteves o mais certo. E em cima de tudo isto, um mau jogo colectivo, com desacerto nas dobras e constantes erros no tempo de entrada.  

Gomes não teve culpas nos golos.


Para ler a crónica completa visite o Blog União de Tomar (a quem agradecemos), clicando aqui ou o post que publicámos no BI, aqui

Alfredo José Henriques Nascimento


"(...) Quando estava na tropa. colocado no Hospital militar de Tomar, fui médico do União.
O treinador era o Fernando Cabrita. Formavam a equipa com restos do Benfica, do Sporting e do FC Porto (*) e eu sentava-me no banco. Era o Nascimento, que tinha sido guarda-redes do Belenenses, o Calado, O Totoi, o Barnabé.

Eles estavam a jogar mal e o presidente dizia: dou mais quinhentos a cada um.
E o massagista, muito gordo, começava a correr pela linha lateral, com uma botija na mão, e gritava para o campo: mais quinhentos escudos, e eles começavam todos a correr mais depressa.(...)"

"(...) Eu olho com o mesmo respeito para um grande jogador de futebol como olho para um grande escritor. Para mim são artistas que encheram de alegria a minha vida: desde a infância. (...)"

António Lobo Antunes em entrevista a Vítor Serpa, 'A BOLA' 18.10.2008
(*) certamente por lapso, Lobo Antunes refere o FC Porto quando devia mencionar o Belenenses.

União de Tomar, 0 Belenenses, 6 - "Melodias de rouxinol garras de abutre" - Já não é só determinação, só crença, só garra, mas também do melhor futebol que se joga, hoje, em Portugal

Estádio Municipal de Tomar, 21 de Janeiro de 1973. 19ª jornada
Árbitro – Ismael Baltasar, de Setúbal

U. TOMAR – Nascimento (1) (45m – Silva Morais (1)); Kiki (1), João Carlos (1), Cardoso (2) e Raul (2) (60m – Fernandes (1)); Fernando (1), Manuel José (2) e Pedro (2); Caetano (2), Raul Águas (1) e Camolas (1)

BELENENSES – Mourinho (3) (80m – Ruas (2)); Murça (3), Calado (3), Freitas (3) e Pietra (3); Quinito (3), Quaresma (3) e Godinho (2) (15m – Ernesto (3)); Laurindo (3), Luís Carlos (3) e Gonzalez (3)

0-1, Gonzalez aos 26m; 0-2, Gonzalez aos 35m; 0-3, Laurindo aos 39m; 0-4, Luís Carlos aos 51m; 0-5, Laurindo aos 67m; 0-6, Luís Carlos aos 80m.

«No começo da segunda parte, Silva Morais (1) substituiu Nascimento. Quinze minutos depois, Raul, magoado, cedeu a sua posição a Fernandes (1).

Aos quinze minutos, Godinho, magoado, praticamente, desde o primeiro minuto, foi substituído por Ernesto (3). A dez minutos do fim, Ruas (2) entrou para o lugar de Mourinho.

Ao intervalo, 0-3.

Aos 26 minutos, 0-1. Na marcação directa de um «livre», assinalado para castigar um empurrão de Raul a Laurindo, Gonzalez, apesar do mau ângulo para remate, imprimiu efeito tal ao esférico, que, obrigando-o a descrever um arco caprichoso, o levou a entrar nas balizas de Nascimento, rente à base de um poste.

Aos 35 minutos, 0-2. Foi um golo assombroso. Gonzalez captou a bola no meio-campo do União, dominou um adversário, deu alguns passos em frente. Depois, parou e circunvagou o olhar pelo campo que tinha à sua frente, dando-nos a sensação de estar a escolher o sítio para onde queria fazer seguir a bola. Escolheu o ângulo superior direito das balizas e, com um remate estupendo, fez entrar o esférico por lá.

Quatro minutos depois, 0-3.
Do meio-campo tomarense, Ernesto lançou a bola, em profundidade, por entre os defesas adversários. Rápido no arranque, Laurindo passou por eles, isolou-se na grande área e, quando Nascimento, completamente desamparado, tentou sair-lhe ao caminho, evitou-o, arrastando a bola consigo e rematando-a, depois, tranquilamente, para as balizas desertas.

Aos seis minutos da segunda parte, 0-4. Murça apanhou a bola na zona do círculo central, sobre o lado direito. Foge que foge, passa que passa, atingiu, isolado, a grande área dos nabantinos, onde, tendo apenas Silva Morais, na sua frente e podendo, legitimamente, aspirar a ser ele o marcador do golo, preferiu entregar o esférico a Luís Carlos, que rematou sem dificuldade.

Aos 22 minutos, 0-5. Descida rápida do ataque belenense, com passe final de Luís Carlos para Laurindo, que, já em plena grande área, visou o alvo e acertou nele.

A dez minutos do fim, 0-6. Foi Luís Carlos o autor do golo, numa jogada algo semelhante à que dera a Laurindo o tento anterior e que bem ilustra a facilidade com que os jogadores lisboetas penetraram durante toda a partida, na defesa do União.

Titulo e sub-titulo com indirectas a António Medeiros, treinador do União

Até há pouco, muita gente (toda a gente) achava surpreendente o facto de o Belenenses, com os jogadores do ano passado, mais o ex-nabantino Calado e o paraguaio Gonzalez conseguisse realizar a «performance» que o guindou ao segundo lugar da classificação geral, onde, neste momento, desfruta da confortável vantagem de cinco pontos de avanço sobre o Sporting. Tem-se chamado a esse «prodígio» dos «azuis» o «milagre de Scopelli», um nome que vai ficar, sem dúvida, duplamente, histórica nos anais do grande clube lisboeta.

Mas o «milagre de Scopelli» não foi só esse de pôr a sua equipa a ganhar jogos e pontos, como, durante muito tempo, se supôs. Na verdade, o Belenenses convencia mais pelos resultados do que pelas exibições, impressionava mais pela força física e anímica dos seus jogadores do que pelos primores do seu futebol. Por outras palavras: poderia admitir-se que, mais do que um produto da técnica e da táctica, o Belenenses seria… um «estado de espírito». A ser verdadeira esta hipótese comportaria sérios perigos, porque permitiria o receio de que, no dia em que os resultados começassem a mostrar-se desfavoráveis, o tal «estado de espírito» se fosse desvanecendo, desmoronando-se e provocando o próprio desmoronamento da equipa. É que os tais «estados de espírito» são excelentes adjuvantes de uma equipa de futebol, mas não bastam para lhes dar longa vida, isto é, para as «prolongarem» para além do tempo que duram os efeitos dos bons resultados e das boas classificações.

Ontem, porém, tivemos a confirmação de que o «milagre de Scopelli» não consistiu, apenas, em dar ao Belenenses uma equipa transitória, nascida dos efeitos efémeros de uma excelente carreira no Campeonato deste ano. Foi mais longe a visão do «arquitecto», penetrou mais fundo o dedo do «construtor». Na verdade, o Belenenses já não é só determinação, só crença, só garra, só um «estado de espírito», mas também pratica do melhor futebol que se joga hoje em Portugal.

Efectivamente, futebol como aquele que os «azuis» exibiram, ontem, em Tomar, não pode aparecer por acaso, ao sabor de tarde de inspiração. Para o pôr em prática, não obstante a vivíssima oposição do adversário e as condições desfavoráveis do ambiente (piso lamacento e tarde chuvosa), é necessário que os jogadores o sintam, o saibam de cor.

