«Inesperadamente impedido de se deslocar ao seu ex-estádio, para presenciar os jogos do seu ex-clube, o ex-presidente da República sr. Américo Tomás mandou recado à secretaria «azul»: tinha muita pena mas não poderia continuar a pagar as quotas de sócio.
Baixa sensível na claque de Belém: a partir de agora, na bancada reservada aos sócios vibrantes, não mais se ouvirá a voz altiva e serena, incitando os onze rapazes da camisola da Cruz de Cristo, nos célebres 15 minutos finais.
A partir de agora, fica mais pobre o clube que sempre contou com a ajuda desinteressada, que no seu tempo viveu momentos de desafogo financeiro porque durante os anos em que ele e a mulher foram ao Restelo, o clube nunca soube o que eram dificuldades de monta.
Agora, «desarriscado» de sócio, Thomaz chora em terras brasileiras a impossibilidade de voltar a ver a menina dos seu olhos, o clube da sua eleição.
Tanto, que a sua vida, a vida da nação que dirigia, estava toda pintada de azul: esse mesmo azul da camisola do seu clube, o clube que ele agora renegou por não poder pagar as quotas.
Não me lembro da sua primeira vista ao estádio que teve o seu nome; nem da primeira vez que lá foi com sua mulher. Mas, imagino a festa que terá sido, principalmente quando ele chegou e botou fala: era a primeira vez depois da última e ele e sua mulher estavam satisfeitos com a recepção que lhes tinham oferecido; eles os dois e mais os netos, que gostavam muito de ter uma bola de futebol a sério, que foi quando os dirigentes obrigados resolveram retribuir «tantas atenções» recebidas oferecendo a tal bola de couro aos meninos predilectos do ex-presidente.
Que ele gostava muito das crianças e pedia sempre alguma coisa para eles: que nesta terra as crianças nunca foram esquecidas e o clube até tem agora um polivalente onde elas podem saltar e correr à vontade.
«Thomaz» desistiu de sócio: mandou recado à secretaria dizendo que não pode pagar mais as quotas: fica mais pobre o clube que muito lhe ficou a dever.
Mas, o que mais falta vai fazer ao clube não são os 60 escudos mensais da quotização: o que mais falta vai fazer na carreira dos «azuis» é o seu grito altivo e esclarecedor na célebre e tradicional arrancada dos 15 minutos finais...» Orlando Dias Agudo, 4/4/1975