Mariano Rodrigues Amaro, Lisboa, 7 de Agosto de 1914 - 23 de Maio de 1987
foto datada de 27/11/1937
(...) Símbolo do Belenenses, clube pelo qual efectuou 458 jogos oficiais. Foi um capitão extraordinário. Nunca envergou a braçadeira na Selecção, na qual se estreou a 27 de Novembro de 1937, em Vigo, na primeira vitória sobre a Espanha (2-1), ao lado de Azevedo, Espírito Santo e Artur Quaresma. A relação com a FPF nunca foi pacifica: era impossível um homem com ideias de esquerda aceitar a prepotência de um organismo gerido segundo os princípios do antigo regime. Cândido de Oliveira escreveu nunca ter conhecido "atleta com uma conduta, dentro e fora do campo, mais susceptível de incitar à estima e à admiração, que este jogador de origem tão humilde e de tão altas qualidades cívicas.(...)
Rui Dias, in "Os 100 Magníficos", capitulo dedicado a Mariano Amaro
(...) Homem de esquerda, questionando-se sobre a justiça das coisas, Amaro sofreu, em tempos de ditadura, alguns dissabores por causa das opções políticas, nunca deixando contudo de manifestar abertamente as suas convicções, o que fez até ao fim da vida. Já na casa dos 70 anos, e mesmo após ter sofrido uma trombose, era frequente vê-lo avenida acima, atrás de um estandarte ou de uma bandeira, nas manifestações sindicais da década de 80.
(...) em Janeiro de 1938, os espanhóis jogaram nas Salésias. E essa data, esse jogo, marcam também um dos incidentes famosos da carreira do «capitão» belenense. Antes do jogo, era então comum que as equipas perfilassem diante da tribuna, saudando as entidades oficiais com o braço erguido em «saudação olímpica», num gesto que hoje nos parece simplesmente uma saudação fascista. Como a Espanha representada no jogo era a facção franquista, e como as entidades espanholas da tribuna representavam essa facção, alguns jogadores parecem ter querido manifestar o seu desagrado pela saudação obrigatória.
Azevedo, o guarda-redes do Sporting, levantou a mão sem esticar bem os dedos, Artur Quaresma ficou em sentido sem estender o braço, José Simões e Mariano Amaro esticaram o braço e ...ergueram o punho. A revista Stadium, confrontada com a fotografia, retocaria depois os dedos dos dois jogadores, para que parecesse que todos haviam cumprido as regras da saudação obrigatória. Mas a coisa deu brado, e os jogadores chegaram a temer pela sua corajosa opção. (...)
Marina Tavares Dias, in "História do Futebol em Lisboa", capitulo dedicado a Mariano Amaro