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João Uva: «Adoro ser do Belenenses»

«Adoro ser do Belenenses»

João Uva dedica prémio de Jogador do Ano à sua equipa. Capitão diz ser calmo no dia-a-dia, após libertar a agressividade em campo.Jogador não concorda com modelo do campeonato.


Um final de ano em cheio para o terceira-linha do quinze do Restelo e da Selecção Nacional, João Uva, com a atribuição do prémio de Melhor Jogador do Ano. Nada que o faça mudar o seu calmo estado de espírito.
«Estava em Salamanca em trabalho quando me telefonaram a dizer que tinha ganho.
Claro que é sempre bom mas nem toda a gente é adepta da minha forma de jogar.
Sou realista, só foi possível graças à equipa que sempre acreditou em mim como capitão.
Adoro ser do Belenenses e pertencer a uma família tão grande. Eles são a principal causa de toda a minha motivação.»

A sua maneira de actuar é sempre nos limites, um jogador de grande alma e intratável nas suas placagens, grande mentor do título nacional na final memorável do Jamor, onde foi o exemplo para a equipa, razão suficiente para bater os outros dois nomeados, Joe Gardener, de Agronomia, e William Hafu, do Belenenses.

«Funciono um pouco por equilíbrios, ou seja sou uma pessoa calma mas também porque descarrego muita da minha agressividade em campo. É a minha terapia ao fim de um dia de trabalho chegar ao treino e dar tudo, tanto que às vezes os meus companheiros até se queixam... Mas a verdade é que saio de lá com a cabeça limpa, pronto a enfrentar mais um dia de trabalho.»
No Campeonato actual, é pouca a motivação. «Já perdi e ganhei finais do Campeonato mas não é um modelo justo. Decidir tudo num jogo, à mercê da inspiração do momento, está mal. Deve ser premiada a regularidade e esta época já sabemos quem são os semifinalistas desde muito cedo. Estamos a jogar para a decisão em Abril.» Quanto à Selecção, adianta: «Temos de reforçar o espírito de grupo,igual ao do Mundial. Há novos jogadores a integrar.»

In "A BOLA" de hoje, 23/12/2008

João Uva e Bryce Bevin eleitos jogador e treinador do ano de 2008


Terceira linha do Belenenses conquista prémio da FPR 2008. Bryce Bevin, também do Belenenses, eleito melhor treinador. Lourenço Kadosh (Agronomia) é a Revelação do Ano.
João Uva (Belenenses), de 28 anos, foi ontem à noite eleito o Jogador do Ano, batendo os também nomeados William Hafu (Belenenses) e Joe Gardener (Agronomia) numa eleição levada a cabo pela Federação Portuguesa de Râguebi, com a colaboração do Conselho Geral presidido por Pedro Ribeiro. 
João Pedro Azevedo de Sousa Uva sucede, assim, ao primo Vasco Uva que conquistou o prémio da época passada. 
Ausente na gala, por se encontrar de férias no Brasil, Uva foi representado por José Spínola, antigo jogador do Belenenses, na hora de receber o galardão.
O campeão nacional Belenenses foi, aliás, o grande vencedor da festa do râguebi, que reuniu dezenas de dirigentes, treinadores e atletas no Hotel Vila Galé, em Alcântara... Afinal é também da equipa do Restelo que saiu o Melhor Treinador. 
Graças a um trabalho sensacional, o neozelandês Bryce Bevin foi eleito Técnico do Ano, ganhando ao credenciado seleccionador Tomás Morais e ao benfiquista Paulo Gonçalves.
Texto e foto da Edição de hoje do jornal "A BOLA"

A última vez que o Belenenses venceu no Alvalade velho... e no novo

Este Dezembro, um dia depois do Natal, passam 54 anos sobre a última vitória do Belenenses como visitante frente ao Sporting. Daí para cá tiveram lugar 49 clássicos e a supremacia sportinguista é esmagadora.
Ainda por cima os azuis do Restelo nem sequer podem dizer que o último triunfo foi conseguido no Estádio de Alvalade, já que essa vitória teve lugar... no Jamor.
Aliás, para que conste, o vizinho dos leões nunca ganhou no Alvalade velho... nem no Alvalade novo.
Recuando-se, então, no tempo, rapidamente chegamos a essa tarde (era o tempo, belo e sonoro, da rádio!) de domingo de 26 de Dezembro no Jamor, cumpria-se a jornada número 13 do campeonato da época 1954/55, que viria a ter o Benfica por campeão no final das 26 rondas, com 39 pontos, os mesmos do Belenenses e mais 2 que o Sporting — o tal campeonato que os azuis já davam como certo mas os leões, nas Salésias, entregaram ao Benfica, com o golo do empate (a dois) obtido por Martins a quatro minutos do final. 
No Estádio Nacional o Sporting, quatro vezes campeão nacional consecutivas e a sonhar com o penta, não conseguiu aguentar um Belenenses candidato e com múltiplas opções, como muito bem definiu em A BOLA o saudoso mestre Vítor Santos, que na sua crónica titulou «A melhor equipa de Belém venceu excelentemente a 'actual' turma leonina». 
Azuis que ganharam vantagem ao minuto 54, numa cabeçada de Matateu; 13 minutos mais tarde os leões chegaram ao empate, também de cabeça, por outro moçambicano, Juca, mas com muitas culpas para José Pereira; aos 83 outra vez Matateu, novamente de cabeça, bateu Carlos Gomes e 2-1 para Belém.

