Excelentes Vitórias do Atletismo Belenense

Rui Ramos, Almério Cardoso, Joaquim Branco, Januário, Ambrósio, Monteiro, Manarte, Arménio Neves, Gonçalves e Albuquerque obtiveram excelentes vitórias no torneio de equipas
Páginas 3 e 4 do jornal, "Os Belenenses" de 5 de Junho de 1954

Georgete Duarte, a Eterna Campeã das Campeãs e Campeões Belenenses

Vá lá, na primeira vez em que voltei aqui, 
às Salésias, as lágrimas fugiram-me dos olhos

Custa muito ver esta miséria. Foi aqui que encontrei o meu destino e daqui que parti para ir pôr a primeira pedra ao Restelo.
Como é que o atletismo entrou na minha vida? O meu pai era maquinista dos Caminhos de Ferro - e para ter passe grátis fui jogar basquetebol para o Ateneu Ferroviário.
Uma colega desafiou-me para as corridas, fui com ela para o Casa Pia.
Também fazia voleibol e pingue-pongue. Pingue-pongue foi pelo Benfica porque senhor do Ferroviário, que tocava guitarra com a Dona Amália, viu-me jogar com os rapazes, era todo benfiquista, dirigente, achou que eu tinha jeito, levou-me para lá, para os campeonatos. Mas paixão era o atletismo, deixei tudo o resto..."
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"Olhe, ali ainda um pedaço do rebordo da pista. Não, a minha primeira vitória não foi aqui, foi no Lumiar, no velho estádio do Sporting. O meu pai não sabia que eu corria, eu tinha assinado a ficha como se fosse ele, ninguém notou. Um fogueiro do comboio apareceu-lhe com um jornal a perguntar-lhe se a rapariga que lá estava não era a filha dele. Era, numa reportagem do Casa Pia. Soube da corrida, apareceu no Lumiar e ao aperceber-me dele nas bancadas fiquei em pânico, a gritar que não corria, não e não.
Os senhores do Casa Pia foram pedir-lhe autorização, disse que sim. Ganhei e nunca mais me esqueci da imagem do meu pai, eufórico, a bater palmas.» Essa foi uma prova de 100 metros. Algures, por 1944."
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"Blocos de partida não havia — fazíamos buracos no chão, escavávamos a pista, até os pés ficarem presos. Foi sempre assim, comigo. Bicos, só quando passei do Casa Pia para o Belenenses, mas eram uma coisa muito tosca, feitos por sapateiros que lhe encaixavam pregos nas solas. Às vezes, os bicos soltavam-se, espetavam-se nos pés, acabávamos as provas a coxear.O que eu mais gostava de fazer era barreiras. Na primeira vez que apareci no Belenenses, Alberto Freitas, o nosso treinador, mandou-me passar uma barreira e... a única coisa que disse foi: Meu Deus, que mulher nós temos..."
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"É verdade, para além das 11 vezes que fui campeã nas barreiras e das nove no comprimento, ganhei oito vezes os 100, cinco nos 200, quatro no pentatlo e poderia ter sido campeã de Portugal muitas mais.
Os regulamentos não me deixavam fazer as provas que queria, nem estafetas, nem altura. Nas únicas três vezes em que pude ir ao salto em altura nos campeonatos, venci.
Colchões, não havia! Fazia-se um monte de areia para amortecer a queda, saíamos, todas, de lá esfoladas. Não, não treinava muito, só antes dos campeonatos, oito vezes, duas por semana.
Sabe porquê? Nem os oito tostões para o eléctrico me davam, tinha de vir por minha conta. Acácio Rosa, um dos nossos dirigentes históricos, oferecia-me alpercatas para correr e às vezes o dinheiro para os bilhetes que gastava nessas oito vezes..."
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"Eu era da Moita, sempre lá morei. Agora a Moita está grande, mas naquela altura era só campo, repolhos, batatas, os batelões que levavam a hortaliça para Lisboa, meia dúzia de casas.
O que eu passava por ser como era. Havia um rio onde as mulheres lavavam roupa e ao verem-me a caminho do comboio chamavam-me tudo.
Às vezes chorava, de raiva. Depois casei, ainda foi pior, mesmo com o meu marido comigo.
A primeira vez que fui à televisão, em 1958, havia só um café na Moita, as mulheres a espreitar na vidraça, a dizerem: que vergonha, até na televisão ela aparece! Não sei se uma prostituta teria tantos nomes como eu tive, tanto falatório, só porque andava a correr de calções.Eu era uma moça... boazonazinha, por isso os rapazes da Moita vinham a Lisboa às provas só para me verem as pernas.
Às vezes penso que se me tivessem dado condições, tinha sido campeã da Europa, olímpica. Com as minhas qualidades, vontade...
Era empregada na CUF, no departamento de projectos. Depois do trabalho e dos treinos ainda tinha a lida da casa.
No atletismo nunca ganhei nada. Fizeram-me uma homenagem nas Salésias em 1952 e uma festa de despedida no Restelo. Foram as únicas vezes que me deram dinheiro. Sabe para o que deu? Comprar a mobília para a minha casa..."
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No BI de Georgete Duarte a idade: 84 anos
"Na cabeça e no corpo ainda não cheguei aí!" Percebe-se. Há 14 anos que dá aulas de ginástica a um grupo de mulheres no Pavilhão da Moita.
"Muitas delas poderiam ser minhas filhas, netas. A única coisa de que se queixam é de eu puxar muito por elas. No ano passado fomos à caminhada da Meia Maratona da Moita: sete quilómetros. Umas vezes a correr, outras a marchar, eu sempre a dar-lhes gás, tiveram de ir atrás de mim. Está-me no sangue. É o que vou fazer, domingo, na Corrida dos 90 Anos do Belenenses, que é a minha vida. Só tenho pena que as Salésias, de onde vamos partir para o Restelo, onde me coube a honra de colocar a primeira pedra para o estádio, estejam neste abandono. Era tão bom que alguém nos ajudasse..."
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Quando saltou pela primeira vez uma barreira, o seu treinador disse-lhe: "Temos mulher"
Hoje, aos 84 anos, Georgete Duarte ainda recorda a frase que a catapultou para as pistas de atletismo.
Desde pequena que Georgete não se identificava com coisas de meninas. "Queria correr e saltar. Era uma maria-rapaz!", lembrou a antiga atleta a Record.
Depois de ter experimentado várias modalidades (do basquetebol ao ténis de mesa), despertou para o atletismo no Casa Pia, mas foi no Belenenses, em 1944, que começou a brilhar no tartan - ainda no tempo em que os "bicos dos sapatos muitas vezes se espetavam nos pés e faziam-se as provas a coxear" - e a coleccionar títulos: foi recordista nacional nos 80 metros barreiras e no pentatlo, sagrou-se campeã nacional e regional nos 60 m e 150 m, assim como no lançamento do disco e do salto em comprimento.
Ao todo foram 46 títulos em 10 modalidades diferentes que a tornaram na atleta portuguesa mais medalhada, mas sempre com uma grande humildade. "Nunca deixei de trabalhar.
Andava a cair. Treinava-me depois de sair do trabalho e ainda tinha a lida da casa quando chegava", afirmou.
Quando, em 1958, se despediu da alta competição, Georgette nunca se desvinculou do desporto. Há 14 anos que dá aulas de ginástica, às terças e quintas-feiras, a um grupo de mulheres no Pavilhão da Moita. "São minhas amigas e não minhas alunas", afirma a desportista.
Dia 8 de Novembro, Georgete Duarte irá participar na caminhada comemorativa dos 90 anos do seu Belenenses