No título desta crónica, usamos uma imagem que pode parecer algo presunçosa e descabidamente poética: «melodias de rouxinol e garras de abutre». Mas foi assim mesmo, porque o Belenenses modelou jogadas de sonho, sem perder em nada da sua virilidade, da sua pujança atlética e psicológica, do realismo criador que tem caracterizado muitas das suas actuações neste Campeonato. Jogou bem; por vezes, extraordinariamente bem, mas lutando, sempre, pela forma decidida e empolgante que se lhe tem visto. Técnica e táctica, velocidade e força, segurança na defesa e poder realizador no ataque – não será tudo isto suficiente para definir uma equipa de firme presente e de grande futuro?

De sorte que, ao ver o Belenenses jogar assim – jogar como só as grandes equipas o podem e sabem fazer – demos connosco a pensar que já não surpreende o facto de estar no segundo lugar da classificação, a cinco pontos do Sporting e a sete do Vitória de Setúbal. O que espanta, isso sim, é que os «azuis» se encontrem a nove pontos do Benfica…

Gigantismo artificial

Outra ideia que não nos largou, durante a maior parte do encontro, foi a de como são descabidos, inúteis e, porventura, perniciosos, certos processos de «gigantismo artificial», de que alguns treinadores usam e abusam, não sabendo se convencidos de que conseguirão, por esse modo, superar as deficiências de «matéria prima» com que trabalham, se desejosos, antes, de se lançarem, por essa via, nas tubas da popularidade.

A verdade é que o método não tem dado os resultados que os seus autores dele fiavam. Viu-se isso com o Belenenses de há algumas épocas. Assiste-se, agora, de novo, à mais completa desautoração do processo. Não é com palavras sonoras, com promessas ribombantes, com afirmações megalómanas, que se constroem grandes equipas e conquistam resultados sensacionais. O futebol é outra coisa: são bons jogadores, são tácticas adequadas, são defesas que defendam, são ataques que marquem golos.

Que no-lo perdoe o treinador do União – que não precisa do nosso aval, nem das suas fantasias, para ser, na verdade, um homem com muitas possibilidades de êxito na espinhosa profissão que abraçou – mas discordamos, frontalmente, dos métodos de mentalização psicológica com que fez crer a jogadores e adeptos do União na existência de uma grande equipa em Tomar. A verdade é que o União não tem – nem poderia ter, se nos lembrarmos de que, na sua maioria, os jogadores de que dispõe já haviam sido testados em clubes com muitas aspirações – essa grande equipa. O União tem (ou poderia ter), isso sim, uma equipa mediana, suficientemente apta a fazer carreira tranquila no Campeonato. Para mais do que isso, não. Afigura-se-nos, por isso, um erro lamentável obrigar tanta gente a sonhar com castelos dourados, para, na hora da verdade, lhe fazer sentir todo o doloroso desencanto destas horas de frustração e de inquietação, já com o espectro dos últimos lugares a rondarem pela porta da «super-equipa» que até fazia curvar à sua passagem os peixinhos do Nabão.

Sinceramente, o que o União de Tomar precisa, neste momento, não é de palavras bonitas, mas sim da VERDADE, ainda que esta seja menos agradável de ler ou ouvir do que aquelas. É preciso fazer cessar o sonho e regressar à realidade. As «vedetas» da «super-equipa» precisam de voltar, urgentemente, ao seu lugar de «bons jogadores» de uma «equipa mediana».

Hão-de perdoar-nos, pois, os jogadores, os adeptos e o técnico do União, que, em vez de continuarmos a acariciar o seu sonho, em vez de juntarmos a nossa voz ao coro dos que os endeusam, tentemos obrigá-los a volver os olhos para a terra, para a realidade. O União pode salvar-se de danos maiores e de desilusões ainda mais dolorosas, se descer dos castelos roqueiros da ilusão por onde tem andado. Não o conseguirá, todavia, se persistir na sua miragem, que, como todas as miragens, desaparecerá de forma impiedosa e cruel – mais cruel e mais impiedosa do que possam parecer estas nossas palavras.

Lição de humildade

Mas joga mal o União de Tomar?
Não, não joga, se atendermos apenas ao lado técnico da sua forma de jogar. E é aí, precisamente, que nos parece residir o fundo do problema, a razão principal dos seus enganos e desenganos.

Na verdade, segundo o que vimos ontem, a equipa nabantina preocupa-se mais com a forma do que com os efeitos. Gosta do futebol bonito, rendilhado, com lances que levem um ou outro espectador mais entusiástico e precipitado (ou menos atento às veras necessidades da equipa) a gritar lá do seu posto de bancada: «Olé!»

«Olé!» Uma bonita finta, um rico drible, uma vistosa combinação. E os tais espectadores gritam: «Olé!» Não reparam, porém, que a bola girou, passou dois ou três pés, mas progrediu (quando progrediu) apenas alguns metros…

De início, ainda se notou, na equipa nabantina, a preocupação de jogar para as balizas do Belenenses, para o remate, para o golo. Não diremos que o tenha feito muito bem, porque o jogo miúdo e excessivamente burilado do meio-campo se sucediam os passes muito longos para os «pontas-de-lança» (Camolas e Raul Águas) e porque estes, sem terem com quem trocar a bola (os centro-campistas lançavam o esférico e ficavam-se nas covas, a ver no que paravam as modas), corriam a toda a brida no encalço dela e, mal a tinham ao alcance do pé, «vai de rematar que é uma pressa».

De qualquer modo, este começo do União teve mérito, criou sensação e produziu os seus efeitos. Teve, pelo menos, o condão de obrigar o Belenenses a pensar duas vezes, antes de se lançar, ele próprio, à conquista do golo.

Na verdade, a equipa lisboeta deu, na circunstância, uma bela lição de humildade e de sentido realista. Tudo quanto, nesse período de dificuldades, os belenenses quiseram fazer (e fizeram) foi no sentido de controlar o jogo, fechando bem a sua defesa, constituindo um bloco polivalente a meio do terreno e fazendo o possível para manter a bola em seu poder. Depois, a pouco e pouco, à medida que o ímpeto dos «pontas-de-lança» tomarenses, desbastados pelas correrias em que se lançavam e pela rijeza da oposição que lhes era movida, ia estiolando, começaram os lisboetas a gizar as primeiras jogadas de ataque, a tentarem os primeiros remates à baliza de Nascimento. Poucos remates, mas bons, com especial relevo para um de Quinito, aos dezanove minutos, que fez estoirar a bola na trave.

A defesa do União, tão mal apoiada pelos companheiros da linha média quanto o fora antes o ataque, ainda resistiu, durante alguns minutos, à vaga, sempre crescente, em caudal e em explosões de velocidade, dos dianteiros «azuis». Cometeu, porém, um erro bastante grave. É que, desconhecendo uma das particularidades mais significativas do Belenenses actual e sugestionada, talvez, por aquilo que tem ouvido a respeito de Quaresma, a defesa nabantina cuidou que, vigiando bem as «saídas» do médio belenense e matando as iniciativas de Luís Carlos (o ponta-de-lança, único, dos «azuis»), estaria a salvo dos golos. Ora, como se sabe, os dois extremos do Belenenses são, em conjunto, os responsáveis pela maior parte dos golos da sua equipa.

