Lucas Sebastião da Fonseca, o “Matateu”, nasceu em Lourenço Marques (Moçambique) a 26 de Julho de 1927, então província ultramarina de Portugal, e faleceu no Canadá (Colúmbia Britânica) a 27 de Janeiro de 2000, com 72 anos de idade.
Desde pequeno, no Alto Mahé, bairro pobre da capital moçambicana, que Matateu era conhecido pela sua alcunha, cuja origem nunca foi completamente esclarecida, embora Matateu ligasse a alcunha ao termo landim “tateu”, que significa “pele a cair”, ou por efeito do Sol ou por efeito de andar sempre com as pernas esfoladas.
Desde pequeno que a delícia de Matateu era jogar à bola e o sonho maior era ser um craque ao mais alto nível. Ninguém na família o contrariou e Matateu iniciou a sua carreira em Moçambique, onde jogou pelo Albasini e depois pelo 1º de Maio, filial de Os Belenenses, clube português. Daqui ingressou no Manjacaze, onde lhe ofereceram emprego, mas logo no final do primeiro jogo, foi abordado pelo árbitro, antigo e famoso internacional do Belenenses, João Pedro Belo, que lhe perguntou: “Queres ir para Lisboa?”
Matateu ficou boquiaberto, apesar de já ter havido rumores sobre o interesse do Benfica, do Porto e do União de Coimbra nele. Imediatamente a seguir, a 4 de Setembro de 1951, Matateu desembarcou no Aeroporto de Lisboa para assinar contrato com o Belenenses, terceiro maior clube de Lisboa após o Sporting e o Benfica e quarto de Portugal. Doze dias após a chegada, o jovem jogador de 24 anos estreou-se contra o Porto, no Estádio Nacional.
A imprensa ficou bem impressionada com a agilidade, a imaginação, o drible desconcertante e o remate poderoso do avançado, e a consagração deu-se uma semana depois quando, no encontro inaugural do Campeonato Nacional, o Belenenses venceu o Sporting por 4-3, com dois golos de Matateu, sendo o último assinalado a escassos minutos do fim e assegurando a vitória dos azuis de Belém. Os adeptos do Belenenses invadiram o relvado das Salésias e, pela primeira de muitas vezes, levaram-no em ombros, iniciando-se a consagração do craque.
Um ano após, a 23 de Novembro, Matateu estreia-se na selecção nacional de Portugal contra a Áustria, no estádio das Antas. No ano seguinte, em 1953, torna-se o artilheiro do campeonato nacional com 31 gols e conquista a “Bola de Prata”, repetindo a façanha em 1955 com 32 gols. Em 1960 Matateu conquista a Taça de Portugal após uma campanha extraordinária realizada pelo Belenenses, obtendo dez vitórias e apenas uma derrota: Atlético (3-2, 3-0), Lusitano de Évora (4-1, 3-1), Sporting de Braga (1-0, 1-0), S. C. Portugal (3-0, 6-0), Porto (3-1, 0-1) e Sporting (2-1).
A final com o Sporting realizou-se a 3 de Julho de 1960. O adversário era poderoso, mas Matateu e toda a equipa do Belenenses agigantaram-se e levaram de vencida o Sporting. Ao intervalo registava-se um empate de 1-1.
No segundo tempo, o mais internacional dos internacionais azuis, Matateu, recebeu um passe magnífico de Yaúca e rematou imparavelmente para a conquista da Taça de Portugal. Após um jejum de dezoito anos de títulos oficiais, o Belenenses tornou a inscrever o seu nome no palmarés do futebol português e Matateu saboreou o dia mais extraordinário da sua carreira de futebolista numa das mais brilhantes campanhas que realizou. À época, o jornalista Alberto Valente escreveu: “Matateu foi o ‘galvanizador’ das energias dos seus colegas. Dez contra onze… e Matateu contra o Sporting”.
Foi nesse ano de 1960 que Matateu efectuou o último jogo pela selecção portuguesa, defrontando a Iuguslávia no campeonato Europeu aos 32 anos de idade. O craque ficou a um gol de Peyroteo na selecção nacional e não chegou a jogar com Eusébio, que apenas se estrearia no ano seguinte.
Desde aí Matateu ficou fora de forma e deixou o Belenenses numa má fase da sua carreira,. Em 1964, o treinador Fernando Vaz pôs em causa a sua utilidade na equipa e o mal-estar instalou-se em Belém, porque se pensava em Matateu para o cargo de preparador da escola de jogadores do clube. Matateu passou então a reserva e tudo terminou com o despedimento do treinador e o ingresso de Matateu no Atlético Clube de Portugal, equipa da II Divisão, em Dezembro de 1964. Foi com ele que, na época seguinte, o Atlético regressou à I Divisão.
Em 1967/68 ingressou no Gouveia, porém a relação foi curta. Matateu era reserva, mas nunca reagiu. Tinha um contrato a cumprir e cumpriu, Chegou a ser goleiro por duas vezes, mas não se importou. Foram dias difíceis devido ao isolamento da cidade de Gouveia, conta Matateu ao jornal A Bola: “A única coisa que eu fazia era ir para a serra ouvir os lobos. Eu metia-me no carro, já que tinha sítios certos, onde sabia que havia lobos, e então deixava o carro fechado e ficava ali horas seguidas a ouvir os lobos a uivar”.
E logo em 1968/69 entrou para o Amora, com 41 anos de idade. Matateu comenta, ao jornal A Bola, a sua decisão à época: “Muita gente me tem dito, então Lucas, tu foste internacional tantas vezes, aceitas ir jogar para um clube assim que nem é da 3ª. Divisão? Mas eu respondi sempre que isso não me interessava, futebol é futebol e é igual em toda a parte, isso de divisões tanto me faz, a primeira como a segunda ou a terceira, são só números e nada mais. O futebol é só um e é sempre o mesmo, o que importa é que eu me dê bem com os colegas e com toda a gente e que o dinheiro não falte no fim do mês…”
No Amora foi Campeão Distrital, obtendo 21 gols, e ajudou a equipa a subir à III Divisão Nacional. O campo do Amora passou a registar enchentes de adeptos, muitos dos quais do Belenenses, que iam “matar” saudades de Matateu vendo-o jogar pelo Amora. Ouça-se novamente o Matateu quarentão: “Tenho 41 anos, mas parece que tenho 19, porque estou conservado em cerveja. (…) Acredite, quando não bebo cerveja, não sou o mesmo, sinto-me mal e o meu rendimento é sempre inferior. (…) É verdade, se eu não bebesse cerveja, já teria arrumado as botas há muito tempo».
Finalmente, na época de 1970/71 mudou-se para o Canadá onde jogou até 1977/78, quando celebrou 50 anos de idade!
Em 2006, o jornalista desportivo Fernando Correia publicou a biografia do craque sob o título “Matateu, a oitava maravilha”.
Fontes principais:
Este conteúdo foi publicado em 23 de Novembro de 2007 às 23:57 e está arquivado em
a quem agradecemos a amável autorização para publicarmos no BI este excelente artigo sobre este enorme simbolo Belenense. Bem Haja.