Das Salésias ao Restelo...pelo futuro!


Das Salésias ao Restelo... pelo futuro!

Dos 15 tostões do autocarro à sardinhada na superior Fonseca e Costa e a razão de tudo.

É dali, das Salésias, que, domingo, vai sair a Corrida dos 90 Anos do Belenenses.
Nasceu, em 2006, de uma ideia de António Fonseca e Costa: «Estávamos nas comemorações do 50º Aniversário do Estádio do Restelo – e eu propus em Conselho Geral corrida que fosse um compromisso entre o passado e o futuro e sobretudo uma forma de sensibilização para o estado de abandono das Salésias. Fez-se. Decidimos continuá-la até que as Salésias sejam devolvidas ao clube ou se tornem em algo mais digno, ao serviço da comunidade.
Parece que com esta vereação da Câmara Municipal volta a haver a esperança, vamos ver – pois custa muito olhar para toda esta degradação, lama, lixo, barracas...»
Antes do tiro, em operação de marketing a puxar ao sentimento, Fonseca e Costa fez questão de passar por lá com alguns históricos de Belém.
Januário Costa, dos melhores especialistas de 400 metros da década de 50, que logo largou em memória: «Ai como era o atletismo! Não tínhamos equipamentos, davam-nos umas alpergatas, de pano com sola fininha, calções que já tinham servido no futebol, camisolas às vezes com buracos. Nas Salésias calcei bicos pela primeira vez, feitos em sapateiros que atarraxavam pregos às solas.
Quando aparecia uma pedra na cinza –o prego entrava, furava-nos os pés.
Em 1953 fui campeão nacional de juniores – e por causa disso o Belenenses começou a dar-me três escudos por cada treino, fazia dois por semana, às terças e quintas, eram 15 tostões para o autocarro de Belém ao Alto do Carvalhão, mais 15 para o regresso. E mais nada.
Mas como nem sempre recebia, o meu pai punha-me os três escudos no bolso e dizia-me: leva, se não te pagarem, devolves. Era o que fazia, claro...»
Para Fonseca e Costa, a Corrida dos 90 Anos do Belenenses – deve ser mais do que uma corrida, espaço para a memória, memórias assim, cruzadas no tempo. «Para além desse traço de união entre o passado, o presente e o futuro, as Salésias e o Restelo, um espaço de unidade e partilha.
E é por isso que apelo a que toda a gente venha, quem não puder correr, caminha. E depois, na superior, vamos fazer uma sardinhada, uma churrascada, recordar, viver – mostrar o que o Belenenses foi e é.
Pode e deve vir gente que foi de outros clube, é óbvio. Temos a certeza de que a Rosa Mota vai estar, a Aurora Cunha só não estará porque, nesse dia, o FC Porto vai homenageá-la pelos 25 anos do seu título de campeã mundial de estrada, no intervalo do jogo com o Rio Ave...»