Quando o União de Tomar deu pelo engano (se é que deu por ele), tinha três golos nas suas balizas. Laurindo e Gonzalez tinham sido os seus autores…


Lição (magistral) de futebol

Devemos esclarecer que o avanço do Belenenses, ao intervalo, era, já, o corolário lógico de uma superioridade esmagadora. A sua defesa dominava, sem problemas, o «mini-ataque» do União. Sobrava-lhe tempo para se meter pelo meio-campo, para se aventurar até às imediações das balizas tomarenses. Médios e avançados constituiam um bloco em constante movimento, um bloco em que uns e outros se interpenetravam, se ajudavam e completavam reciprocamente, a pontos de, muitas vezes, ser impossível dizer quem seria o médio e quem o avançado.

Na verdade a equipa do Belenenses parece já ter atingido esse grau de mecanização perfeita, que, noutras equipas, só ao cabo de vários anos de actividade em comum, os jogadores alcançam. Bola recebida, bola passada, jogador para receber e tornar e passá-la, sem que se quebre o fio à meada. Com ritmo vivo, com variantes sucessivas, com mudanças de velocidade inesperadas. Uma máquina, mas uma máquina que pensa, que inventa, que se recreia e entusiasma com aquilo que lhe sai do pensamento e dos pés. Nada que se pareça com o frio automatismo das máquinas de aço. Esta máquina do Belenenses tem sangue nas veias, massa cinzenta na cabeça, nervos por todo o corpo. Sabe, quer e pode.

Foi deveras fantástica a forma como a equipa lisboeta conseguiu, mesmo quando o União tentou tudo (incluindo, aqui ou acolá, um lance mais duro, de intimidação pura) abrir os espaços vazios necessários à sua progressão para as balizas. Uma finta, um passe, um centro, um cruzamento, quando menos se esperava ou para o sítio que menos se supunha, e eis que o caminho surgia, limpo e amplo, com um jogador belenense (ora este, ora aquele) a correr por ele em direcção ao alvo. Prodígios de varinha de Moisés abrindo passagem pelas águas do Mar Vermelho – passe mais esta hipérbole, com licença do leitor mais prosaico, a quem as imagens possam causar enfado.

O ataque do Belenenses não «está lá»; «aparece lá»… nos momentos precisos. Como? À força de mudanças de velocidade, de talento, de engenho inventivo, de conjugação de ideias e movimentos. Será esse um dos seus segredos?

Na tarde de ontem, pelo menos, foi. E, depois da bela lição de humildade com que principiou a partida – uma partida em que muitos receavam que os nabantinos cortassem as asas aos «pássaros azuis» – o Belenenses terminou a sua esplêndida exibição em Tomar, com uma lição magistral de futebol. O resultado (o melhor de quantos qualquer equipa obteve neste Campeonato, em campo adversário) sugere muito, mas não diz tudo. É preciso ver jogar o Belenenses como jogou ontem, para acreditar que, em tão pouco tempo, o «milagre de Scopelli» atingisse tais proporções.

Quem distinguir?

Habitualmente, este capítulo final das crónicas é destinado a pôr em evidência os nomes e os méritos dos jogadores que mais se distinguiram.

Relativamente ao Belenenses, temos um problema: não sabemos por quem optar.

Por Mourinho, que, sem ter sido muito posto à prova, não cometeu um único erro, nem deu uma única oportunidade a qualquer adversário?

Por Murça, que foi defesa, médio, extremo, «ponta-de-lança», segundo o favor do momento e da inspiração e fez alarde de uma técnica que muitos médios e avançados cobiçariam?

Por Calado, senhor incontestável da zona fronteira às suas balizas, tão firme a defender como exímio a transformar em começo de ataque quase todas as jogadas que lhe morriam nos pés?

Por Freitas, pletórico de energia e de entusiasmo, de eficiência e de abnegação?

Por Pietra, que como a própria equipa, denota progressos em cada jogo, a pontos de já poder ombrear com os «grandes» do seu lugar?

Por Quinito, um mouro de trabalho e de talento estratégico, tal como Quaresma e Ernesto, este último (espantoso!) a executar tão bem como os melhores executantes da sua equipa?

Por Gonzalez, com o seu portentoso segundo golo e uma mão cheia de jogadas dignas de figurar numa antologia dos artistas de futebol?

Por Laurindo, que, depois de um começo apagado e triste, se ergueu até à altura do Laurindo dos grandes dias?

Por Luís Carlos, a abrir caminho aos colegas, à custa do seu denodo, da sua aplicação, do seu dinamismo – e a marcar ele próprio, dois excelentes golos?

O mesmo problema se nos depara, em relação ao União de Tomar, mas por razões diferentes. Quem deveremos distinguir?

No bem, poucos, talvez nenhum. No mal… Não falemos em coisas tristes. O União de Tomar está a despertar de um sonho. É tempo de encarar de frente à realidade. Toca a descer das nuvens, a arregaçar as mangas…

Com alguns erros de somenos, a arbitragem de Ismael Baltasar situou-se em plano razoável. Compreendemos perfeitamente o rigor de que, em determinada altura da primeira parte, usou. O jogo estava a «aquecer» demasiado. Era preciso «salvá-lo». Bastaram dois «cartões amarelos» (a Fernando e Ernesto) na altura própria.»

(“A Bola”, 22.01.1973 – Crónica de Alfredo Farinha)


Post do excelente blog UNIÃO DE TOMAR, que muito agradecemos

Ir ao Restelo e não ver o «Papa-Gonzalez» - interessa atacar ou interessa marcar?

Estádio do Restelo, em Lisboa, 30 de Setembro de 1972 - 4ª jornada
Árbitro – Inácio de Almeida, de Setúbal
BELENENSES – Mourinho (2); Murça (2), Calado (2), Freitas (2) e João Cardoso (2); Quaresma, «cap.» (1); Quinito (1) e Godinho (2); Laurindo (1), Luís Carlos (2) e Gonzalez (1)

U. TOMAR – Silva Morais (1); Kiki (1), João Carlos, «capitão» (2), Cardoso (2) e Fernandes (1); Raul (1), Manuel José (2), Pedro (2) e Caetano (0) (40m – Pavão (0)); Bolota (1) (67m – Beto (0)) e Camolas (2)

1-0 – Luís Carlos – 52m
2-0 – Luís Carlos – 85m

«Substituições – Aos 40 minutos do primeiro tempo, Pavão (0) rendeu Caetano e, aos 22 minutos da segunda parte, Beto (0) substituiu Bolota.

Ao intervalo: 0-0.
Na segunda parte: 2-0.

Aos 7 minutos, 1-0, por Luís Carlos. O Belenenses carregou para cima da baliza, com mais um cruzamento. Silva Morais saltou e defendeu atabalhoadamente para a sua frente. Godinho recargou com o pé direito. A defesa de Tomar aliviou em aflição e a bola ressaltou nos pés de um belenense voltando para a baliza tomarense, perto da qual, Luís Carlos conseguiu desviá-la, com um ligeiro toque. Sobre o risco, Kiki e um colega da defesa deixaram a bola esgueirar-se para a rede.

Aos 40 minutos, 2-0, por Luís Carlos. Foi a melhor jogada do desafio. Godinho levou a bola até à linha de cabeceira e, daí, centrou atrasado, pelas costas da defesa tomarense. O brasileiro que vinha na corrida, não teve quaisquer dificuldades em, de frente para a bola, lhe dar o toque final.