Arbitrado pelo celebérrimo Inocêncio Calabote, que expulsou Mendonça a 21 minutos do final por este ter pontapeado Pires, as duas equipas apresentaram:

SPORTING — Carlos Gomes; Caldeira e Pacheco; Hrotko, Passos (cap.) e Juca; Hugo, Vasques, Martins, Travaços e Mendonça

BELENENSES — José Pereira; Pires e Serafim (cap.); Castela, Raul Figueiredo e Vicente; Di Pace, Dimas, Matateu, Perez e Tito
In "A Bola" de 20 de Setembro de 2008

Novo tão velho Belenenses

"No Belenenses, gente que se sumiu, mas que nunca se assumiu na explicação impossível de uma desvairada carrada de pernas de pau do Brasil, tem o desplante de dizer mal da gestão alheia..."


EM miúdo, ia pela mão de um dos meus tios ver todos os jogos do Belenenses ao Restelo.
Um quarto de hora antes das três da tarde, de cada domingo, fizesse frio ou calor, chuva ou sol, via o meu tio Armando e o meu primo Hélder ao fundo da rua.
Descia as escadas a correr e às três em ponto estava sentado no mesmo lugar de sempre, na bancada nascente, esperando milagres do Matateu.
Os anos foram passando, a bancada nascente (e não só) foi perdendo público, o Belenenses foi perdendo dimensão, eu fui perdendo ilusões, mas apesar de tudo ir mudando, uma coisa sempre se manteve: a incapacidade do Belenenses ser reconhecido aos homens que sempre lhe quiseram bem, alguns, mesmo, durante uma vida, nunca esperando nada, a não ser esse simples e merecido reconhecimento dos seus consócios.
A típica ingratidão do Belenenses em relação àqueles que dele mais gostaram e que por ele mais fizeram sempre foi transversal.
Varreu tudo e todos de forma igual, ao mesmo tempo que ia cumprindo a tentação de um desafio permanente do inexplicável desejo de ser grande como os maiores, à custa de aventureiros e de oportunistas.
O meu pai sofria com isso.
Era um daqueles a quem o clube se limitara ao reconhecimento institucional do papel passado na honra e no mérito, mas que nunca verdadeiramente o estimara.
O mesmo sucedia com muitos outros.
Muitos que já morreram e alguns mais (já poucos) que sobrevivem na mesma angústia e desesperança, vendo o Belenenses, por vezes, entregue a caricaturas de dirigentes, que não têm consciência de que um clube, sobretudo um clube com história, deve preservar a sua personalidade e o seu carácter, para que não lhe matem a alma.
Sempre fui bem menos idealista que meu pai.
E nunca consegui ter, como ele sempre teve, uma paixão tão pura e tão inocente pelas coisas que verdadeiramente amava.
Por isso, sempre mantive distância.
Por dever de ofício, sim, mas também por convicção pessoal.
Até mesmo quando o meu amigo de infância, Cabral Ferreira, assumiu a presidência do clube.
Outro que tal, e que nunca me pediria uma linha que fosse, para uma frase, ou um recado. Um caso invulgar de honestidade intelectual e grandeza de carácter, logo dois dos maiores pecados na desenfreada e desvirtuada vida de hoje.
É, pois, à distância que vejo, não impassível, essa sofrida e lenta agonia do Belenenses, onde gente que se sumiu, mas nunca se assumiu na explicação impossível de uma desvairada carrada de pernas de pau do Brasil, tem o desplante e a desvergonha de vir falar dos supostos males da gestão alheia.
Não, não tem esse direito.
Muito menos antes de explicar que interesses podem justificar que um clube, em tal estado de exaustão financeira, decida contratar um contentor de brasileiros trôpegos e, em maioria, impróprios para a função.
O dr. Nunes dos Santos, antigo e saudoso dirigente sportinguista, figura sempre muito respeitada e considerada em A BOLA, tinha, para estes casos, uma expressão inolvidável: «Gente que não tem moral nem para estar calada.»

Vítor Serpa in "A BOLA" de hoje, 19 de Setembro de 2008