"Vicente, o golo ao FC Porto, Pelé e o vidro que o cegou
Golo histórico na primeira vez que jogou nas Salésias, cinco contos o seu maior ordenado
Vicente Lucas saiu do carro – e atirou, súbito, os olhos para o campo.
Para baliza ao fundo – contou: «Foi ali, naquela, que eu marquei o meu primeiro golo pelo Belenenses. Ao FC Porto.
No jogo da minha estreia oficial. Queriam chamar-me Matateu II, por causa do meu irmão, eu disse não, que era Vicente, Vicente fiquei.»
Uma velhinha passa - e grita-lhe: «Ai meu querido, o homem que não deixava Pelé jogar.» Há no sorriso de Vicente - um traço desarmante de timidez e um murmúrio: «É o que toda a gente diz, sempre, isso do Pelé.
A primeira vez foi no Estádio Nacional – e o Pelé ficou logo no meu bolso. Depois, foram mais quatro vezes.
Até que chegou aquele jogo do Mundial de 1966. Dizem que ele, mal me viu - ficou assustado. Não sei. Só sei que lhe disse: Joga o teu futebol, que eu vou jogar o meu! Não, não tinha nenhum segredo.
Com ele, fiz o que fiz com toda a gente: nada de porrada, só antecipação, eu nunca fui de bater...»Um ano depois, o drama. À beira do Estádio do Restelo: «O condutor de outro carro fez manobra perigosa, para não o apanhar bati num poste, o vidro do pára-brisas atingiu-me o olho direito, cegou-me. Tinha 30 anos, não mais pude voltar a jogar.» Organizaram-lhe festa de despedida – com a receita comprou dois andares, montou café-tabacaria.
O negócio fracassou, teve de vender os andares - passou a treinador. «O quê? Se não fosse o acidente, poderia estar agora rico?! Não! Naquela altura não se ganhava nada de especial, o meu maior ordenado no Belenenses foi cinco contos. Não havia contratos para o estrangeiro, o Salazar não deixava, nem ao Eusébio.
Como é a minha vida agora? Normal! Vivo da reforma – e desta paixão pelo Belenenses, que é até morrer. Só quando não posso é que não passo todos os dias pelo Restelo. E desejo muito que toda a gente que, como eu, tem o Belenenses no coração faça esta corrida...»

" Argentina de Matateu por causa de A BOLA
Filha está a escrever livro «íntimo» sobre o... «Terror dos Guarda-Redes»
Chama-se Argentina, Argentina Lucas. «O meu nome é o que é por causa de A BOLA, sabia?
Em 1954, o meu pai estava a jogar contra a Argentina – e ao intervalo foram dizer-lhe que eu tinha nascido. Ficou eufórico - e marcou um golo.
O jornalista brincou com ele: agora, até podia chamar Argentina à menina, ficava giro. Disse logo - que era mesmo isso, Argentina fiquei.»
O pai é Matateu, o mito do Belenenses – que explodiu nas Salésias, ainda. Foi o primeiro jogador de futebol do clube a ter automóvel - e, por ali, para além de se recordarem as lágrimas a soltarem-se por causa do golo do sportinguista Martins que, a quatro minutos do fim, tirou o título de campeão de 1954, deu-o ao Benfica, de Matateu se contaram outras coisas.
Que havia dias em que bebia 30 cervejas – e que nas Salésias, tinha escondida, na casa de banho, atrás da sanita, garrafinha que tinha de beber, sagrado, sempre, ao intervalo. Bebia e nunca nenhum treinador descobriu. «Era o seu doping!»
Outras revelações promete Argentina. «Estou a escrever a biografia do meu pai. As histórias mais profundas, mais íntimas, muito engraçadas, hilariantes até – que ninguém sabe. Ainda não tenho editora, o livro é para 2010, há tempo. Ah! E sabe que também fiz atletismo? Comecei aos 14 anos, os meus treinadores foram o Matos Fernandes e o Rui Mingas. Depois, a minha mãe e o seu segundo marido foram para Angola - e eu não continuei porque dizia que desporto só fazia no Belenenses. Era birra por amor à camisola. Também tinha andado no basquetebol, era lançadora de dardo e peso, para correr não dava muito, era um bocadinho gordinha...»