Resultado final: 2-0.
———
Foi um jogo muito calmo. Muito correcto. A equipa da «casa» a tentar atacar, nem sempre pelo processo mais aconselhável. A equipa visitante a defender-se, as mais das vezes, com acerto, outras já em situação de recurso e sem toda a lucidez necessária. Acabou por ganhar a melhor equipa. A que jogava em «casa». A que atacou mais. Ainda que nem sempre…

Foi este o primeiro desafio do campeonato em que o Belenenses teve efectivamente que atacar, atacar desde o primeiro ao último minuto. Antes, não tinha sido assim. Contra a Cuf, no Barreiro, foi uma «batalha» entre os meios-campos e um jogo decidido pelo melhor contra-ataque. Contra o Vitória, sabe-se que talvez com uma única excepção, nenhuma equipa portuguesa pode jogar deliberadamente ao ataque, só ao ataque. E nas Antas, contra o F. C. Porto, o Belenenses actual também não pôde realizar uma exibição de ataque franco e aberto.

Pois, agora, contra o Tomar, foi este o primeiro jogo, em que o Belenenses teria, em princípio, que abrir e ir aberta, francamente, para o ataque. Este jogo mostrou que a dimensão actual do Belenenses ainda não comporta que a equipa de Belém ataque tão bem como o faz na defesa e no meio-campo. Mas, de qualquer maneira, deu indicações…

Sabe-se que uma grande equipa não se faz num dia. Nem num mês. Nem num ano. Scopelli começou pelo princípio. Neste momento, alguns meses após o seu primeiro dia de trabalho, o Belenenses é uma equipa que defende muito bem. Que joga muito bem no meio-campo. Mas que, quanto tem de abrir-se para o ataque, ainda o faz com algumas deficiências. Vai ser este, aliás, o capítulo mais difícil do trabalho de Scopelli. Aliás, sabe-se que é sempre assim. É muito mais difícil atacar do que defender. Ou contra-atacar. Por isso, até que o Belenenses venha a ter uma grande equipa de ataque, ainda vai levar o seu tempo. Se é que o Belenenses tem jogadores para isso. Se é que o Belenenses está interessado nisso…

O Belenenses-72 é uma equipa que sabe jogar. No sábado, a defesa foi impecável. Mas o meio-campo, não. E o ataque, também não.

Onde falhou, então, o meio-campo de Belém, que tão bem jogara contra o fabuloso «miolo» de Setúbal e contra o F. C. Porto e a Cuf cujos «calcanhares de Aquiles» não são, como se sabe, o meio-campo?…

Quaresma. Tem sido um homem precioso na nova posição que Scopelli lhe reservou na equipa. Ligeiramente adiantado em relação aos defesas, numa linha logo a seguir. Quaresma foi precioso nos três primeiros jogos. Mas, no sábado, foi um «homem a mais». Que fazia Quaresma lá atrás? Que defendia ele?

A resposta foi dada logo nos minutos iniciais. Quaresma ficava, efectivamente, lá atrás porque Murça e Cardoso se adiantavam muito a tentarem flanquear a defesa de Tomar. Então, Quaresma estava atento às «dobras». Quando o meio-campo de Tomar, especialmente Pedro – que tem tanto de bom jogador como de indisciplinado tacticamente – tentava aproveitar o adiantamento dos laterais belenenses «metendo» em profundidade a bola pelas suas costas, aí estava Quaresma a entrar em acção e a mostrar a sua utilidade.

Em teoria, portanto, estava certíssimo. Mas na prática, como resultou o sistema?

Do outro lado, o Tomar tinha quatro homens no meio-campo. Com uma única excepção (Pedro) destinados quase exclusivamente a apoiar a defesa formando, assim, uma segunda linha de defensores. Com o avanço dos laterais, pretendia-se o único lance que poderia resultar para destroçar aquela defesa de Tomar. A fuga até à linha de cabeceira e, daí, o centro atrasado para diante de um homem que se desmarcava, então, em corrida, e tinha, assim, a vantagem de receber a bola de frente enquanto os defesas a tinham a passar pelas costas.

…Porque, de contrário, era impossível. Com cruzamentos, centros a «pingar» sobre a baliza, sucedia exactamente o contrário. Eram os avançados «azuis» que tinham a bola pelas costas e eram os defesas de Tomar que estavam de frente para a bola. Isto é, com todas as vantagens.

Portanto, certíssimo – na teoria. Mas, na prática?
Murça defendeu muito bem os poucos lances em que teve que intervir. No entanto, nem sempre por culpa sua, dizemos, porque se não lhe prestou o apoio de que necessitava. Quando Murça vinha com a bola, nem Quinito nem Laurindo vieram ter com ele para a «tabela» que podia dar a desmarcação que levasse a bola até ao fundo.

Do outro lado, João Cardoso também não foi bem auxiliado. Quando tentou o serviço à frente, só Godinho o ajudou. Quaresma foi solicitado por vezes, mas não colaborou como deveria. Gonzalez também, mas nunca se decidiu pela «tabela». Recebia a bola de Cardoso e, depois, tentava fazer ele o lance, ou rematando de longe ou tentando «furar» ele pelo impossível centro da defesa de Tomar.

Portanto, voltando a Quaresma, que se passou com o abnegado jogador?

Os laterais de Belém não conseguiram passar com a bola, por isso, passavam a bola. Nem sempre bem, muitas vezes, tentando o lançamento à distância, condenado pela super-concentração do meio-campo e defesa de Tomar. Por isso, os laterais estavam lá atrás. Por isso, Quaresma não era preciso lá atrás.

O próprio Scopelli o terá reconhecido. Por isso, na segunda parte, Quaresma veio «solto» cá para a frente. Podia ter sido o homem do jogo, os outros estavam «marcados». Ele era o «homem que sobrava». Ainda fez dois ou três remates à baliza.

Invariavelmente tortos. Também não se pode exigir a Quaresma que defenda, hoje, e vá amanhã marcar golos lá à frente. Às vezes poderá acontecer, mas por sistema…

Foi esse o falhanço – Quaresma, como homem do meio-campo, virado para o ataque.

… Mas houve mais. Houve, tambéma má noite de Quinito. Quis despachar muitos lances com pressa demasiada. Muitos lançamentos compridos. Outras vezes, longas correrias a tentar «furar» quase sempre pelo meio. Além disso, serviu muito mal Laurindo que precisava da bola à sua frente e não da bola nos pés, que ele tinha que dominar e, quando o fazia, lá tinha Fernandes «em cima». Mesmo assim, por vezes, ainda Laurindo conseguiu esgueirar-se-lhe, porque Fernandes jogou muito precipitado, sempre a tentar a antecipação e às vezes a ser «enganado» por uma rápida simulação de corpo ou um pequeno toque do desconcertante Laurindo, que no entanto, não foi, anteontem, tão desconcertante como é costume.

…E Gonzalez? Muita gente terá ido ao Restelo para ver Gonzalez. As pessoas foram lá – mas Gonzales, não. Não «esteve» lá. – Talvez por isso mesmo, porque é mais difícil atacar… em ataque aberto e franco, do que em contra-ataque. E Gonzalez tinha sempre Kiki «em cima» e, quando tentava esgueirar-se (pelo meio) lá estavam João Carlos e Cardoso, impecáveis desde o princípio até… cinco minutos do fim.

Mas houve um homem que jogou sempre muito bem. De princípio a fim. Foi Godinho. O «rei» do meio-campo. Beneficiou das largas concedidas por Pedro, que não o marcou a ele, nem a ninguém. Mas fez o jogo de que a equipa necessitava. Foi o que mais tentou que Laurindo e Gonzalez fossem à linha de cabeceira. Exemplificou excelentemente «como era», com o golo – uma jogada espectacular, que, no entanto, só pecou por tardia, pois veio apenas a cinco minutos do fim. Também foi o que veio mais vezes atrás para o apoio do que os laterais necessitavam sempre que queriam ir lá à frente, pelos seus flancos.