Futsal: Azuis querem caçar leões no inferno do Restelo. Em dois anos e meio, azuis perderam uma vez em casa


FUTSAL: Azuis querem caçar leões no inferno do Restelo
Paulo Martins apela à presença dos adeptos para ajudarem na conquista dos três pontos Evandro Souza evoca lema leonino para mostrar a vontade de triunfar Lotação vai esgotar.


O Restelo vai ser o palco de muitas emoções amanhã à tarde.
Quando o relógio marcar 15.05 horas será dado o pontapé de saída do jogo mais importante da 11.ª jornada.
O Belenenses recebe o Sporting na condição de líder, mas sob a ameaça de ser ultrapassado pelo Benfica (caso vença o Onze Unidos soma 29 pontos) vê-se na obrigação de ganhar.
A jogar em casa, com o apoio dos seus adeptos, o Belenenses tem-se revelado implacável, por isso, Paulo Martins deixa um repto aos simpatizantes do seu clube.
— As expectativas para este jogo são as melhores. A jogar em casa somos muito fortes, é muito difícil surpreenderem-nos no Restelo, principalmente porque contamos com o forte apoio dos nossos adeptos, que tem sido muito importante e espero que no sábado compareçam em força no pavilhão.
O ala Paulo Martins não começou bem a época, fruto de algumas mazelas físicas, mas tem vindo a subir de forma e cada vez mais é peça importante no esquema de Alípio Matos.
Para a recepção aos leões o jogador destaca a união da equipa como ponto forte e alerta para o perigo de deixar Fernando Cardinal — o melhor marcador do campeonato, com 17 golos — sozinho perto da baliza.
«Só a vitória nos interessa, somos uma equipa muito unida e isso pode ser a nossa chave para alcançar os três pontos. O Sporting vale pelo seu todo, mas temos de ter especial atenção ao Cardinal, que consegue marcar com muita facilidade», disse.
Jogar com raça.
Do lado do Sporting o grito de guerra é dado pelo luso-brasileiro Evandro Souza, que se encontra em excelente plano. O ala reconhece que o Sporting tem tarefa bastante complicada no Restelo, mas adopta o lema leonino para mostrar a vontade que tem de ganhar.«Sabemos que não vamos ter vida fácil diante de uma equipa muito competitiva.
Mas com entrega, esforço, dedicação e muita raça penso que podemos sair vitoriosos deste jogo», afirma.Recorde-se que os ingressos para este jogo custam três euros para os sócios dos Belenenses e seis para o restante público. No exterior do pavilhão será instalado um espaço de diversão para os mais novos.


Alípio Matos suspenso por um mês
O Conselho de Disciplina da FPF deliberou suspender o treinador do Belenenses, Alípio Matos, por um mês, na sequência de declarações proferidas há cerca de um ano, no final do jogo com o Módicus, alegando que o técnico violou o artigo 61.º do Regulamento Disciplinar, referente a ameaças, juízos ou afirmações lesivas da reputação de entidades da estrutura desportiva.
A BOLA sabe que na sequência desse jogo o Belenenses solicitou ao Conselho de Arbitragem da FPF para não voltar a nomear para os seus jogos a dupla Mário Silva e José Órfão, da AF Viana do Castelo, assim como António Teixeira e José Ramos, filiados na mesma associação, por se sentirem injustiçados com o juízo dos árbitros.
Oficialmente o clube do Restelo não quis pronunciar-se sobre esta decisão do Conselho de Disciplina.
Contudo, o técnico do Belenenses pode sentar-se no banco no jogo com o Sporting, uma vez que o período suspensivo inicia-se na próxima segunda-feira.