E o Tomar? Foi sobretudo, uma equipa lutadora. Que aceitou a luta desde o princípio até ao fim, e nunca se desuniu. Trazia a lição bem estudada. Quatro homens lá atrás, a jogarem na antecipação. A marcar «em cima» os «azuis» sempre que eles estavam lá pelas imediações da baliza. E a deixarem que a segunda linha (os homens do meio-campo) o fizesse quando eles recuavam a tentar tirar os tomarenses de lá de trás.

Silva Morais não fez, praticamente, uma única defesa. Só intercepções a cruzamentos, saídos e centros, e captando bolas fáceis.

…Mas tudo isto com um estilo pouco convincente. No lance do primeiro golo, repeliu a bola a soco, para a sua frente, em vez de desviá-la para os lados. Quanto ao resto, um tanto «desajeitadão», mas lá foi defendendo as poucas bolas que lhe atiraram para cima da baliza, umas agarrando à primeira, outras nem por isso.

Depois, uma defesa com dois centrais nas suas «sete quintas». João Carlos e Cardoso. Ambos altos. A jogar de frente para a bola. Saltando sempre mais alto que os belenenses, todos «rodas baixas», passe a comparação «automobilística». Todas as facilidades, e a exibição, por isso, certa. Só no segundo golo, é que já terão tido as suas culpas. É certo que deixaram Luís Carlos sózinho – um homem que não jogou bem, que se «mexeu» muito pouco mas que apareceu quando foi preciso, em dois lances que deram dois golos.

Os laterais acusaram mais dificuldades que os do meio. Apesar de tudo, Laurindo ainda criou problemas a Fernandes e Kiki foi obrigado a muito pontapé para o ar, para se salvar Gonzalez, a ameça que afinal não veio.

No meio-campo, o Tomar teve em Manuel José um elemento precioso. Não só a defender, e «marcou», muito bem, Gonzalez sempre que este recuava e se «metia» pelo meio, como ainda e, depois do 1-0, a tentar que Camolas, lá à frente, conseguisse o empate.

Também Pedro jogou muito bem, mas só a atacar. Não «marcou» ninguém mas teve bons serviços para Bolota e Camolas, este a causar mais perigo do que aquele que, no entanto, foi mesmo assim mais perigoso que Beto.

Raul foi o que sentiu mais dificuldades. Como Pedro não marcou Godinho, ele tentou «dobrá-lo», mas não o conseguiu. Godinho ganhou-lhe muitos lances e foi o melhor do meio-campo.

Quanto a Pavão, que entrou para tentar esgueirar-se pelo flanco esquerdo da defesa belenense a aproveitar-se dos adiantamentos de João Cardoso, nunca conseguiu fazê-lo. Acabou por não atacar nem defender, igualando-se, assim, ao fraco rendimento de Caetano, que tinha sido o mais fraco do «miolo» tomarense no primeiro tempo.

Por todas estas razões, o Belenenses não conseguiu ser, ainda, uma equipa de ataque, na completa acepção do termo. A equipa ainda não está dimensionada para isso – e nos parece, aliás, que tenha jogadores para vir a sê-lo.

Só faltará, agora, perguntar, e se o Belenenses está efectivamente muito interessado em ter uma equipa de ataque. Ou não lhe interessará mais uma equipa que jogue bem e ganhe?

Faltará agora saber, é se esta equipa ganhará os jogos – os jogos em «casa»? Anteontem, venceu sem apelo nem agravo, com golos «limpos», sem favores do árbitro, que foi, aliás, a pessoa que passou mais despercebida na noite – e esse é o seu melhor elogio – sem nunca dar a sensação de a vitória estar em perigo.

Só que Silva Morais não foi chamado a efectuar uma verdadeira defesa a remate dos belenenses. Só intercepções, só cortes…

No entanto, não interessam os remates mas os pontos. E se Belém conseguir, em «casa» apurar, mais, este seu equilíbrio entre equipa que sai de um «contra-ataque mais defensivo» para um ataque que é, muitas vezes, um «contra-ataque mais ofensivo», não haverá muitas «goleadas» mas pode haver muitas vitórias nesta nova fase de uma equipa que não deslumbrou mas, para continuar a ser igual a si própria, jogará tanto melhor quanto mais forte for a réplica que encontrar.»

(“A Bola”, 02.10.1972 – Crónica de Jorge Schnitzer)

Post da autoria do excelente blog UNIÃO de TOMAR , que muito agradecemos

O fugaz líder do campeonato de 1972-73 visto pelo lápis de Martins

DOMINGO DE MANHÃ
"- Depressa querida, vai-me comprar os jornais que quero ver o Belenenses à frente da classificação."

  • Restelo, sábado, 30 de Setembro de 1972, o Belenenses vence por 2-0 o União de Tomar, em jogo antecipado da 4ª jornada o que lhe permite liderar a classificação por 24 horas, na época em que se sagrou vice-campeão nacional pela última vez.

Muito brio «azul» na primeira vitória «fora»


Estádio Municipal de Tomar, 5 de Janeiro de 1969.Árbitro – Porfírio da Silva, de Aveiro
U. TOMAR – Arsénio (1); Kiki (1), Caló (2), Dui (1) e Santos (1) (45m – Barnabé (2)); Bilreiro (0), Faustino, «cap.» (1) e Cláudio (2); Leitão (1) (83m – Lecas (1)), Alberto (1) e Totoi (1)
BELENENSES – Mourinho (3); Assis (3), Quaresma, «cap.» (3), Murça (3) e Esteves (3); Cardoso (1) (77m – Adelino (1)), Saporiti (2) e Luciano (3); Laurindo (3), Sérgio (1) (63 – Ernesto (1)) e Godinho (2)
0-1 – Laurindo – 43m. Ao intervalo: 0-1.
O único golo do desafio foi marcado por Laurindo aos quarenta e três minutos. Do lado direito, Sérgio escapou-se a dois adversários e, com boa visão, fez um cruzamento largo, para Godinho, que bateu Kiki e correu até à linha de cabeceira, de onde centrou, por alto. Apareceram para o remate, três jogadores belenenses (Saporiti, Laurindo e Sérgio) e nenhum tomarense – nem o próprio guarda-redes, Arsénio, apesar de a bola «pingar» já dentro da sua pequena área. Elevando-se, tal como aqueles seus dois companheiros, Laurindo desviou o esférico, com a cabeça, para o lado esquerdo da baliza.
No segundo tempo: 0-0. Resultado: 0-1.
Cremos que o União de Tomar tem razões para se lamentar do facto de, na impossibilidade de melhor, não ter empatado sem golos este jogo com o Belenenses, pois afigura-se-nos indiscutível que o golo que sofreu e que o derrotou só se terá verificado por manifesto lapso ou apatia momentânea de parte da sua defesa – nomeadamente, os dois «centrais», que «não estiveram lá», e, sobretudo, do seu guarda-redes, que ficou entre os postes, não saindo a cortar o «centro» e permitindo, assim, que nada menos de três dianteiros adversários se apresentassem, a poucos metros de distância das balizas, em posição e com tempo e espaço mais do que suficientes para rematarem com êxito.