Equipa do Belenenses da época 2009/10 em cromos da Panini (III)


Diakité, Devic, Cândido Costa, Assis, Celestino, André Pires, Diego e Rodrigo Arroz.

Nelson e Assis


NELSON Alexandre Gomes Pereira - Torres Vedras, 20/10/1975
ASSIS Giovanaz - Giribanti (Brasil), 04/10/1989
Guarda-redes do Belenenses da presente época, 2009/10

Coisas Simples do Belém

 


Mercedes Benz 180 - os táxis dos anos 50/60 - alcunhado de «Mercedes Matateu», devido ao aspecto da parte dianteira, assim como às características que lhe estavam associadas, resistência e robustez.

Chávena de porcelana da Vista Alegre. Tendo em conta o modelo do emblema que exibe terá sido fabricada, algures, entre a década de 30/40.

Em Valença do Minho adepto apareceu vestido com duas camisolas - O dia especial do Pura

Bancada central cheia, castanhas assadas, febras, vinho novo nas tigelas.
Um verdadeiro clima de festa no Estádio Dr. Lourenço Raimundo, em Valença do Minho, ali com a Espanha (ou a Galiza, como sublinhou alguém nos sinais de estrada) tão perto.
Para José Carlos Mendes, ou o Pura, que anuncia uma surpreendente idade de 57 anos, o dia foi ainda mais especial.
Porque é de Valença mas adepto do Belenenses e foi a primeira vez que viu a equipa azul jogar na sua terra.
Já a tinha visto por perto, em Ponte de Lima, mas ontem foi mesmo o concretizar de um sonho.
Por isso, rasgou as camisolas do Sport Clube Valenciano...para as coser de imediato.
Com uma metade para cada clube num dois em um surpreendente.
"foi a providência da sorte que juntou estas duas equipas do sorteio, hoje sei que vou sempre ganhar alguma coisa", referiu a Record.
Ganhou a paixão à distância.  (jornal Record edição de hoje, 23/11/2009)

Serafim, igual a ele mesmo, sempre em acção

Uma jogada na grande área do Belenenses, com golpe de cabeça por parte de Serafim das Neves, muito enérgico. Martins como que se agacha, receoso, vendo-se no outro lado Pinto de Almeida e Jesus Correia

João Nunes: um extremo endiabrado, rápido e dinâmico, chuta às balizas com decisão

"Nunes, um avançado que veio do Vitória de Setúbal. Bom jogador. Pequenino mas muito mexido" Joaquim Caetano

Sério, Caetano, David Matos e Serafim das Neves

"Quatro bons amigos: Sério, Caetano, David Matos e Serafim das Neves Já estão passados sessenta anos mas os amigos não se esquecem" Joaquim Caetano

Sidónio, jogador valente que nunca virava a cara a nada

Na marcação de um canto, Sidónio causa assombro ao elevar-se mais que todos, rematando estupendamente de cabeça, mas a bola não lhe faz a vontade e sai para fora.
Vicente e Sidónio conjugam os seus esforços!


Sidónio, a caminho das balizas, encontra no defesa Primo um adversário tenaz.



"(...) Sidónio, avançado-centro (como se chamava antigamente) que veio do Sporting para o Belenenses. Nestas imagens vê-se toda a pujança com que se entregava ao jogo. Jogador valente não virava a cara a nada. (...) Joaquim Caetano

Equipa do Clube de Futebol Marítimo "Os Lacobrigenses", da época 1944/45

(...) foto do Clube de Futebol Marítimo "Os Lacobrigenses", filial nº 6 do vosso Belenenses, fundado nos anos 20 (1923 ou 26).
Nos anos 30 e 40 o Marítimo competia no Regional barlaventino, juntamente com o Esperança, Sport Lisboa e Lagos e formações de Portimão e Silves.
Na foto está a equipa do Esperança de pé, ainda com o equipamento "á Sporting" que utilizou até aos anos 60,e em baixo o Marítimo.
A foto será de 44/45 tirada no Campo do Rossio da Trindade, recinto do Esperança de Lagos (...)

Foto (e texto) enviada pelos amigos do ARQUIVO C.F.E.L.

Pires: rijo, coriáceo, forte como uma rocha

Pires, como todos os jogadores de primeiro plano, tem no futebol muitos motivos de valorização pessoal. As viagens, então, além do seu aspecto turístico, sempre agradável, proporcionam inestimável fonte de convívio social e de cultura. Aqui vemos Pires, com os seus colegas do Belenenses, na Ilha da Madeira.

Pires: o defesa "granitico" do Belenenses

PRINCIPIOU NO SERPA F.C.
Francisco Torrão Pires nasceu em Serpa no dia 8 de Março de 1931. Fez exame de instrução primária na escola local e iniciou-se no futebol com a "clássica" bola "trapeira". Só aos 17 anos ingressou num clube. O Serpa, naturalmente.
Estreou-se no ano seguinte, a extremo direito, marcando um golo - contra o Desportivo de Beja. Em 1949 o Serpa estava na 3ª divisão e Pires começou a dar nas vistas. 
CONSAGRAÇÃO
As qualidades e o valor de Pires tiveram já justa consagração. Foi escolhido por Gustavo Teixeira para representar Lisboa no jogo contra Madrid (na gravura o seleccionador lisboeta faz uma prelecção aos seleccionados, vendo-se Pires entre Matateu e Águas, seguido de Travaços e Figueiredo, e o dr. Tavares da Silva escolheu-o para a equipa nacional, no jogo-eliminatória do campeonato do Mundo, em Belfast, contra a Irlanda.

MALEABILIDADE
Pires sabe que, se a sua condição "granítica" é uma qualidade de primeira ordem, não ignora, por outro lado. que ser forte é insuficiente para bem jogar futebol.
E assim treina-se persistentemente no sentido de conseguir a indispensável maleabilidade.
E consegue ser a um tempo "granítico" e maleável, numa admirável junção de predicados que fazem dele um magnífico jogador de futebol. 
À TERCEIRA VEZ INGRESSOU no BELENENSES
Em 1951 Serafim das Neves, uma glória do Belenenses, abordou-o para jogar na equipa azul. O pai não deixou. Em 1952 - nova tentativa igualmente frustrada. Mas em 1953 - Pires atingiria a maioridade, insistiu e foi às Salésias fazer exame.
Ficou bem...e ficou a jogar no Belenenses. Estreou-se conta a Casa Pia (5-1), alinhando a médio, lugar onde Buchelli o fixou.
E hoje Pires é um dos esteios da equipa azul, com a qual foi a Paris, Angola, Madeira e Sevilha.

Moreira: um exemplo a seguir


AO LADO DOS "ASES"
Ainda um desconhecido há dois anos, Moreira, revelação da época anterior, magnífica confirmação da temporada em curso, viu-se, num ápice, lado a lado com os ases.
Ei-lo aqui, ao lado de Matateu, seu companheiro de equipa, e de Vasques, do Sporting, com o qual, nos campos, tantas vezes entra em despique.


UM EXEMPLO A SEGUIR
Moreira segue a sua preparação com extraordinário entusiasmo e aplicação.
É um exemplo a seguir. Não falta a um treino.
E nos treinos trabalha tanto ou mais ainda do que nos próprios desafios. 
Ele sabe - todos deviam saber - que tudo depende dos treinos!

Moreira do Belenenses: uma das revelações da última época



NAS AREIAS DOURADAS DE CARCAVELOS
Raúl Francisco santos Moreira nasceu em Carcavelos, a 2 de Março de 1934.
Por ali, no areal de ouro da mais bela praia da Costa do Sol, um pequeno alourado, cabelos da cor da areia, olhos da cor do mar, preferia a bola aos prazeres da água, as longas corridas, aos mergulhos nas ondas.
E tinha grande habilidade, o miúdo! tanta que, em breve (em breve é como quem diz, que ele já era um rapagão!) passava a jogar oficialmente, no Desportivo de Carcavelos.

SEMPRE EM ACÇÃO
Bola em poder de um companheiro; bola em poder dos adversários; bola onde quer que ela esteja - e Moreira está sempre em acção.
Não se limita a estar atento. intervém sempre. Está permanentemente em jogo.
E foram essa e outras qualidades que conduziram Moreira à internacionalização.
Primeiro, na equipa militar - contra a Itália, Egipto e Turquia, no Torneio de Lisboa, e contra a França, no país gaulês.
Depois, na equipa B, contra o Sarre.
Daqui por um ou dois anos - na selecção nacional A, não temos dúvidas.

SEMPRE ATENTO!
Moreira, tem mais recursos. Bom dominador da bola, com magnífico tempo de antecipação e facilidade de desarmar, o defesa belenense possui ainda dois predicados de muita valia, que se interligam para fazer dele um dos melhores "backs" laterais de Portugal.
Está sempre atento - e esse é o primeiro desses predicados.
A sua atenção não se desvia um segundo do jogo - e isso proporciona-lhe a vitória em muitos lances.

UM SONHO TORNADO REALIDADE
No Desportivo de Carcavelos, Moreira impôs-se. Todos o admiravam.
Mas o jovem futebolista queria ir mais longe. Sonhava com a Cruz de Cristo.
E o seu sonho tornou-se bela realidade. Ingressou nos juniores do Belenenses.
Desde então a sua carreira tem sido fulgurante. E quando Serafim abandonou a actividade, surgiu o nome de Moreira como seu substituto.
E Moreira não desiludiu. Bem ao contrário!