E, deste modo, perderam os tomarenses pela terceira vez em «casa», neste «Nacional», depois de ali já terem sido vencidas equipas da força e do prestígio do Sporting (2-1), da Académica (2-1) e do Vitória de Guimarães (3-1) e onde apenas haviam sido vencedores o F. C. Porto (2-0) e o Varzim (3-1), sendo a Cuf (1-1) o outro único visitante a não deixar ficar os dois pontos em discussão.

A par daquele lance infeliz dos nabantinos, porém, julgamos, igualmente, que está fora de toda a causa e possível dúvida o mérito com que o Belenenses foi conseguir a Tomar esta vitória preciosa – que é a primeira por si alcançada na prova, em terreno alheio, e que, por isso mesmo, maior satisfação deu, com certeza, aos adeptos do prestigioso clube do Restelo, os quais, em dia frio, mas de sol aberto e, como tal, convidativo à deslocação, compareceram ao jogo em número apreciável, e, assim, bastante contribuíram para a «boa assistência» registada no airoso (se bem que ainda longe do ideal, a começar no terreno pelado e a acabar nos acessos…) Estádio Municipal de Tomar.

Poderão os nabantinos lamentar-se, também, de que a sua equipa dominou intensamente, em quase todo o segundo tempo e acabou por perder com um antagonista que, não sofrendo qualquer golo nesse longo e insistente assédio que sofreu, teve a «sorte» de marcar um, pertíssimo do intervalo, atingido com a lógica a dizer a toda a gente que a igualdade reflectiria melhor o verificado nos 45 minutos até então jogados.

Mas, numa serena análise de consciência e dos factos, pensamos que nem os tomarenses mais apaixonados deixarão de reconhecer, agora, duas verdades que temos por firmes e indesmentíveis: – também há mérito no aproveitamento da única verdadeira oportunidade de golo de que se dispõe e nada mais houve do que nervos e frenesi no intenso domínio territorial exercido pela equipa do União – comprometida, até, e, em grande escala, pelo tom lamentavelmente «azedo» que alguns dos seus elementos puseram no despique, a partir de certa altura – com triste evidência para Bilreiro, acrescente-se já.

Ao invés, souberam todos os jogadores «azuis» manter sempre uma notável «frieza» de ideias e de espírito e, como o brio e a coragem também nunca faltaram a nenhum deles, eis porque encontramos justiça e merecido prémio na vitória do Belenenses – vitória que, além de ser a primeira em terreno alheio, tal como já dissemos, também é a primeira desde a sétima jornada (4-1, no Restelo, ao Varzim) e põe cobro a uma curiosa série em que derrotas e empates se alternaram, regularmente: 1-3 com o Atlético (fora), 0-0 com o Sporting («casa»), 0-2 com o V. Guimarães (fora), 1-1 com a Cuf («casa»), 0-2 com a Académica (fora), 1-1 com o F. C. Porto («casa») e 1-2 com o Benfica («casa»).
Por outras palavras: – o Belenenses, ontem, num só jogo e no campo do adversário conquistou apenas menos um ponto (2) do que nas sete anteriores jornadas (3).

O jeito descomandado e aqui e além, muito rude que os nabantinos imprimiram ao seu futebol, em quase todo o segundo tempo, teve tanto mais de surpreendente, até, quanto mais se atentar no que se lhes viu em toda a primeira parte, quando se entregaram a jogar apenas com vigor e energia e, não fazendo a bola subir a alturas demasiadas (salvo num ou noutro lance esporádico), levaram o duelo a pender mais para o meio-campo belenense, criando situações de certo perigo e mostrando-se os tomarenses, por isso, aparentemente encarreirados no caminho do triunfo.

Em contrapartida, pode afirmar-se que escassas ameaças foram geradas, então, pelo ataque do Belenenses, que só por intermédio dos extremos (especialmente, por Laurindo) adregou penetrar mesmo na grande área adversa e que, exceptuado o lance do golo, apenas aos 35 minutos esteve à beira de marcar, quando o mesmo Laurindo rematou por cima da barra, em boa posição e com Arsénio (desamparado) a sair ao seu encontro.
Valeram aos «azuis», nesses 45 minutos de abertura, o acerto e a coesão da sua defensiva, que nem tornou necessário, sequer que Mourinho se visse forçado a intervenções de autêntico apuro – se bem que chamado a jogo com bastante frequência.

O golo belenense, porém, surgindo perto do intervalo, deve ter perturbado em demasia os homens de Tomar, que regressaram ao terreno como que «revoltados» pela desvantagem, e sem a serenidade e o relativo esclarecimento anteriores, passaram a levantar a bola e, consequentemente, a dar origem a choques sucessivos, que cedo deixaram «marcas» em Luciano (por duas vezes, ambas a cargo de Bilreiro – uma delas, já sem bola) e em Quaresma.

Neste jeito, que chegou a fazer recear pela manutenção da boa ordem dentro do campo, perdeu imenso o espectáculo, obrigatoriamente, e ter-se-á perdido o União, que mais não conseguiu, até cerca da meia hora, do que «despejar» a bola sobre a grande área belenense que «cerrou fileiras», acantonando ali a quase totalidade dos seus onze elementos.

Não se desgastaram, por isso, os jogadores «azuis», mas sim os tomarenses, que acabaram por ver os adversários sacudirem aquela enorme e atabalhoada pressão e, nos derradeiros quinze minutos, serem até os lisboetas (substituído Sérgio por Ernesto, sem vantagem, e Cardoso por Adelino, que trouxe algo mais de clareza ao jogo) a estarem mais perto de consolidar o seu avanço – para o que teria bastado um Ernesto na sua «forma» normal.

Duas substituições se fizeram, entretanto, também, nos nabantinos, que, desde o intervalo, ainda colocaram Faustino ao lado de Alberto, como «ponta-de-lança», derivando Leitão para a direita e passando a equipa a ter, assim, quatro homens fixos na frente. Mas nem a mudança táctica trouxe benefícios (dado o processo de jogo seguido), nem a acção de Barnabé (se bem que superior à de Santos) pôde influir grandemente (por se tratar de um defesa), nem Lecas mostrou vantagem sobre Leitão – até por ter jogado, apenas, sete minutos e sete minutos de um período em que só o Belenenses existia como equipa organizada e confiante.

Ao União de Tomar, fez muita falta, sem dúvida, o seu «capitão» Ferreira Pinto, cuja experiência e qualidade técnica teriam impedido, naturalmente, aquele contra-indicado processo do segundo tempo.
Mas, mesmo sem «pedra» de tanta influência, esperávamos mais dos tomarenses, que, em serenidade, sob todos os aspectos, em nada se assemelharam à equipa esclarecida que viramos, uma semana antes, ganhar tão bem na Tapadinha.
As circunstâncias eram diferentes. Bem o sabemos. Na Tapadinha, houve que defender e tentar o contra-ataque; ontem, em «casa», sentiu-se a necessidade de atacar e… aquele segundo tempo, esquecido como e o que se havia feito no primeiro, foi um «desastre».

Arsénio não pode ficar isento de culpas no golo, bem como os dois «centrais», onde Caló, mesmo assim, esteve melhor do que Dui (e aquele arremesso de terra à cara de Esteves…), enquanto Barnabé justificava a chamada, suplantando, a boa distância, Kiki e Santos.
Dali para a frente, menção honrosa para Cláudio (o único que procurou contrariar sempre o levantar da bola e os lances de choque) e renovação de ásperas censuras para Bilreiro, o mais flagrante «caso» de «descomando» nervoso.
Os restantes, todos muito iguais, num plano bem modesto.