Dimas, a locomotiva do expresso azul

O "Expresso azul"
Dimas está sempre em jogo e se, por vezes, os planos tácticos o obrigam a posição recuada, nunca o seu extraordinário poder de arranque deixa de se manifestar-se.
Onde está a bola estão os seus olhos - está ele todo, pode dizer-se.
De tal maneira a sua velocidade é explosiva, que houve quem lhe chamasse a "locomotiva" ou o "expresso de Belém".

Na avançada de Belém!...
Matateu, Ricardo Perez, Dimas, Francisco André e «Tito» 
Dimas, na avançada de Belém, é, hoje por hoje, elemento indispensável. Seja a extremo (direito ou esquerdo) ou a interior, o excelente jogador tem o seu lugar no quinteto. Aqui o vemos na posição de "eixo de ataque". Porque não - um dia?

José Pereira: elegante a defender e estilista de primeira água proporciona das mais belas imagens fotográficas

Notas biográficas de José Pereira

José Pereira nasceu a 5 de Setembro de 1931, na vila de Torres Vedras.
Iniciou-se nos juniores do Belenenses em 1949-50. Na época de 1951-52 foi cedido ao Grupo Desportivo da Costa da Caparica,
regressando aos "azuis" no ano seguinte.
Na reserva do Belenenses durante algumas épocas (Sério era um "sério" obstáculo ás aspirações do jovem guarda-redes) José Pereira acabou por conquistar definitivamente o lugar.
Jogador valente, de reflexos rápidos, de excelente colocação na baliza, José Pereira distingue-se especialmente pela elegância das sua atitudes - a defender.
Como nenhum outro, José Pereira, lembra o célebre António Roquete. Nas "bolas altas", então, a "souplesse" do guardião belenense é verdadeiramente notável, como se ilustra neste pequeno documentário da sua vida futebolística.
Uma única vez internacional e pela equipa B, contra o Sarre (vitória por 6-1).
Mas como suplente à selecção, José Pereira esteve já incluído na representação portuguesa nos jogos com o Luxemburgo, a Suécia, a Turquia, o Egipto, e no Lisboa-Madrid (selecções regionais) de Dezembro último.
Pelo Belenenses, José Pereira jogou em Paris (Taça Latina de 1955). na ilha da Madeira e em África.
Com 24 anos apenas, a José Pereira está reservado um futuro que não é difícil prever brilhante.
E daqui por umas quantas épocas mais, não muitas, o guarda-redes de Belém será mais vezes chamado à efectividade, se não perder qualidades, como é de admitir, e antes, as apure.
O Guarda-Redes das belas imagens fotográficas
Porque elegante a defender, estilista de primeira água, José Pereira proporciona aos fotógrafos alguns dos mais bonitos "clichés" e, ao futebol, magníficas, das mais sugestivas fases em que a beleza das imagens parece desafiar os artistas.
Mas, é também verdade, a sua elegância a defender não excluir vigor, antes, em cada lance, José Pereira evidencia a sua forte compleição atlética e a sua coragem como jogador de futebol.

José Pereira: o guarda-redes elegante



JOSÉ PEREIRA e MATATEU

Nos clubes, como em todos os sectores em que se reúnem muitas pessoas - por isto ou por aquilo, algumas delas criam amizade mais forte do que a camaradagem que a todos vincula.
No Belenenses, na primeira equipa do Belenenses, é muito curiosa, por firme, a amizade entre José Pereira e Matateu.
Acamaradam, especialmente, nos treinos, nos estágios, e quando em viagem, fazem o possível por arranjar lugares perto um do outro.
E têm sempre algo de novo para contar e estão satisfeitos.
Nestas imagens os vemos, num treino nas Salésias e no avião que os levou a terras do Médio-Oriente, onde, pela certa, viveram juntos alguns dos mais curiosos momentos da sua carreira e onde, também pela certa, mais radicaram a sua amizade.

DESOLAÇÃO
...Mas na vida de um guarda-redes há sempre uma...bola que passa!
Nem tudo (a sério), são rosas, nem tudo são sorrisos.
São mais até as vezes em que o rictus de esforço e de sofrimento se estampa em seus rostos.
Um guarda-redes é o "último" jogador da equipa, aos olhos de todos o mais responsável pelos golos, ainda que as culpas pertençam aos companheiros da defesa, quando calha a toda equipa.
E os guarda-redes brioso sentem e sofrem esses golos, principalmente se eles têm influência decisiva nos resultados dos jogos.
E José Pereira, no lance que a fotografia documenta com rara felicidade, espelha todo o desgosto que o golo consentido lhe provocou.
Verdadeiramente desolado, José Pereira, parece nem ter ânimo para se erguer no terreno.


SORRINDO À BOLA
O guarda-redes do Belenenses, José Pereira, sem dúvida tem um golpe de vista privilegiado...
Aqui o vemos, confiante, sorrindo à bola, que a quantos olham a fotografia e assistiram ao lance, parecerá encaminhada para as redes.
José Pereira nem tenta a defesa.
Não se perturba. limita-se a seguir a trajectória da bola com uma ligeira inclinação do corpo.
O perigo é só aparente - e José Pereira sorri. Sorri, satisfeito - que desta vez os fotógrafos não podem colher um dos belos instantâneos que as suas atitudes proporcionam.
Mas o fotógrafo, apesar de se tratar de um lance gorado, não falhou a fotografia - e fez bem.

Vicente, o jogador do futuro

A vinda de Vicente para Lisboa e para o Belenenses, deve-se a seu irmão Matateu.
E se este foi um caso raro de simpatia e popularidade espontâneas, o seu irmão tem demorado mais a impor o seu nome.
Matateu tinha mais fama antes de vir para Lisboa. Matateu estava jogador mais feito. Matateu tinha mais anos de idade e mais experiência.
Mas Vicente, de quem o mano garantia a categoria, longe de desiludir, confirmou, a pouco e pouco, quanto dele dissera Matateu e haviam dito quantos o conheciam.
Jovem, muito jovem (Vicente nasceu em Munhuana, pertinho de Lourenço Marques, a 24 de Setembro de 1935) tem, porém, ainda muito tempo para brilhar...
Todos são amigos dele! Os companheiros de equipa estimam-no. Todos são amigos. e não só entre os colegas. Vicente soube granjear amizades.
Os adversários - nem um só pensa de maneira diferente - tem por ele viva simpatia.
É que Vicente é um bom e leal camarada. Incapaz de um gesto feio, de uma atitude irreverente. E sobre um profissional sério - e um jogador brioso.

À BEIRA DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Vicente esteve já à beira da internacionalização, chegando o seleccionador a hesitar entre o seu nome e o de Juca...
Entretanto, o hábil médio do Belenenses não tem pressa.
E para seu orgulho alinhou já, embora só há dois anos esteja em Portugal, 4 vezes pela selecção militar e duas vezes pela equipa nacional B.
O JOGADOR DO FUTURO
É uma estrela que desponta - mas já uma magnifica realidade no futebol português.
Hoje, Vicente, é dos nossos melhores médios. A sua juventude, a sua facilidade de passe, o seu belo domínio de bola - tudo nele concorre para acreditá-lo como jogador de classe.
Faltam-lhe apenas dois anos mais, se tanto, no contacto com o futebol continental e internacional.
Passado esse período, Vicente formará com Coluna e com Palmeiro, e com mais dois ou três da sua idade, uma plêiade de valores indiscutíveis na selecção nacional.
E os anos que se seguem, confirmando esta previsão, revelarão todo um jogador de futebol - dos pés à cabeça: Vicente Lucas.

Vicente Lucas, com a Família

A família de Vicente, em Lisboa, é o irmão e a cunhada. E Vicente sente-se bem, naturalmente, ao pé dos seus.
Para mais, o "mano" tem uma filha, que é todo o orgulho do tio Vicente.
São horas esquecidas, a ver brincar a garota e - porque não? - a participar nos seus folguedos como se, também ele, estivesse na primeira infância.
Na fotografia, eis o Vicente, olhando enlevado o casal "Matateu", e pensando - quem sabe? - no momento em que ele próprio constituirá família entre nós

O Senhor Lucas da Fonseca...

O SENHOR LUCAS DA FONSECA
Aquele azougado jogador, de estatura meã, quase atarracado, suando as estopinhas por esses campos fora; descontraído, lasso de movimentos, ou rápido como flecha; negro de cor, conhecido e celebrizado por Matateu - é um senhor distinto de maneiras, elegante no seu trajar. É o Sr. Sebastião Lucas da Fonseca. Na fotografia o vemos, ao lado da esposa, que o olha, enlevada.
No seu estilo inconfundível
É assim neste admirável estilo, jogando a valer (à esquerda) ou em simples treino (à direita) que Matateu dispara os seus "tiros de morte".
Repare-se no vigor da sua expressão em ambas as imagens e também na sua exuberante musculatura.