Brio, brio e dignidade foi o que o jogo mais exigiu aos homens da camisola azul. E eles tiveram as duas coisas, exuberante e muito louvavelmente. Só por isso, teriam merecido o triunfo.
Mas não foi tudo o que se lhes viu. No Belenenses de ontem, também houve uns lampejos de futebol, na execução e nas intenções, sempre que o duelo se travou mais em jeito do que em força.
Ficou-nos a sensação de que a equipa pode entrar noutro ritmo, de exibições e de resultados, logo que recupere, por completo, a confiança em si própria. E talvez tenha começado ontem, com esta vitória, pois, antes, empates (excelentes, embora!) em Setúbal (1-1) e Matosinhos (0-0) eram os únicos desfechos não «negativos» alcançados em terreno alheio.

Excelentes todos os elementos a quem atribuímos a «nota» máxima: Mourinho, Assis, Quaresma, Murça, Esteves, Luciano e Laurindo.
A seguir, Saporiti e Godinho, se bem que Cardoso, Sérgio, Ernesto (um evidente caso de falta de «forma») e Adelino (jogou pouco tempo), embora rendendo menos, tenham sido iguais aos melhores, no muito de sacrifício que o desafio exigiu.

Não agradou a arbitragem ao público local. Mas sem razão, pois Porfírio da Silva, numa tarefa assaz ingrata, teve actuação bastante boa e, na maior parte das vezes que errou, não foi em prejuízo dos tomarenses.
O exemplo mais flagrante: – permissão, sem medida drástica, de tantas «tropelias» de Bilreiro – mas aqui, com as mais vincadas responsabilidades a recaírem no «bandeirinha», Vicente Fernando, que… esteve muito distraído, certamente…»
(“A Bola”, 06.01.1969 – Crónica de Cruz dos Santos). Post amavelmente cedido pelo Blog Amigo, UNIÃO DE TOMAR

Jogou «Sobre brasas» a equipa de Belém - Belenenses, 2 - União de Tomar, 2


Estádio do Restelo, 15.09.1968. Árbitro – Rosa Nunes, de Faro
BELENENSES – Gomes (2); Assis (1), Quaresma «cap.» (1), Cardoso (1) e Esteves (1); Luciano (2) e Freitas (1); Fernando (3), Dorado (1) (45m – Walter (2)), Ernesto (2) e Laurindo (3)
U. TOMAR – Conhé (1) (Arsénio (3)); Kiki (1), Caló (2), Faustino (2) e Santos (1); Dui (1) (Vicente (1)), Ferreira Pinto «cap.» (2) e Cláudio (2); Leitão (2), Alberto (1) e Totoi (1)
Golos: 1-0 – Laurindo –14m, 1-1 – Leitão, 2-1 – Luciano, 2-2 – Alberto. Ao intervalo, 2-1.
Golo do Belenenses, aos 14 minutos: um lançamento da linha lateral foi captado por Ernesto, que levou a bola até à cabeceira, do lado direito, de onde tirou um bom centro. Dorado saltou com Conhé mas o esférico passou e Laurindo, surgindo rapidamente, atirou de cabeça.
Logo a seguir, o empate: Fernando pretendeu atrasar para Assis, mas o passe saiu-lhe defeituoso ou com demasiada força. E Leitão levou a bola. Quaresma falhou, espectacularmente, a dobra e o dianteiro do U. Tomar acabou por entrar na área e rematar rasteiro.
Perto do fim da primeira parte, 2-1: os «azuis» atacaram pela direita. Ernesto surgiu de novo a centrar. Conhé não conseguiu chegar ao esférico e Laurindo, na ponta esquerda, rematou. A bola subiu por ter batido num adversário, Conhé saiu a soco, mas apenas pôde desviá-la uns metros. E Luciano, sobre a linha limite da grande área, em posição frontal, atirou em arco.
No último minuto, Dorado apareceu caído no terreno. Tinha feito uma séria rotura de ligamentos ao torcer o corpo para iniciar a corrida. Foi substituído por Walter (2).
Segundo tempo, 0-1.
Substituições: Arsénio (3) e Vicente (1) substituíram, respectivamente, Conhé e Dui.

O ponto que deu o empate ao União de Tomar teve, de novo, a colaboração da defesa da «casa»: Alberto encontrou espaço para levar a bola e levou-a até à linha da grande área, onde lhe surgiram, depois de uma corrida de galgos, Quaresma e Cardoso. O n.º 9 do União acabou por atrasar para Leitão, que se meteu na área. Falhou Quaresma, mergulhou Gomes em última tentativa, mas o centro saiu rasteiro para Alberto, à boca das redes, fazer o golo com toda a calma.

O União de Tomar fez a sua primeira visita a Lisboa como equipa da I Divisão. E foi uma visita produtiva. Ganhou um ponto no Estádio do Restelo e pode muito bem acontecer que este pontinho, visto um dia de larga distância, tenha o valor do oiro.

Os jogadores de Tomar não se apresentaram ainda na melhor da sua «forma», mas, num pormenor, evidenciaram melhoria em relação ao jogo de domingo passado, no seu campo, onde também conseguiram amealhar o ponto correspondente ao empate: na forma física. A equipa começa a ter elementos que «aguentam» os noventa minutos. Por outro lado, acontece que a «manta de retalhos» está a ganhar unidade e a transformar-se num conjunto que sabe o que quer.

Aliás, foi essa a grande diferença entre as duas equipas em presença: O União, não sendo um «team» famoso, tem coesão e sentido de jogo; o Belenenses assemelha-se a um muro com muita areia e pouco cimento. Qualquer golpe de vento o deita abaixo, qualquer contrariedade o desorienta. Toda a equipa parece frágil e, no entanto, quem a veja naquela sua ânsia de resolver os assuntos num momento, num fôlego, desvairadamente, imagina-a a jogar sem brasas. E imagina-a bem.

Mas por que razão há-de o Belenenses assim? Olhe-se para a estatura dos seus jogadores, olhe-se para as suas características e diga-se se é possível ao Belenenses adoptar um tipo de futebol que obrigue a equipa a impôr-se pela força, por meio de um futebol que não convence e mete, até, por vezes, o esférico no ar.

Bem sabemos que se jogaram apenas duas jornadas do «Nacional», mas o Campeonato cada vez se compadece menos dos atrasados. Um ponto em dois jogos, mesmo descontando o facto do primeiro se ter jogado na Luz, parece um mau começo da turma de Belém, aliás a condizer com os encontros que antecederam o torneio máximo.

A angústia do Belenenses será um mal de tal forma enraizado que nada o possa extirpar? Todo aquele movimento de turbilhão, que arrasta consigo todo o processo de organização de uma equipa, precisa de ser sustido e o futebol da equipa devidamente controlado.

A velocidade de uma equipa não é somente a velocidade de desmarcação e antecipação dos seus jogadores, mas, essencialmente, a velocidade da bola, a rápida variedade de lances. E tudo isso tem de ser doseado e organizado de forma a que os onze jogadores não cheguem ao fim do jogo estafados e profundamente convencidos da inutilidade do seu esforço.

Querer jogar a bola
O que mais admiramos na equipa do União de Tomar é a sua intransigente toada futebolística. Recém-chegado de uma Divisão onde não se pratica um futebol evoluído, salvo raras excepções, o União consegue estar entre os maiores sem a preocupação de baixar a donde veio, sem receio de jogar o que sabe e sem vergonha de mostrar o seu estilo. Não é consigo a defesa cerrada das balizas, o jogo «mastigado» à espreita do momento «X» para o contra-ataque.

Pode acontecer que em luta com equipa muito poderosa, os unionistas não tenham outro remédio que não seja praticar um futebol vincadamente defensivo, mas, se assim acontecer, será mais uma consequência da superioridade alheia do que complexo de inferioridade própria disfarçada pela necessidade de ganhar pontos.

O ponto que a equipa ontem conquistou num relvado para si naturalmente difícil, poderá ter sido ganho com certa dose de felicidade, mas não foi conquistado através de noventa minutos vincadamente defensivos, que não deixam uma nesga ao adversário, que o cansa, o satura, o predispõe ao relaxamento que pode, então, ser explorado pelos golpes de contra-ataque.
É uma equipa arrumada.

Nota-se o que se sabe, quando tem a bola e tenta conservá-la, fazendo-a correr de jogador para jogador em triangulações ou toques certeiros.
Não existe, na equipa de Tomar, um padrão de jogo caracteristicamente ofensivo ou acentuadamente defensivo. A equipa joga com certa elasticidade ocupando os diversos sectores do campo consoante as situações que se lhe deparam. Há mobilidade e descontracção. Os jogadores também podem tomar iniciativas, conforme a inspiração de momento sem receio de comprometerem o conjunto.

Daí termos visto a equipa nas escalas mais diversas do conjunto de tácticas modernas: Ora interpretando o «4x2x4», ora formando em «4x3x3», ora desdobrando-se por variantes que sacrificavam elementos à defesa para os integrar no ataque ou linha média, ora indo buscar ao ataque reforços para a estrutura do meio-campo, o União demonstrou a sua capacidade de assimilação dos processos que tornam maleáveis os sistemas.

É claro, as coisas também saíram bem à equipa. O Belenenses podia ter ganho o jogo se toda a sua força ofensiva, que a pôs no campo (indiscriminadamente, mas pôs), tivesse colectado lucros dessa insistência. Mas, em nossa opinião, há quem tenha sorte porque ela lhe cai do céu, e há quem a mereça porque a procurou. O União procurou a felicidade tanto da defesa das suas balizas, como no duelo do meio campo que conseguiu equilibrar, quando a equipa parecia vítima do «bombardeamento» do Belenenses, e ainda, especialmente, por nunca ter abdicado da ideia de atacar as redes de Gomes.

Lampejos
O Belenenses foi uma equipa muito pouco esclarecida, na primeira parte do jogo. E preocupado, na segunda, embora se deva reconhecer que jogou de forma a poder ter conseguido até um resultado largo.

Onde está o mal? Existe um círculo vicioso. A defesa, pouco segura, influencia, de certo, o comportamento dos médios e estes, na medida em que não conseguem «segurar» a bola, criam os mais diversos problemas a um sector que se encontra longe da «forma». E os homens da frente ficam um tanto entregues à própria inspiração.

É que o futebol de ataque não é uma situação que se possa criar queira o adversário ou não, a menos que a superioridade em relação a este seja muito grande. E não entendemos como haver futebol ofensivo sem uma defesa à altura de anular os contra-ataques e sem uma linha média que desempenhe o importante papel de apoio.

Os «azuis» viveram todo o segundo tempo, que foi o melhor da equipa, em pânico. Há uma falta de auto-confiança nos recursos, um receio imenso do poder ofensivo do antagonista, de um golo que torne as coisas trágicas. E, em contrapartida, a expectativa do ponto nas redes adversárias torna-se em obcecação. Esse estado de espírito, que obriga os jogadores a estar no campo em luta contra o relógio, em busca da tranquilidade, é que rouba recursos a um conjunto que pode fazer muito mais.

Em primeiro lugar os «azuis» precisam de vencer a barreira do fatalismo.
Ontem, observámos as atitudes de Assis, Ernesto, Laurindo, Walter, quando bolas que pareciam bem dirigidas para as redes foram defendidas por Arsénio. Foram exemplos de desalento, pormenores que revelaram desânimo e, ao mesmo tempo, o tal fatalismo que os belenenses têm de expulsar.

A necessidade premente de marcar golos, de distanciar o adversário no marcador, de conquistar tranquilizante posição, gera na equipa um estado psicológico que a leva, no caso de ser contrariada pelos jogadores antagonistas (que também jogam), ou pelo azar, a desenfrear-se num futebol onde apenas existe uma coisa: garra.

É pouco. O Belenenses tem de conquistar o auto-domínio de si próprio. E afinal não nos parece que seja muito difícil. Ainda ontem lhe vimos uma meia dúzia de jogadas que podem servir de exemplo de um estilo que o conjunto deve adoptar: bola pelo chão, futebol muito apoiado. Num desses lances – o melhor do jogo – Laurindo perdeu o golo que teria coroado excelente lance. Mas, se quisermos rever a jogada, encontraremos motivos para creditar à falta de calma de Laurindo o infeliz remate do lance: Walter estava colocado em muito melhor posição e logo um metro atrás.

Dois extremos
Numa altura em que se diz que em Portugal há poucos extremos dignos desse nome, o Belenenses apresentou nada menos de dois: Laurindo e Fernando. São dois jogadores diferentes no estilo, mas ambos caminham para uma «forma» que os há-de notabilizar. E isso porque possuem «conteúdo» técnico.
É provável que Laurindo possa ter ainda maior utilidade jogando no meio campo ou na posição de «ponta-de-lança», mas a maneira como executa e sabe procurar a bola, aliada à necessidade que as equipas têm de recuar, por norma, um dos extremos que pode desempenhar papel relevante na manobra do «miolo», não o impede de jogar num dos lados do campo. Com Fernando, as coisas parecem diferentes: o madeirense sente-se muito mais à-vontade junto à linha. Os dois foram, porém, os melhores jogadores do Belenenses.

Ainda na linha dianteira, a entrada de Walter ainda afastado da «forma» melhorou imenso o sector. De qualquer maneira, Dorado teria de ser substituído. Ernesto, um tudo nada pesado, precisa de mais uns treinos a «sério». Quando ambos estiverem fisicamente bem, o problema da linha avançada do Belenenses pode estar resolvido.

Luciano teve uma primeira parte inferior à segunda. Mas é um jogador de utilizar. Quanto a Freitas, achamo-lo muito mais útil no quarteto defensivo, onde não há segurança. Quaresma está em má «forma». Assis também não se encontra bem. Cardoso, com altos e baixos. Esteves o mais certo. E em cima de tudo isto, um mau jogo colectivo, com desacerto nas dobras e constantes erros no tempo de entrada.

Gomes não teve culpas nos golos.

Do União de Tomar, veio um exemplo magnífico de colectivismo. A equipa teve, também, a virtude de nunca ter acreditado que perdia. E a sorte ajudou ao resto.
A substituição de Conhé por Arsénio foi muito bem observada. O ex-Sanjoanense fez defesas extraordinárias. A defesa teve nos «centrais» os melhores elementos. Os «laterais» não estiveram tão bem, embora tivessem sabido explorar os corredores dos seus lados para apoio do ataque.
Cláudio, Ferreira Pinto e Dui (na segunda parte, Vicente) formaram um sector de certo relevo.
E Leitão foi o jogador mais em evidência no ataque.

O árbitro
Rosa Nunes não nos agradou totalmente. Pequenas desatenções (que as teve) podem originar graves prejuízos. No jogo de ontem o Belenenses terá sido o mais prejudicado pela displicência do árbitro.»
(“A Bola”, 16.09.1968 – Crónica de Homero Serpa). Post amavelmente cedido pelo Blog Amigo, UNIÃO DE TOMAR